No fim dos anos 1980, no livro “Rota 66”, o jornalista Caco Barcellos revelava – após anos de pesquisa detalhada e rigorosa – um pouco dos métodos de trabalho da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), divisão de elite da Polícia Militar de São Paulo. Ali, o capitão Roberval Conte Lopes aparecia em destaque, como “um dos maiores matadores da Polícia Militar de São Paulo”.
Já naquela época, Conte Lopes era merecedor de uma sessão inteira no livro de Barcellos, chamada “Deputado Matador”. O capítulo termina assim: “Minha investigação revela que muita gente se engana ao alimentar a sua fama de matador de bandidos. Em nosso Banco de Dados, pelo menos, o deputado Conte Lopes não passa de um matador de inocentes”.
Vinte e cinco anos depois, Conte Lopes acaba de ser eleito vereador pela cidade de São Paulo, pelo PTB, após longo período como deputado. Ele compõe, ao lado de Paulo Telhada (PSDB) e Álvaro Camilo (PSD), a que está sendo chamada de “bancada da bala”. Coronel Telhada teve 89 mil votos; Coronel Camilo, 23 mil; e capitão Conte Lopes, 31 mil.
Em uma eleição que tanto se falou em analisar o passado dos candidatos, a Brasileiros publica aqui trechos do livro de Barcellos. Leia a seguir:
“Não é a primeira vez que o capitão Roberval Conte Lopes é acordado no meio da noite para enfrentar um desafio. Logo na chegada, já se percebe que ele se envolve nessas tarefas com entusiasmo, um entusiasmo exagerado que contamina os colegas: ‘Comigo é pra rachar! Onde se esconde esse filho da puta?’”
“Mais tarde, na delegacia, Amélia [mulher de Oseas] chorava enquanto era ofendida pelos policiais. Alguns PMs pressionavam as crianças para dizer que o pai era bandido. A mãe ouvia as ofensas calada. Só respondeu às provocações do matador do marido, que não escondia sua ira e arrogância. ‘Agora não adianta chorar. Está morto, acabou. Olha bem pra mim: fui eu que o matei’, afirmou o capitão Conte Lopes.. ‘Deus viu tudo. Tenho certeza que um dia ele vai te dar o troco. Você vai pagar caro’, reagiu Amélia com energia, já limpando as lágrimas do rosto.”
“Na nossa lista dos dez maiores matadores da história da PM, Conte Lopes é o terceiro colocado, classificação que talvez o desagrade. O próprio capitão costuma afirmar com orgulho, em entrevistas à imprensa, que matou entre 100 e 150 criminosos. (…).”
“Uma forte evidência da sua intenção premeditada de matar os suspeitos é o grande número de vítimas mortas com tiros na cabeça. Detivemo-nos nos exames de cadáver de quinze pessoas mortas por Conte Lopes e verificamos que treze apresentavam ferimentos na cabeça.”
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