Às vezes, é preciso rir com a vida e seus fatos de humor. Vamos a um deles. No passado, os mais velhos eram os nossos armazenadores de saberes e informação. Eram nossas enciclopédias, nossos dicionários, conselheiros, sábios, decifradores, adivinhadores, esclarecedores. Depois, vieram os padres, pastores e bruxos – esses eram como nossos buscadores.
Com a escrita, houve o registro de nossos saberes e sua sistematização. Daí, as escolas, o modelo acadêmico e a nossa memória documental. Mas como reuni-los? Surge a imprensa: os livros, as enciclopédias, os dicionários (Caldas Aulete, Tesouro da Juventude, Enciclopédia Britânica, Barsa, Conhecer e almanaques diversos), os folhetins, o cordel, os jornais, as revistas. A oralidade prosseguia em paralelo.
Mas chegamos às tecnologias da informação e à comunicação digital, à Internet e aos buscadores, quais enciclopédias, na verdade indexadores de termos, expressões e linguagens do conhecimento, como Wandex, Excite, Lycos, AltaVista, Cade, Yahoo, Bing, etc., que pretendem fazer um tesaurum do saber-conhecer.
Chegamos ao famoso Google, cujo termo foi criado por Milton Sirotta a partir de “googol”, no desejo de querer designar o número representado pelo número 1 seguido de 100 zeros.
Mas o Google não ficou apenas como buscador. Trouxe uma série de aplicativos para ler, ver, ouvir, criar, gravar e difundir som e imagem. Pela sua popularização, Google poderia ser um novo mito, personificando os antigos conselheiros sábios. O bruxo digital nos coloniza pelas artimanhas de suas patas, igual a um polvo do capitalismo da informação/comunicação e do conhecimento.
Mas o que aqui nos remete é a multiplicidade de sua denominação popular. Recolhi algumas por meio de uma coleta assistemática e exploratória entre alunos e muitas pessoas do meio acadêmico e outras. E o que me aparece é um glossário de humor e criatividade do modo de pensar e falar do brasileiro.
Os alunos denominaram o Google assim:
• O brother-parceiro, gugou, Gugu, gogo, tio Gu, pai Gu, santo Gu, a Bíblia.
• O cabeça (o mestre), meu santo, o demo da busca, também foi denominado: Pai dos burros, o adivinhador, o coiso, a coisa, a lenda, a cartomante, senhor todo poderoso, big brother, o broder.
No meio acadêmico, o Google ganha nomes próximos e até se repetem:
• O mestre, o bicho, o salvador, o oráculo, muleta do saber, o Gu, o gol.
Há ainda paródias bíblicas:
• “O senhor é o meu pastor e nada me faltará… E se o Google está comigo quem estará contra mim?”
Os mandamentos do Google:
• Amar o Google sobre todas as coisas. Não terás outro buscador, além de mim. Nem Yahoo, Bing, AltaVista ou outro mero buscador qualquer.
• Não tomarás em vão o nome do Google, o teu Deus…
• Guardar todos os dias e festas. Lembrarás que cada dia que passa deves usar teu tempo como uma oportunidade para adquirir conhecimento…
*É paraibano, mestre e doutor pela ECA-USP. Professor de Teoria Literária na Anhembi-Morumbi, professor colaborador da ECA-USP, Fundação Escola de Sociologia e Política-FESP, além de contista e poeta com livros publicados (paulo@brasileiros.com.br).
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