O Novo Mundo da música clássica

Para um dos contrabaixistas da Orquestra Jovem da Filarmônica de Israel, que se apresentou no Theatro Municipal de Paulínia, no interior paulista, em 18 de agosto, o Brasil não era novidade. O espetáculo, parte do projeto Concertos Paulína, representava um retorno a seu País. Marcos Lemes nasceu em Aparecida, também no Estado de São Paulo, e nunca tinha sequer escutado música clássica, quando, aos 19 anos, viu uma apresentação da Sinfônica Heliópolis em sua cidade natal. “Naquela época, eu não sabia muito bem o que fazer, estava trabalhando em uma rede de fast food e nunca tinha tido contato com estudo musical”, conta Marcos, com um forte sotaque interiorano. Pouco tempo depois de assistir ao concerto, ele mudou para a capital paulista, onde estudou durante três anos na sede do Instituto Baccarelli, ONG fundada pelo maestro Silvio Baccarelli, que criou a Sinfônica Heliópolis. Em 2010, aos 25 anos, e depois de seis como músico, Marcos fez um teste para uma bolsa de estudos na Buchmann-Mehta School of Music, curso da Tel Aviv University, em Israel, e foi admitido. Desde então, ele integra a Orquestra Jovem de Israel, constituída pelos estudantes da universidade.

A trajetória de Marcos é análoga à de outro brasileiro contrabaixista e também originário da Sinfônica Heliópolis. Em 2005, o maestro indiano Zubin Mehta, diretor artístico da Orquestra Filarmônica de Israel em visita ao Brasil, conheceu o trabalho do Instituto Baccarelli e ficou maravilhado com o talento do músico Adriano Costa Chaves. Depois de ouvi-lo tocar, Mehta conseguiu uma bolsa de estudos para o brasileiro que ingressou, aos 17 anos, na mesma universidade que receberia Marcos cinco anos mais tarde.
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Na época, o maestro também ficou impressionado com o trabalho da Sinfônica Heliópolis. “Eu venho para o Brasil desde 1972, viajei por muitas cidades e nunca tive a experiência dos últimos dias, quando ouvi a orquestra do Instituto Baccarelli, disse. A experiência fez com que ele estreitasse a cada ano os laços da Buchmann-Mehta School of Music, da qual é um dos fundadores, com o Instituto brasileiro. Sob a regência de Mehta, a Sinfônica Heliópolis e a Orquestra Jovem de Israel executaram juntas a Sinfonia Fantástica, Opus 14, de Hector Berlioz.

O contrabaixista Marcos não era o único brasileiro a integrar o grupo da Buchmann-Mehta School of Music. Além dele, mais seis jovens integram a filarmônica da universidade de Tel Aviv, dois deles também do Instituto Baccarelli: o violoncelista Emerson Nazário e o violista José Batista Júnior. Para os três jovens da escola de Heliópolis, a apresentação em Paulínia não representou apenas um retorno ao Brasil, mas também um reencontro com os amigos. “Todos estavam muito ansiosos para esse concerto, por motivos diferentes. O pessoal de Israel nunca tinha vindo para o Brasil e, além disso, iriam tocar com músicos que eles nunca tinham visto antes. E nós não víamos a hora de reencontrar nossos amigos”, conta José Batista, durante um intervalo no ensaio do dia 17, que acabou em uma roda de chorinho puxada pelos músicos da Sinfônica Heliópolis.

O concerto, na noite do dia 18, contou com a apresentação individual das duas orquestras e, por último, com a execução conjunta da peça de Berlioz. Além do reencontro dos jovens de Heliópolis, a apresentação tinha outro fator simbólico. Os três lados envolvidos na apresentação têm a mesma base: são todos projetos jovens. A Buchmann-Mehta School of Music foi fundada em 2005. O trabalho do Instituto Baccarelli, apesar de ter começado em 1996, só formou a Sinfônica Heliópolis em 2004. Por último, e mais recente, o projeto Concertos Paulínia, da Secretaria de Cultura, começou em 2009 e é apenas uma parte de um trabalho que pretende criar uma orquestra sinfônica na cidade interiorana. Em entrevista coletiva, o maestro afirmou que o futuro da música clássica está no Novo Mundo. As cadeiras ocupadas pelos três alunos de Heliópolis, só confirmam as expectativas de Mehta.

MARCO CULTURAL
De um lado, um extenso campo gramado a perder de vista. Do outro, a Rodovia Prefeito José Lozano Araújo, que liga Paulínia às estradas Anhanguera e Bandeirantes. Finalizado em 2008, o Theatro Municipal de Paulínia é a primeira construção que se enxerga na entrada da cidade interiorana. O prédio, inteiro branco, foi construído em estilo neoclássico e, apesar de não ser um primor estético, causa impacto no visitante. O Theatro Municipal nasceu na esteira de uma série de investimentos da Secretaria de Cultura de Paulínia. A cidade, que tem o maior pátio petroquímico da América Latina, vem se transformando em um dos principais pontos culturais do Estado de São Paulo. Prova disso é o Festival de Cinema de Paulínia, que tem transformado a região em um dos principais polos cinematográficos do País. “O Theatro nasceu para abrigar o festival, mas, em pouco tempo, foi criado o projeto Concertos Paulínia, que tem disseminado a cultura da música erudita na cidade”, diz o violoncelista Roberto Ring, diretor artístico do projeto. As apresentações internacionais, como a da Orquestra Jovem da Filarmônica de Israel, são, como diz Ring, apenas a cereja do bolo. “Estamos trabalhando em várias frentes. O Theatro vai à comunidade, por exemplo, faz apresentações em diversos pontos da cidade, com o intuito de quebrar o medo natural que as pessoas têm da música clássica”, explica Ring. O trabalho mais ambicioso, no entanto, é a criação de uma Orquestra de Paulínia, que já tem toda a base de cordas constituída.


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