O oriente e a promessa do Eldorado ocidental

O livro Sob o Signo do Sol Levante – Uma História da Imigração Japonesa no Brasil é resultado de dez anos de pesquisa do historiador Shozo Motoyama. Dividido em duas partes, integra a série de publicações que buscam promover o resgate e a manutenção da memória dos imigrantes japoneses no Brasil. O primeiro volume registra a trajetória da comunidade nipo-brasileira, dos primeiros contatos diplomáticos entre os dois países até o início da Segunda Guerra. O segundo, previsto para os próximos meses, acompanhará o período do Pós-guerra até nossos dias.

Ao contrário de muitos autores que se debruçaram sobre o tema, Motoyama não tem como ponto de partida os tripulantes do navio a vapor Kasato-Maru. Sua pesquisa retrocede um pouco, oferecendo um panorama político, econômico e social do Japão e do Brasil, facilitando ao leitor situar-se no contexto histórico do encontro entre as culturas.

É o retrato de um Brasil que, em meio ao crescimento do mercado cafeeiro, era obrigado a abolir tardiamente a escravatura. Sem essa mão de obra, os produtores tiveram de recorrer a trabalhadores estrangeiros. Nesse cenário, um novo Japão começava a aparecer. Em meados do século 19, o país passava por momentos turbulentos. Após 250 anos de isolamento em relação ao restante do mundo, sob as rédeas do xogunato (ditadura militar), vivia sob a pressão das potências econômicas internacionais que exigiam a abertura de seus portos. Internamente, levantes e revoltas populares assolavam a nação.

Em 1867, Yoshinobu Tokugawa, o último dos xoguns, entregou o poder à Casa Imperial. Apesar dos focos de resistência promovidos pelos últimos samurais, contrários à invasão cultural europeia e arraigados ao modo de vida feudal, o Japão dava início à Era Meiji, que promoveu a modernização e a industrialização que colocou o país em pé de igualdade com o Ocidente. A velocidade exigida pelo progresso, no entanto, cobrou seu ônus e, em pouco tempo, as expropriações de terras, o crescimento populacional e o aumento do custo de vida expôs a sangria social: muita gente na rua sem emprego e moradia.

As relações diplomáticas Brasil-Japão remetem ao ano de 1880, quando o Barão de Jaceguai, voltando de uma missão na China, passou por Yokohama e propôs um tratado de livre comércio entre as nações. Embora o tratado não tenha sido fechado de imediato, nos anos que se seguiram, começaram as experiências de intercâmbio.

Apesar da necessidade do Brasil por mão de obra, a princípio os asiáticos não eram bem-vindos. Entre a classe política e intelectual brasileira, por incrível que pareça, o principal entrave era baseado em puro preconceito. Positivistas defendiam que a mistura com os “amarelos” representava um perigo para o processo de “branqueamento” dos brasileiros. Apesar disso, o processo imigratório era inevitável e, em 18 de junho de 1908, o vapor Kasato-Maru aportou em Santos, trazendo os primeiros trabalhadores japoneses. O livro, portanto, já é obra fundamental para compreender essa saga.


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