O primeiro dia de Cibercultura 10+10 chegou ao fim. Como já era anunciado, a quinta-feira foi um dia totalmente teórico, para se entender e debater como nosso mundo digital se configura hoje em dia, o que aconteceu no passado para chegar a realidade atual e o que fazer para garantir um futuro cibernético seguro e rico.
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A parte da manhã foi destinada ao passado. Pierre Lévy, autor do livro Cibercultura, foi o protagonista e fez uma pequena linha do tempo sobre a origem da comunicação virtual. Seu livro, grande catalisador para que se entendesse o amadurecimento da internet, foi o tema central da discussão.
Após breve pausa, os palestrantes voltaram a se reunir às 15 horas. O assunto: o que fazer para que consigamos manter a internet livre e ao mesmo tempo segura, e o que esperar para os próximos 10 anos.
Uma interessante iniciativa mostrou o cunho colaborativo e social do evento. Além de possibilitar um link ao vivo para os interessados, o Cibercultura 10+10 também promoveu um chat no microblog Twitter, no qual os participantes poderiam interagir não só com os palestrantes, mas também com a plateia presente, já que atrás da mesa onde se sentaram os protagonistas, foi posicionado um telão imenso para que todos pudessem ver tudo o que estava rolando no fórum.
Pierre Lévy mais uma vez abriu a discussão e falou sobre seu famoso conceito de cibercultura, que para ele, muito resumidamente, nada mais é do que a inteligência coletiva e social.
Abrindo o assunto para o restante da mesa, Lévy disse acreditar que no futuro teremos a possibilidade de codificação dos sentidos, algo que para ele possibilitaria uma melhor relação virtual. Apesar disso ainda parecer uma realidade muito distante, o assunto rendeu na mesa. O ex-Ministro Gilberto Gil evidenciou sua alma de músico e afirmou: “A máquina nunca será capaz de suingar e improvisar como nós!”. Foi o bastante para pipocarem mensagens no telão atrás dos palestrantes.
Percebendo que o assunto tinha passado muito da proposta inicial, os palestrantes voltaram ao presente para debater o que é possível fazer para que possamos garantir uma internet livre. Sérgio Amadeu, grande defensor do software livre, falou da importância da discussão, atualmente mais em pauta do que nunca. “O futuro da internet depende essencialmente do caminho que tomaremos agora”. O pesquisador e professor André Lemos complementou: “E agora estamos em uma luta de igual para igual, coisa que não aconteceria alguns anos atrás”.
Com o debate esquentando, a mesa resolveu entrar na polêmica da internet livre. O assunto foi a lei proposta pelo senador Eduardo Azeredo, que pretende criar uma espécie de delator na rede. Por exemplo, se uma gravadora rastreia que um usuário ligado ao Speedy compartilhou arquivos de seus direitos, ela pode ir à Justiça pedir a identidade do sujeito, que terá todos os seus passos na rede monitorados. Além disso, a lei prevê a proibição de compartilhamento de vídeos em sites especializados como o Youtube, se as licenças não estiverem detalhadas. Todos na mesa defenderam ferozmente o livre compartilhamento na rede. José Murilo Jr. encerrou falando sobre possíveis iniciativas públicas que estão sendo discutidas em projeto do qual faz parte, para que seja possível o compartilhemento de softwares totalmente livres.
Dez minutos antes do término, com os palestrantes já visivelmente cansados, um fato no mínimo curioso aconteceu. No meio de uma conversa, eis que se levanta um espectador da plateia, um pouco agitado, pedindo a palavra. Microfone à mãos, ele se dirige ao único estrangeiro da mesa, Pierre Lévy. O ilustre desconhecido começa a falar de maneira eufórica sobre a conversa abordada pela mesa, que para ele era algo impensável no Brasil, pois o País apresenta um dos maiores índices de desigualdade social do mundo. Falou também que aqui a tecnologia era um privilegio de poucos e, após quase cinco minutos de interrupção, acabou perdendo o fio da meada e esqueceu a pergunta que queria formular ao franco-canadense Pierre Lévy. Prato cheio para os participantes do chat, que entre uma brincadeira e outra, afirmaram que toda a indignação do desconhecido nada mais era do que solidão. Muito solícito, em um momeneto descontraído, Lévy levantou-se de sua cadeira, se aproximou do jovem e lhe abraçou.
Brincadeiras à parte, o happening terminou o dia de maneira muito positiva. Todos os presentes no auditório Guarany, em Santos, parecem entender bem o sentido do evento. Fica a mensagem de que a internet é nossa, foi criada por nós, e cabe a todos defendê-la como um bem social.
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