O maior perigo é a perda de confiança na lei

É preocupante o tom dos comentários enviados por leitores/eleitores nos últimos dias, não só para este Balaio, mas para outros blogs jornalísticos que tratam do imbróglio armado em torno do caso Daniel Dantas, envolvendo STF, Polícia Federal, Abin, Ministério da Justiça e Gabinete de Segurança Institucional.

A cada dia aumentam a indignação e a revolta de cidadãos inconformados com as investigações da Polícia Federal sobre o trabalho do delegado Protógenes Queiroz, que prendeu duas vezes o banqueiro Dantas na Operação Satiagraha, a pedido do juiz De Santis, duas vezes desautorizado por Gilmar Mendes, o presidente do STF, que mandou soltá-lo.

Parece que as pessoas estão perdendo o medo de se manifestar e, mais do que isso, o respeito pelas instituições e por seus responsáveis. Sou do tempo em que até jornalistas temiam criticar militares, policiais ou juízes, despejando sua ira apenas em políticos, técnicos e árbitros de futebol.

Agora, no território livre da internet, cada um fala o que sente e pensa, sem precisar de intermediários, alimentando um debate sobre questões nacionais como nunca antes se viu na imprensa tradicional.

Mais do que nós jornalistas, são cidadãos de variada formação profissional discutindo os rumos desta crise do aparelho jurídico-policial do Estado que se arrasta há semanas, sem que haja qualquer sinal de um desfecho pacífico a curto prazo.

A participação popular nos debates propiciada pela internet é saudável e deve ser estimulada, mas o processo está tomando um rumo perigoso de perda de confiança na lei e nas instituições responsáveis pelo seu cumprimento, como constata o cientista político Bruno Lima Rocha, em artigo publicado hoje, no blog do Noblat:

“Estamos diante de uma encruzilhada. Por um lado, a cidadania aprova a Operação Satiagraha, aplaudindo com sentimento de justiça a ação dos agentes da lei. De outro, o senso comum indica que a Justiça é seletiva e inverte valores.

Vemos os investigadores serem investigados pelo orgão ao qual servem. Isto se dá antes mesmo da PF periciar todas as provas (como os HDs apreendidos desde a Operação Chacal) e chegar a uma conclusão que municie de materialidade a decisão do Judiciário.

A Contra-Operação G falou a que veio e deixou seu recado. Independente do que venha a ocorrer com esta investigação, entendo que o estrago está feito. Dificilmente um brasileiro que paga seus impostos irá aceitar de bom grado uma situação absurda como essa.

Se a crise política de 2005 gerou desconfiança para todo o sistema político-partidário, este caso ratifica a idéia de que a coerção do Estado não é para todos. A conclusão lógica é a noção de que “uns são mais iguais do que os outros”.

Em outras palavras, se a cidadania constata que a lei não é igual para todos, então cada um pode fazer e seguir a sua própria lei, de acordo com a sua conveniência, um caminho que não costuma levar a finais felizes para ninguém.

O descrédito na lei e nas instituições fica patente nos resultados parciais (até o meio dia de hoje) da enquete lançada no mesmo blog do Noblat com a pergunta: no que vai dar a investigação do delegado Protógenes Queiroz que resultou na prisão de Daniel Dantas?

Em Nada: 31,5%

Em processos contra o delegado: 60,44%

Na condenação dos investigados: 6,40%

Tudo bem que é só uma enquete, mas é mais ou menos isto mesmo que indicam os comentários dos leitores nos jornais e nos blogs: ou o caso não vai dar em nada ou o delegado Protógenes corre muito mais riscos de ir preso do que Daniel Dantas.

Aliás, está aí um bom tema para uma ampla pesquisa do Datafolha ou do Ibope. Agora que as eleições passaram, estes dois grandes institutos poderiam nos informar a quantas anda a confiança dos brasileiros nas nossas instituições _ sem esquecer, é claro, a própria imprensa.

O que o brasileiro pensa de personagens como Gilmar Mendes, Protógenes Queiroz e Daniel Dantas?

Em tempo: daqui a pouco viajo para Limeira, onde falarei, ao lado do publicitário Saint’Clair de Vasconcelos, sobre “Novos Rumos da Comunicação”, às 19h30, no anfiteatro Waldomiro Francisco, da ISCA Faculdades.

Por isso, como não poderei moderar comentários, peço a compreensão dos leitores para evitar ofensas, agressões e demais crimes previstos em lei. Eu ainda confio nas leis e acho que todos devemos defendê-las para garantir a nossa própria liberdade.

No retorno de Limeira, vou viajar com a família, sem levar laptop, para melhor aproveitar a vida, a paisagem e a companhia dos meus netos. Volto no domingo. Até lá.


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