Passadas 72 horas do anúncio oficial dos resultados pelo TSE, com os ânimos mais serenados e as armas temporariamente guardadas, o País agora se volta para a popular discussão pós-eleitoral sobre como será a vida daqui para a frente.
O noticiário foi inundado com especulações de todo tipo, das dezenas de nomes para o ministério da presidente eleita Dilma Rousseff, ao papel que a oposição desempenhará diante do novo governo, e sobre quem deverá assumir o seu comando. É do jogo. A imprensa vive disso – dos fatos possíveis de acontecer, não apenas dos já acontecidos.
Como tudo pode acontecer, alguém vai acertar e dirá: eu falei antes! Mas não deixa de ser engraçado ver tantos analistas, blogueiros e colunistas já falando da sucessão de Dilma em 2014, antes mesmo dela tomar posse no dia 1º de janeiro de 2011. Até candidatos já foram lançados.
Entre eles, claro, está o nome do presidente Lula, que ainda tem dois meses de mandato pela frente e, no momento, só pensa nas próximas viagens ao exterior já agendadas, e em descansar um pouco, depois de passar a faixa. O futuro a Deus pertence, como os políticos costumam dizer, e ele não tem a menor intenção de apressá-lo.
Melhor do que ninguém, no entanto, Lula sabe que, se Dilma fizer um bom governo – e ele é o maior interessado nisso, até porque, foi seu fiador – , ela será naturalmente candidata à reeleição. Aí já começaremos a falar de 2018, que fica um pouco distante no calendário para quem acabou de completar 65 anos.
Não que ele tenha se queixado de cansaço após a maratona que enfrentou nos últimos dias da campanha eleitoral, que incluiu uma viagem de helicóptero de uma hora e meia até uma plataforma da Petrobras, em alto mar, o velório de Néstor Kirchner, em Buenos Aires, uma carreata com 100 mil pessoas, no Recife, e a visita ao Salão do Automóvel, em São Paulo, antes de ir votar no domingo, em São Bernardo do Campo.
No feriadão de Finados, como costuma fazer quando está de folga, Lula ficou longe do telefone, dos jornais e dos noticiários da televisão. Recebeu apenas algumas poucas visitas de amigos que não são do governo nem políticos. Mas o nome dele aparece em quase todas as matérias que especulam sobre a formação do novo ministério, como se tivesse participado junto com a presidente eleita de todas as reuniões e articulações do futuro governo.
Posso assegurar aos leitores do Balaio que Lula não está pensando em se candidatar a nada, nem aqui nem lá fora, e disse a Dilma, quando se encontraram no Alvorada no domingo à noite, diante de líderes partidários, que ela terá absoluta liberdade na formação da sua equipe. Quem conhece os dois sabe que eles não gostam muito de ouvir palpites dos outros.
Com as urnas eletrônicas ainda quentes, começou-se a falar em crise na disputa de cargos, conflitos entre o PT e o PMDB, divergências entre Lula e Dilma na formação do novo ministério. Será assim daqui para a frente, enquanto não surgir alguma crise de verdade para mudar a pauta.
Outra parte da imprensa se dedica no momento não só a analisar qual será o futuro das oposições, mas também a lhe dar conselhos sobre os rumos a seguir para se tornar mais “combativa”. Para isso, quem é melhor: Serra ou Aécio no comando do “novo PSDB”? Em torno desta pungente questão, ressurge a velha guerra entre tucanos paulistas e mineiros, com os inevitáveis pitacos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Fora um ou outro nicho de resistência radical, em que ainda se torturam os números finais do TSE para provar que quem ganhou, na verdade, perdeu – e vice-versa – respira-se um ar menos belicoso na mídia, a indicar que haverá uma trégua de final de ano até a posse da presidente eleita.
A começar pelo Jornal Nacional, em que os apresentadores desta vez pareciam amiguinhos de infância de Dilma durante a entrevista de segunda-feira, bem diferente do que se viu durante a campanha, os principais veículos deram uma baixada de bola, buscando um maior equilíbrio no noticiário.
É um bom momento para que os acionistas e seus editores reflitam sobre as relações com a sociedade, seriamente abaladas em sua credibilidade durante a última campanha eleitoral, como mostraram as manifestações de ouvintes, leitores e telespectadores na internet e mesmo no espaço reservado a eles nos grandes veículos.
Em países democráticos como o nosso, eleições funcionam sempre como um saudável divisor de águas, um ar novo que entra em circulação, a retomada de planos e projetos, o repensar da vida, ainda que a população opte pela continuidade do governo, como aconteceu em 2010.
E o caro leitor do Balaio o que espera do futuro, do governo Dilma e do papel da oposição?
Em tempo: com este post, o Balaio encerra sua cobertura da campanha eleitoral. Com acertos e erros, sobrevivemos todos. Mas tenho certeza de que os leitores também gostariam que a partir de amanhã eu mude de assunto. É o que pretendo fazer.
Grato pela paciência de todos vocês, pela generosa, ainda que às vezes agressiva participação nos comentários, e pelas dicas que me deram para fazer um trabalho o mais honesto possível – sem brigar com os fatos para impor os meus desejos nem estapear a realidade, quando esta não se mostrava do meu agrado. Se algum amigo se sentiu magoado com o que escrevi, peço desculpas.
De uma coisa tenho certeza: este foi um espaço verdadeiramente democrático, em que leitores de todas as tendências políticas e preferências parrtidárias puderam expressar suas opiniões, com exceção dos que não sabem divergir sem ofender. Valeu, pessoal.
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