Foto Camila Picolo
Pensei muito antes de ir ao movimento de ontem. Tenho um filho de 17 anos que participa dos atos, conheço outros jovens que, com certeza, estariam lá. Minha presença poderia ser constrangedora. Meu marido não me apoiou. Não sei se ele temia pela minha segurança ou se achava que minha participação seria um incentivo para nosso filho. Decidi ir.
Parti da redação da Brasileiros, na Vila Madalena, com dois colegas em direção ao Theatro Municipal. Chegamos por volta de 17h30 e as imediações já estavam cheias – pena, mas não sei precisar quantas pessoas se reuniam ali. Tentei localizar amigos da minha idade, que eu sabia que estavam lá pelos mesmos motivos que eu – alguns também pais de manifestantes –, mas não tive sucesso. Vi Plínio de Arruda Sampaio sair aplaudido da multidão, e fiquei emocionada. Saí do aperto e fui para o lado do teatro. Não estava ali para protestar contra a tarifa e achei por bem liberar espaço.
A passeata começou e segui com ela. Encontrei uma colega jornalista com quem trabalhei na Folha de S. Paulo anos atrás, que também participava do ato, digamos, à paisana – ela acompanhava a irmã, mãe de uma manifestante. O tema de nossa conversa foi a indignação que o editorial de ontem, publicado pelo jornal, tinha provocado na gente. Não era mais o mesmo. Seguimos a passeata guardados pela Tropa de Choque, mas tranquilo. Pelo caminho, a ordem era “sem violência, sem violência”. Entrei nesse protesto. Eu me perdi dessa colega perto do Copan.
A essa altura, também não sabia mais onde estavam os colegas da Brasileiros, mas mantive contato permanente com um deles pelo celular, o que tranquilizava. Da redação, Hélio Campos Mello, nosso Publisher, também mandou mensagem, querendo saber como estavam as coisas. Estava tranquila. Mas em frente à Praça Roosevelt, a encrenca começou. A multidão foi cercada pela polícia de todos os lados, eu me senti um rato acossado. Teve correria, gritaria, bombas. Eu me posicionei em um muro, me grudei nele, estava com medo, muito medo. Perto de mim, um jovem conhecido estava sem saber o que fazer. Eu o chamei para perto do muro e compartilhei meu lenço com ele. Nossos olhos lacrimejavam. O clima ficou tenso. O barulho das bombas somado ao dos helicópteros era assustador. Uma multidão apertada começou a andar na lateral da praça e o improvável aconteceu. Vi meu filho seguindo o grupo, espremido entre tantos. Eu o chamei para perto de mim. Ele veio e trocamos um abraço cúmplice. Não falamos nada. Mais tarde, perguntei se eu o havia constrangido. Recebi a doce recompensa: “Mãe, isso não é diversão. Gostei de encontrar você aqui”. Juntos, seguimos pela Rua Augusta, acompanhando a manifestação. O cerco policial apertou. Mais bombas, mais correria, mais aperto. Tentamos escapar, mas havia tropa de todos os lados. Tenso, injusto. As pessoas gritavam “sem violência, sem violência”. Algumas tinham flores nas mãos. Nada adiantou.
A passeata alcançou a Avenida Paulista, e isso já é uma grande vitória. Ali a pancadaria foi forte, como a gente pôde ver em alguns telejornais e jornais de hoje. O discurso começou a mudar. Em casa, abro meu computador e leio o post de uma mãe, no Facebook, que dizia sentir orgulho dos manifestantes, mas o “grito de guerra” dela era: “Filho, volta logo pra casa”. É duro, entendo perfeitamente o que ela sente. Mas sugeri. “Vai com ele e engorda o movimento”. Aqui corrijo o meu comentário: Vem com a gente.
Deixe um comentário