O menino de 80 anos de idade

Com 80 anos completados no último dia 8, as amigas Abigail Wimer e Jeanne de Castro, com o apoio do SESC São Paulo, se viram na obrigação de homenagear o compositor, maestro e multi-instrumentista Edmundo Villani-Côrtes. No final das contas, a verdadeira homenagem foi para os privilegiados que lotaram os mais de 600 lugares do auditório do SESC Vila Mariana no último domingo.
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No concerto, vários amigos que fizeram parte dessa bonita trajetória profissional e pessoal tiveram a responsabilidade de reproduzir composições de Villani-Côrtes, de diferentes épocas de sua carreira. Humilde ao extremo, o compositor creditou a casa cheia a seus convidados. “Cada uma das pessoas que se apresentou aqui, se tocassem sozinhas, lotariam o salão. São todos músicos de muita categoria.”

O homenageado da noite estava sentado na plateia, junto com os “meros mortais”, e assistiu emocionado ao começo das apresentações. Após a transmissão de um vídeo no qual Villani-Côrtes contava passagens e impressões de sua vida, ligadas ou não à música, um garoto tímido, com olhar curioso e desconfiado, entrou no palco, tocou algumas notas ao piano e saiu. Era ele, o próprio maestro em sua infância e, após 80 anos muito bem vividos, o olhar puro e sincero continua presente. “Confesso que fui pego de surpresa com aquele menino, foi armação da Abigail (Wimer) e da Jeanne (de Castro) pra cima de mim, mas surpresa sempre é bom”, brincou ele.

Seus amigos e músicos de renome, como Fabio Zanon, Gilberto Tinetti e Luiz Amato, entre muitos outros, foram subindo ao palco para reinterpretar as composições do “homem da noite”. Entre uma apresentação e outra, o telão abaixava novamente para mostrar depoimentos de Villani-Côrtes.

Com previsão de 1h30 de espetáculo, a noite foi passando sem que os convidados percebessem, afinal, boa música é boa música. Após duas horas, Villani-Côrtes finalmente foi convidado a se sentar ao piano, junto com sua mulher e companheira de toda a vida, a cantora Efigênia Côrtes, e seus filhos, o saxofonista Ed Côrtes e a contrabaixista Gê Côrtes, para executarem a emocionante Papagaio Azul, com certeza, o ponto alto da noite.

Após o término, o público presente foi convidado para aproveitar o coquetel em uma área onde mais reverências estavam armadas. Painéis com fotos de sua vida estavam expostos, com descrições em primeira pessoa. “Isso foi coisa da minha sobrinha, Mônica Côrtes, e também me emocionou muito”, contou.

Por falar em família, ela compareceu em peso para acompanhar o marido, pai, avô, tio e amigo Edmundo Villani-Côrtes. “Agora, a única coisa poderia falar para ele é muito obrigado! Muito obrigado pelas músicas que ele faz, que sempre assisti da primeira até a última nota, e muito obrigado por ele estar comigo há 52 anos”, deu o recado Efigênia Côrtes, para o site da Brasileiros.

O filho, Ed, era outro muito entusiasmado. Com o neto de Villani-Côrtes a tiracolo, ele também passou seus parabéns ao paizão: “Tá dando certo, é isso aí, tá dando certo!”, comemorou. “As meninas que organizaram mandaram muito bem, a construção detalhada da noite nós não sabíamos como seria, foi tudo uma surpresa. O resto é com meu pai, com o que ele construiu na vida dele, suas amizades verdadeiras, sua energia, tudo isso gera o que você viu. Quem ele chama, vem, e veio um monte de gente boa, então, não tinha como dar errado!”, completou ele, antes de agradecer ao público. “Quando eu ia imaginar que isso encheria!? Maravilhoso! É o que vou falar pra ele: tá dando certo, não mexe não!”, encerrou o bem-humorado saxofonista.

Ao ser perguntado se continuará tocando por muito tempo, o compositor de 80 anos não pensou duas vezes. “Não imaginei que passaria dos 30 ou 40 anos”, brincou. “Graças aos avanços da medicina, estou aqui. Entrei em um hospital pela primeira vez aos 64 anos, mesmo levando uma vida não 100% regrada. Trabalhei em cabarés, boates…, Já cheguei a ficar dois dias e duas noites trabalhando sem dormir. Não foi uma vida das mais exemplares, mas, graças a Deus, escapei de tudo isso”. O menino segue vivo em Edmundo Villani-Côrtes.

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