O pai da Stock Car

Ele estava no lugar certo na hora certa. Fã de velocidade, o paulistano Jayme Silva costumava passar os finais de semana correndo de lambreta em algumas provas livres para carros e motos no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Era início dos anos 1960, e numa dessas aventuras nas pistas, ele conheceu Jacques Perrot, engenheiro da Simca do Brasil, que acompanhava o treino de Zoroastro Avon comandando um Simca Chambord. Ao ver a maneira como o piloto conduzia o carro, Jayme fez algumas observações pertinentes ao engenheiro. “Chamei a atenção do senhor Perrot quando disse que Zoroastro estava forçando a embreagem nas curvas lentas para aumentar as rotações do motor”, lembra. Por esse comentário, Jayme foi convidado a visitar a fábrica da Simca. “Acabei ingressando como piloto de testes”. Jayme passou a pilotar em média mil quilômetros por dia, na região ao redor da fábrica, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Sua rota preferida era a Serra Velha de Santos. Essa experiência foi valiosa para a sua futura carreira como piloto. Paralelamente, ele assistiu a Simca participar em Interlagos das 24 Horas e das Mil Milhas Brasileiras, com os pilotos Danilo de Lemos, Ciro Cayres, Catarino Andreatta e Breno Fornari.

Nascido no bairro da Liberdade em 16 de julho de 1936, Jayme cursou o científico, fez um curso de mecânica e foi trabalhar no departamento de botânica de uma faculdade na zona sul de São Paulo. Ele lembra um episódio engraçado, quando certa vez, enquanto colhiam plantas em plena Mata Atlântica, o carro em que estavam sofreu uma pane e foi graças ao seu conhecimento em mecânica que eles conseguiram sair do sufoco. Até hoje, ele é considerado um dos principais pilotos brasileiros dos anos 1960 e um exímio mecânico. A sua adaptação aos novos Simca Abarth ajudou a fazer a sua fama no meio automobilístico, e depois como piloto de carros de mecânica JK, do Fúria FNM e dos Mavericks. Ele sempre chamou a atenção dos engenheiros com quem trabalhou pela sua aplicação e condução suave e rápida nos carros de testes. Sua estreia não poderia ser em outro lugar senão nas curvas da Serra Velha de Santos. Na prova, os carros subiam com intervalo de um minuto – uma verdadeira prova contra o relógio. Jayme não deixou por menos e venceu em sua categoria para a alegria de seus companheiros. Com esse resultado, ele tornou-se membro da equipe oficial e passou a comandar as ações de desenvolvimento do Simca Chambord e Simca Tufão, lançados no Brasil no início da década de 1960, e sempre sob a supervisão geral de Perrot. Considerado prata da casa, ele foi evoluindo dentro da fábrica a tal ponto que passou a ser referência como piloto, tendo como companheiro principal o experiente Ciro Cayres, muito conhecido no meio automobilístico. Mais tarde, a Simca contratou Chico Landi, que passou a coordenar o departamento de competições. Dessa forma, Jayme Silva teve mais tempo para dedicar-se às pistas de competição.
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Em 1961, ingressou na equipe oficial com o Simca Chambord, em dupla com Lauro Bezerra, nas Mil Milhas de Interlagos. A primeira vitória, porém, veio logo depois nas 6 Horas da Barra da Tijuca, em dupla com Danilo de Lemos. Em 1962 foi para Brasília apresentar o modelo Simca Presidence nos Mil Quilômetros e logo depois lançaram o modelo Rally, vencendo os 1.600 Quilômetros de Interlagos. Ambas as corridas aconteceram em dupla com Ciro Cayres e os Simcas passaram a duelar na categoria diretamente com o Alfa Romeo modelo JK. Em uma das corridas, na Cidade Universitária do Recife, Jayme Silva perseguia o DKW Malzone de Marinho quando viu seu chefe, Chico Landi, mostrando o funil – uma indicação de que deveria parar para reabastecer o Simca. Na mesma hora, Marinho foi orientado a parar e garantir um pouco mais de gasolina. Jayme assumiu a liderança e nunca parou. “O Chico Landi mostrou aquele funil até a bandeirada de chegada”, diverte-se Jayme.

Paralelamente Jayme Silva corria com o Fórmula Landi Bianco equipado com motor Simca. Em seis corridas obteve três vitórias na categoria mecânica nacional até 2.5 litros.

Em meados de 1964, a Simca do Brasil importou três veículos Grand Turismo (GT) preparados na Itália pela empresa Abarth. A proposta era acabar com o domínio do Willys Interlagos na categoria GT, e logo na estreia do Abarth Jayme Silva deu um verdadeiro “passeio”, dominando com facilidade as Três Horas de Interlagos. Foram sete vitórias em 12 corridas, quatro delas em parceria com Fernando “Toco” Lopes Martins.

A Simca investia pesado no automobilismo. A equipe oficial desenvolvia os modelos de sua fabricação, cuidava da manutenção dos importados Abarth Simca e, além disso, confeccionou um protótipo nacional batizado de Tempestade – um híbrido com chassis nacional feito de canos de escapamento. “O carro era difícil de pilotar. Ele caçava frango com se diz na gíria automobilística, mas ainda assim venci os 500 km da Guanabara em trinca com Ciro Cayres e Pedro Jaú”, lembra. O ano de 1965 foi o ano de ouro da Simca e de Jayme, que foi eleito o melhor piloto da temporada no ranking brasileiro da revista Auto Esporte. No final de 1966, a Simca foi adquirida pela Chrysler e Jayme Silva despediu-se da marca vencendo em Lages, Santa Catarina. Ele contabilizou 41 corridas pela marca com 12 vitórias na classificação geral. Com o fim da Simca, ele passou a formar parceria com Ugo Galina pela equipe Camionauto, representante da marca Alfa Romeo, que também investiu no protótipo Furia, todo nacional, concebido por Toni Bianco com motor 2 litros do Alfa JK.

A estreia nos 1.000 km de Brasília foi fantástica. “Chegamos em cima da hora sem qualquer treino e largamos em último. Antes de completar a primeira volta estávamos na frente e lideramos toda a noite. Pela manhã, pequenos problemas fizeram com que ficássemos em quarto lugar”, lembra. Com o Furia Alfa foram nove corridas com duas vitórias. A melhor lembrança de Jayme foi a vitória na inauguração do Autódromo de Tarumã, no Rio Grande do Sul, em um duelo com o Bino pilotado por Luiz Pereira Bueno. A partir de 1972 Jayme Silva passou a priorizar sua oficina e em 1973 participou de uma única prova com um Dodge Dart, na primeira edição da 25 Horas de Interlagos. Sua oficina passou a preparar o modelo Maverick da Ford, com o qual ele participou de 23 corridas em 3 anos – obtendo seis vitórias. Em 1978, passou a preparar o modelo Opala da GM e, em seguida, passou a chefiar sua própria equipe, tendo como principais pilotos os irmãos Afonso e José Giaffone. “Com o Opala demos o primeiro passo para o nascimento da Stock Car Chevrolet no Brasil e fizemos quase dez temporadas de sucesso”, diz. Exímio mecânico, Jayme é considerado um dos principais preparadores da Stock Car e continua com toda estrutura de uma equipe de competições, alugando o seu equipamento na categoria Pick-Up Racing para o campeonato brasileiro.


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