MOMENTOS MARCANTES Foto do jornalista Cláudio Abramo, feita por Hélio Campos Mello, e algumas das revistas que fizeram história. |
A imprensa brasileira tem uma trajetória curiosa. Ela surgiu em 1808, junto com a chegada da Corte portuguesa ao Brasil, e cresceu com a formação da Nação brasileira. Foi Hipólito da Costa, considerado o patrono da imprensa no Brasil, quem criou o Correio Braziliense, um jornal oposicionista que discutia os problemas da colônia e que fazia duras críticas à Corte portuguesa. Detalhe: ele era todo feito na Inglaterra. No final do século XIX eram 1.500 títulos registrados apenas em São Paulo. Em geral, publicações com duas páginas. De lá para cá, o que mudou na imprensa, o surgimento de novas mídias, as revistas, o papel da imprensa durante a ditadura militar, pode ser acompanhado em História da Imprensa no Brasil, livro organizado pelas historiadoras Ana Luiza Martins e Tânia Regina de Luca, lançado pela Editora Contexto, que reúne textos de historiadores e jornalistas.
O livro é divido em três partes. “Primórdios da imprensa no Brasil” discute, entre outras coisas, o surgimento da palavra impressa e questiona os reais motivos do seu atraso no Brasil. “Tempos eufóricos da imprensa republicana”, a segunda parte, fala sobre o momento das transformações tecnológicas. Há uma explosão de títulos e o surgimento de revistas com páginas coloridas. Os jornais tornavam-se grandes conglomerados. É uma nova era, como diz a socióloga Maria de Lourdes Eleutério em “Imprensa a serviço do progresso”. Globalização, informática e revolução tecnológica são alguns dos temas da terceira e última parte “De 1950 aos nossos dias”. As estreitas e marcantes relações entre imprensa e política são lembradas pela jornalista Ana Maria de Abreu Laurenza em “Batalhas em letra de forma: Chatô, Wainer e Lacerda”. Já os jornalistas Luiza Villaméa e Cláudio Camargo, em “Revolução tecnológica e reviravolta política” e “O meio é a mensagem: a globalização da mídia”, respectivamente, falam entre outras coisas sobre a comunicação on-line, a informatização das redações e as mudanças na maneira como o jornalismo passou a ser conduzido. Luiza, por exemplo, lembra dos tempos em que o barulho das máquinas de escrever nas redações era ensurdecedor, que o uso de carbonos entre as laudas deixava mãos e roupas pretas, além da maçaroca de papéis que ficavam espalhados pelas mesas. Cenário que parecia não combinar com o resultado final de jornais e revistas escritos por cabeças brilhantes, como o lendário Cláudio Abramo, retratado pelas lentes do fotógrafo Hélio Campos Mello, diretor de redação da Brasileiros, em foto batizada “Em busca de um título”.
O livro passa por Assis Chateaubriand e sua relação com os militares, os Diários Associados e a revista O Cruzeiro. Traz também histórias e dados sobre o mercado editorial no Brasil. Em “A era das revistas de consumo”, Thomaz Souto Corrêa, jornalista e vice-presidente do Conselho Editorial do Grupo Abril, por exemplo, relata a trajetória de sucesso da empresa de Victor Civita e como esse tipo de veículo surgiu e tomou força em 1950, com o lançamento dos quadrinhos do Pato Donald. Além de contar com detalhes o surgimento das principais revistas brasileiras, desde as semanais como Veja, IstoÉ e Época, até as femininas, como Claudia, que desde seu lançamento, em 1961, mantém a liderança na categoria. “Porque o bom jornalismo se pratica para o leitor, e não há leitores de segunda ou terceira categoria. Todos merecem o mesmo rigor profissional, até os que se interessam pelos aspectos mais frívolos do mundo contemporâneo”, afirma Corrêa em seu texto. Prova disso talvez seja o fato de que, atualmente, e em meio a essa crise mundial, o Brasil publica mais de três mil títulos, número de país desenvolvido.
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