Renata Rosa, uma paulistana do Brás, de 35 anos, radicada em Pernambuco desde 2000, tornou-se do dia para a noite uma das artistas brasileiras mais destacadas no exterior. Seu CD de estréia, Zunido da Mata, produzido por Mazinho e Éder “O” Rocha, do grupo Mestre Ambrósio, recebeu em 2004 o prêmio Choc de l’Année de melhor disco do ano pelo Le Monde de la Musique. O trabalho resultou em quatro turnês internacionais, um DVD (Ao Vivo no Café de la Dance em Paris, 2005) e um especial levado ao ar pela BBC inglesa. Além disso, a agitação confundiu-se com o Ano do Brasil na França (2005) e originou o convite para o papel de Maria Safira, protagonista feminina da minissérie A Pedra do Reino, baseada na obra homônima de Ariano Suassuna, aliás, seu fã.

Renata acaba de finalizar o segundo disco, Manto dos Sonhos, produzido por Antonio Pinto, autor da trilha de Central do Brasil, entre outros filmes, que deverá ser lançado no Brasil com um show na choperia do Sesc Pompéia paulistano, no dia 29 de maio. A Europa terá de aguardar até setembro. O segredo dessa receptividade provavelmente está na mistura bem dosada contida em seu trabalho. Adolescente, às vésperas de ingressar na Faculdade de Letras – de onde deveria seguir para o Instituto Rio Branco, visando a uma carreira diplomática -, Renata conheceu alguns índios cariri-xocós indo passar férias na aldeia deles, situada no Baixo (Rio) São Francisco, no município alagoano de Porto Real do Colégio. Exposta aos cantos das índias de até 80 anos, com sua polifonia de vozes cristalinas e poderosas, Renata sofreu o que chama de “educação sensorial”.
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Por meio de Siba, então líder do grupo pernambucano Mestre Ambrósio, Renata conheceu o rabequeiro da Zona da Mata Luiz Paixão, seu mestre e parceiro e, ao mesmo tempo em que começou a viajar para o Recife, seu interesse por música tradicional chamou a atenção do diretor Massoud Saidpour – colaborador do lendário polonês Jerzy Grotowski – , com quem trabalhou também como atriz no Brasil e nos Estados Unidos durante quatro anos. Mas o primeiro disco individual é o divisor de águas que marca a formação do sexteto que a acompanha pelo mundo. São três percussões, média, grave e aguda, a cargo de Lucas dos Prazeres, Bruno Vinezoff e Ana Araújo, e quatro cordas.

Cordas dedilhadas, como a viola nordestina ou a bandola tocadas por Pepê e o violão de sete cordas por Hugo Linns, e cordas de arco, as rabecas, empunhadas por Renata e seu mestre Luiz Paixão. Em São Paulo a cantora, autora ou coautora da maioria das canções, estará acompanhada por Cema, Eberú, Varda, Ducirene e Noraia, índias da aldeia cariri-xocó responsáveis pelas polifonias vocais freqüentemente comparadas pelos críticos estrangeiros às do Leste Europeu. Essa rapaziada do Brás é fogo!


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