O futuro é verde

Uma parceria entre poder público, empresa privada e terceiro setor – mais precisamente, governo federal, a fabricante de carros Toyota e a organização não-governamental SOS Mata Atlântica – deve garantir o futuro da Costa dos Corais, uma das áreas mais belas do Brasil. A barreira de recifes abrange três municípios de Pernambuco e oito de Alagoas e abriga 185 mil espécies de animais, entre elas, o peixe-boi-marinho, o mamífero aquático mais ameaçado de extinção no Brasil.

A Costa dos Corais já é considerada uma Área de Proteção Ambiental (APA) desde 1997, mas por ter se tornado um dos polos turísticos que mais crescem no País sem planejamento ambiental, enfrenta dificuldades para ser preservada. Além disso, como o conceito de APA engloba não apenas a proteção de corais, mas de todo o ecossistema, em pouco tempo a falta de recursos federais se tornou evidente.
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O projeto Toyota APA Costa dos Corais cria um fundo de investimento para garantir apoio à gestão, proteção e sustentabilidade da área, além de financiar atividades de comunidades locais que já atuam na conservação da região, e estimular negócios sustentáveis ligados ao turismo e à pesca.

O primeiro passo foi dado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão do Ministério do Meio Ambiente), que, junto à SOS Mata Atlântica, desenvolveu um projeto de proteção e sustentabilidade para a Costa dos Corais. Aproveitando a bem-sucedida experiência que obtiveram em Tamandaré (PE), governo e ONG correram atrás de um patrocinador. Vale lembrar que Tamandaré foi a primeira área de proteção de recifes de coral que teve apoio dos moradores locais, incluindo pescadores, que antes eram contrários a qualquer limitação de suas atividades.

A Toyota, que já desenvolve projetos de preservação ambiental no Pantanal e na Mata Atlântica, entrou não só com recursos financeiros, como também abraçou a causa. De acordo com o vice-presidente da Toyota Mercosul, Luiz Carlos Andrade Jr., o patrocínio da empresa vai se estender por dez anos, prazo que todos os parceiros consideram ideal para que a APA seja autossustentável, em todos os aspectos. “Pretendemos, junto aos nossos distribuidores, que estão 90% na região da Mata Atlântica, estender a atuação do projeto”, afirma Andrade.

A Toyota deve aplicar R$ 1 milhão por ano no projeto, sendo metade desse valor colocada em um fundo de perpetuidade – a gestão e execução financeira desse fundo ficará a cargo do SOS Mata Atlântica. A expectativa é que, ao final de dez anos, a APA da Costa dos Corais disponha de aproximadamente R$ 7 milhões para garantir a continuidade das atividades de maneira sustentável.

E não é pouco o que precisa ser feito. Para a implantação efetiva do Plano de Manejo da Costa dos Corais pelo ICMBio, será necessário pessoal capacitado, bases operacionais, carros, equipamentos de fiscalização e, evidentemente, de barcos. E tudo custa dinheiro. Com os novos recursos, a ideia dos três parceiros é estimular que universidades desenvolvam projetos de pesquisa científica e que sejam ampliadas as áreas de exclusão, onde o acesso humano é proibido – hoje há apenas duas: uma em Tamandaré, com 12 anos de funcionamento e com resultados excepcionais em termos de preservação e recuperação da fauna e flora marinhas; e a outra do Rio Tatuamunha, em Porto de Pedras (AL), habitat do peixe-boi-marinho, onde os pescadores são hoje os guias que levam os turistas em suas jangadas e impedem a pesca em áreas protegidas.

Para Pedro Lins, do ICMBio, que trabalha na região há mais de dez anos e chefia a APA da Costa dos Corais, a experiência de Tamandaré prova que é possível integrar comunidade local com projetos de preservação. Ele afirma que os pescadores, antes contrários à área de exclusão, hoje são os primeiros a admitir que a quantidade e a diversidade dos peixes aumentaram, assim como o volume de peixe pescado. “É claro, o peixe se reproduz mais na área protegida e depois circula em toda a região. Assim, a pesca, que antes era cada vez mais escassa, melhorou”, conta, enquanto mostra o trecho protegido, a bordo de um catamarã usado no turismo ambiental.

REFLORESTAR COM GOIABEIRAS E JATOBÁS

porJoão Luiz Vieira

Ninguém que estava em São Paulo em 16 de outubro se esquece da tormenta que caiu sobre o Estado naquele dia. A chuva não deu trégua, e chegou a anoitecer enquanto ainda era tarde em várias cidades. Isto, desde o litoral até o extremo oeste, passando por Sorocaba, município a 95 km da capital paulista, onde na manhã daquele domingo 7.800 pessoas plantavam mudas de árvores na entrada da futura fábrica da Toyota. Foram literalmente as primeiras sementes do Projeto Morizukuri no Ocidente, palavra japonesa que significa “Criar Floresta”.
Aquelas pessoas estavam debaixo de chuva, mais que isso, com lama cobrindo as botas de borracha até os joelhos, mas nenhuma, absolutamente nenhuma delas com expressão de descontentamento. E olha que, no grupo, além de executivos e funcionários, havia muitos familiares, era dia de descanso e, claro, ninguém iria ganhar hora extra por estar ali.
A grande maioria descendente de japoneses, talvez isso explique a dedicação, estava amassando barro por uma causa. A dúvida que ficou no ar é: será que se a montadora fosse italiana ou brasileira haveria um grupo tão expressivo debaixo de um semidilúvio plantando goiaba ou aroeira e transformando a iniciativa pioneira e inédita no Ocidente?
A intenção do projeto é nobre: reflorestar. Cerca de 80 espécies foram selecionadas e cuidadosamente semeadas para cercar a fábrica. A escolha teve a ver com a adaptação do solo e posicionamento do terreno e, ao todo, foram 80 mil mudas. Além de goiaba e aroeira, já citadas, foram incluídas jatobá, joá, paineira e tamboril.
Todo o processo foi acompanhado pelo biólogo Akira Mitawaki, 83 anos, que esteve pessoalmente em Sorocaba no domingo, e pela equipe da Universidade Federal de São Carlos. As mudas têm entre 30 cm e 80 cm de altura e, diferentemente da metodologia tradicional, em que se planta a cada 6 m2, no método Morizukuri, a ideia é plantar três a cada 1 m2. Além disso, os buracos são abertos aleatoriamente, sem alinhamento, para criar uma floresta densa.
A iniciativa já foi posta em prática no Japão, na Índia (em Bangalore, 300 mil mudas) e na Tailândia (Bangcoc, 35 mil mudas). Graças à técnica desenvolvida pelo biólogo, as mudas, em vez de crescerem em cem ou 200 anos, podem chegar à fase adulta em até duas décadas. O segredo? Ele não conta. É esperar para ver. “Pensava que as pessoas iriam fugir no meio da chuva”, disse o biólogo. “Mas acreditaram no projeto.” As fotos desta matéria estão aí para provar.

Esse tipo de turismo, de baixo impacto, é um dos segredos de Tamandaré que será levado aos novos locais de exclusão. “Quando eu tinha 15 anos, ia de caiaque até os recifes para surfar. Um dia, uma lancha do IBAMA me recolheu e só me liberou depois de eu ouvir um longo sermão sobre preservação ambiental e minha mãe veio me buscar na sede de Tamandaré”, lembra o geógrafo Danilo Marx, de 28 anos. O sermão ambiental valeu. Hoje, ele é um dos associados de uma empresa de turismo ecológico que também atua como agente ambiental.

A próxima área de exclusão será implantada em São José da Coroa Grande, na divisa de Pernambuco com Alagoas. E esse local onde o acesso aos corais será proibido foi escolhido, segundo Pedro Lins, com a participação de toda a comunidade. Ele aposta que vai dar certo e sabe que agora a Costa dos Corais tem futuro.

Carro elétrico
Além de anunciar o lançamento do projeto Toyota APA Costa dos Corais em Maragogi, no Alagoas, no início de outubro, a empresa promoveu, na mesma ocasião, o teste para a imprensa do carro híbrido Prius, nas estreitas e sinuosas estradas do paradisíaco litoral da Costa dos Corais. A Brasileiros participou. Ícone dos modelos híbridos, o Prius é o primeiro carro da história com motor a gasolina e elétrico a ser produzido em escala comercial. A quarta geração do veículo será lançada no Brasil no segundo semestre de 2012.

Desci a Rua Augusta a 120 por hora, botei a turma toda do passeio pra fora“, cantava um dos primeiros rocks brasileiros, bem lá atrás, no século passado. Hoje, Ronnie Cord, autor da música, dificilmente conseguiria andar a mais de 40 km/h na congestionada Augusta, em São Paulo. Mas se estivesse dirigindo um Prius e se por milagre, a Augusta estivesse livre de carros, passaria fácil dos 120 km/h, com a segurança que os carros de 60 anos atrás nem em sonhos ofereciam. Apenas um problema: pensaria estar parado. O carro da Toyota, que usa um motor de 1.8 cc acoplado a um motor elétrico de 650 Volts, totalizando 138 HP de potência, não faz barulho nem a 100 km/h.

A máquina, de linhas aerodinâmicas, impressiona pelo visual e conforto interno (passageiros com 1,90 m no banco de trás cruzam as pernas sem problemas). Mas é em movimento que o Prius assusta quem está dentro e, certamente, também quem está distraído na rua. Com quase 4 m de comprimento e pesando 1.805 kg, o carro se move praticamente sem fazer barulho, seja apenas com o motor elétrico funcionando ou com os dois motores em ação, controlados por um computador.

O novo motor à gasolina, bem mais potente que o dos modelos anteriores, funciona querendo ser tão silencioso quanto o elétrico. E logo estamos a 70 km/h, fazendo as curvas de Maragogi grudados no chão. Uma reta mais longa e a estrada vazia – e, novidade, bem pavimentada – estimulam uma arrancada. Sem barulho, o Prius chega a 130 km/h. Era hora de frear e voltar, afinal de contas a fila de jornalistas para testar a novidade era grande. A Toyota pretende passar os próximos oito meses testando a frota de Prius que trouxe para o Brasil, visando adaptá-lo às nossas “condições”. Uma coisa já é certa: a suspensão terá de ser reforçada. Afinal, este é o País do futebol, dos quebra-molas e das estradas e ruas esburacadas.


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