O mito de Saturno

Filho de Urano (o Céu) e Geia (a Terra), Saturno revoltou-se contra o pai, usurpando-lhe o trono. Urano e Geia, depositários do conhecimento do futuro e da sabedoria, predisseram que Saturno iria ser destronado por um filho, como fizera com seu pai. Saturno passou, então, a devorar os filhos assim que nasciam. Entretanto, por meio de um estratagema, Reia, sua mulher, conseguiu salvar Júpiter, que se tornou o mais forte dos deuses, destronando o pai e exilando-o no Lácio. Hospedado por Jano, que lá reinava, Saturno iniciou uma nova era, civilizando os povos e ensinando-os a cultivar a terra. Essa época de abundância e prosperidade foi chamada Idade de Ouro.

O mito de Saturno revela-se em três estágios. Os dois primeiros caracterizam-se pela luta obstinada para defender sua individualidade e, no último estágio, a transformação que se processa com sua queda. Tal como no mito, na vida o retorno de Saturno – quando o planeta volta ao ponto onde estava na época do nascimento –, que ocorre a cada 29 anos e meio aproximadamente, apresenta o desafio de subir para novos níveis de consciência ou enfrentar as consequências de não ter adquirido a sabedoria necessária para fazê-lo, marcando o fim de um ciclo e o início de outro.

O primeiro retorno é desafiante. É o contato inicial com a sensação de que o tempo passa e a maturidade chega, por isso a intensidade das cobranças internas. Não há mais tempo para ilusões e, sim, para definições claras e lúcidas. Esse período representa a entrada na vida adulta, uma liberação e uma aquisição de autonomia, que exige responsabilidade. Trata-se de uma reação aos condicionamentos do passado, às influências dos pais e às pressões sociais. Nesse momento, os pés ficam mais plantados no chão, os olhos param de olhar para as nuvens e tem-se início um caminhar mais sólido no aqui e agora.

Em alguns casos, dependendo da maturidade psíquica, há a sensação de que tudo pode desabar e a pessoa poderá ser forçada pelas correntes do inconsciente a começar tudo de novo, em local diferente e com outra perspectiva. É a crise dos 30 anos, que ocorre na ausência de um rito de passagem que contribua para a elaboração da transição.

O segundo retorno ocorre por volta dos 56 anos de idade e, se estivermos abertos ao conceito de desenvolvimento espiritual, ele se torna mais presente. Duas coisas podem ocorrer: quem não tem capacidade de adaptação torna-se mais rígido e apegado àquilo que já sabe e quem sabe utilizar adequadamente a sabedoria, que só o passar do tempo nos dá, será levado a experimentar uma nova realidade. Pode interessar-se por filosofia, metafísica, ocultismo, religião ou atividades comunitárias e experimentar a vida de uma perspectiva mais ampla, tal como no terceiro momento do mito, quando todas as dívidas foram saldadas e a Idade de Ouro chegou.

O terceiro retorno acontece por volta dos 84 anos. Significa que três voltas de Saturno foram dadas e a pessoa decide se quer continuar a viver ou morrer, ainda que metaforicamente. As pessoas que decidem viver desfrutam de cada momento, exercendo algum tipo de atividade que gostam de fazer.


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