Que o homem é a nova mulher, até o cinema norte-americano já descobriu. Abundam comédias românticas sobre amizades entre rapazes, como Eu Te Amo, Cara e Se Beber, Não Case, de 2009, que são quase refilmagens de clássicos do cinema-calcinha, como Tomates Verdes Fritos e Thelma & Louise, ambos de 1991. Duas décadas, milênios de diferença. O cartunista Arnaldo Branco escreveu: “Os filmes para adolescentes eram sobre caras querendo arrumar a primeira trepada. Agora, são sobre caras querendo arrumar a primeira esposa”. É só comparar o priapismo quase explícito de Pork’s (1982), com pérolas da contemporaneidade como 500 Dias Com Ela (2009), fita que leva o macho em crise ao paroxismo, com seu protagonista indie-genérico prometendo amor eterno entre choramingos e muxoxos.
Se pensarmos em filmes ou livros de terror, a queda do totem heterossexual fica ainda mais explícita. Caso o leitor já tenha visto algum filme Crepúsculo ou aberto algum dos livros de Stephenie Meyer, reconhecerá o estilo e o tema: menina-fálica deseja, fetichiza e seduz vampirinho-donzela. Essa flor de vampiro não tem como objetivo morder a mocinha, mas sim protegê-la da sua própria libido, evitando mordê-la ou levá-la para a cama. Muito diferente de outras encarnações adolescentes do mesmo personagem, como as retratadas em Garotos Perdidos, de 1987, que alopravam ninfetas em parques de diversões, rasgando suas jaquetinhas jeans e despenteando seus mullets em fúria sensual.
O que está em voga, enquanto metáfora de força sexual masculina, é o vampiro fofo, que usa cera no cabelo, apara as unhas e combate a palidez com bronzeamento artificial. Esse Drácula metrossexual em breve lixará os caninos no mesmo salão em que faz a sobrancelha – e não será surpresa encontrar por ali alguns dos jogadores da Seleção Brasileira de futebol, atentamente recebendo as instruções de seus hair stylists.
Não por acaso, esse é o tipo inofensivo que se encontra no imaginário das mocinhas, protagonizando seriados de TV, devaneios noturnos e perfumadas rodas de conversa. Trata-se do galã-amélia, cozinheiro de mão cheia, companheiro para todas as horas, conselheiro para tardes de compras no shopping e futuro ex-namorado-melhor-amigo.
É sintomático que o muso máximo do cinema dos anos 2010 seja George Clooney, um grande vendedor de café capaz de passar uma cerimônia do Oscar inteira fazendo beicinho para as câmeras. E, não por acaso, as estrelas de rock da atualidade são astros-donzela, como Chris Martin ou vocalistas de cabelo descolorido de bandinhas emo.
Por onde andará o novo Humphrey Bogart? O novo Jece Valadão? O novo Johnny Cash? O novo Pereio? O novo Sinatra?
Não anda ou andará. Porque não há. O macho-alfa do século XX sucumbiu sob o próprio peso. Hoje, é uma sombra purpurinada e vaidosa de si mesmo, paparicado pelas gatinhas pós-femininas e decididas dos anos 2010. Pois o masculino perdido está em mulheres fálicas, como Deise Tigrona, Angelina Jolie, Michelle Anne Sinclair, Megan Fox, Tati Quebra Barraco e na menina destemida que cruza com você no Baixo Meier e te oferece um baldinho de cerveja.
Elas – e só elas – são a esperança dos machos caídos.
*Carioca de 33 anos, é escritor, cronista e roteirista. Autor dos romances Corpo Presente (Planeta, 2003), O Dia Mastroianni (Agir, 2007) e O Único Final Feliz para uma História de Amor é um Acidente (Companhia das Letras, 2010). Escreveu o roteiro do seriado Afinal, o que Querem as Mulheres? (2010), da TV Globo, e a peça Terror (2011).
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