Não há placa nem nome na entrada, as paredes são pichadas e descascadas e a bilheteria é um buraco na parede. Esse é o Bar Ocidente, há 28 anos instalado na esquina da Osvaldo Aranha com a João Telles, em Porto Alegre, em frente ao Parque da Redenção, no Bom Fim, o tradicional bairro dos notívagos da cidade. A deselegância indiscreta de sua aparência expressa sua vocação camaleônica: de dia, o restaurante vegetariano mais antigo da cidade, depois, um bar de festas – o melhor e o pior dos anos 1980 passa por ali -, uma danceteria, um sarau literário, uma casa de shows onde vale tudo, até homem com homem e mulher com mulher. Sempre lotado, com os mais variados públicos, do scarpin ao All Star.
O Ocidente pratica uma liberdade que seduz tanto os freqüentadores assíduos quanto quem está na cidade de passagem. Idealizador e dono do bar, Fiapo, arquiteto e cineasta – seu filme mais recente é Saneamento Básico, o Filme -, diz que o segredo do lugar é a persistência. “Houve muitas situações em que quase fechamos as portas. Mas conseguimos resistir neste prédio de 140 anos.” O Ocidente segue o desejo de seu público. Já foi palco de casamentos, de festas de criança, lançou músicos. “Os shows de rock ficam vivos, pois quase não existe distância entre os músicos e a platéia.” “Procuramos manter o mesmo espírito dos anos 1980. Nunca fizemos propaganda, porque a filosofia da casa é ‘não lhe convidei para entrar, você veio aqui porque quis’. Não tenho placa na porta, não digo entra, não digo é bom. Não gostou, azar. Sinto muito, mas é o que é, não vou mudar. O Ocidente já é uma instituição em Porto Alegre”, diz.
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O sotaque do Ocidente é tirar sarro de si mesmo, nunca se elogiar. Todas as noites são diferentes. Assim como o seu público. “Já tivemos um público predominantemente gay, devido à nossa liberalidade, que ainda mantém a maioria às sextas-feiras. Depois, começou uma segmentação por si só, como nos dias de show de rock, às quintas-feiras”, explica. Às terças-feiras, o Ocidente vira um sarau literário desde 1999. Formam-se filas de espera. Rolam leituras, conversas, entrevistas e uma canja musical no fim da noite. E no primeiro sábado do mês acontece a festa do melhor e do pior dos anos 1980 para um público que chega a 1.200 pessoas. “É uma noite em que a burguesia coloca o pé na jaca. Quem vai nessa festa não freqüenta o Ocidente em outros dias”, brinca Fiapo. E ele quer mais: seu sonho atual é o Ocidente 24 horas, com um cinema exibindo filmes de arte todas as noites. E, assim, criar mais uma opção para os que perambulam pelo Bom Fim e gostam de curtir a noite de Porto Alegre numa boa.
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