O parque do fim do mundo

Tem gente achando que a crise econômica é o fim do mundo. Mas, como diria um artista renascentista: tudo é questão de perspectiva. Nos Estados Unidos e em Israel, o sentimento é o de que a falta de grana está atrasando o Apocalipse. Explica-se: estes grupos, fundamentalistas religiosos, ligados visceralmente à crença da “Ruptura”, colocam fé na proximidade do Juízo Final. Acham que o momentoso evento está para estourar e, quem sabe, o próximo calendário da Pirelli – com aquela mulherada tipo Jezebel – já trará a data marcada da escatologia.

Dos mais de dois milhões de turistas anuais que vão a Israel, metade é cristã crente no impendente crepúsculo dos tempos na Terra. E, no preparo para a ocasião, várias congregações evangélicas – encabeçadas pela National Association of Evangelicals – uniram-se a judeus ortodoxos e ao Estado de Israel para montar um parque temático. Esta Disneylandia bíblica não foca exclusivamente o fim de feira, mas sua intenção em ressaltar a parte “Revelações”, das sagradas escrituras, é patente.

Pois bem, os US$ 50 milhões alocados para o parquinho beato encontraram juízo final nas mãos da crise. Principalmente aquelas porções das verbas que eram manipuladas pelo próprio anticristo: Bernard Madoff. A turma não sabia que “tio Bernie” – como era chamado -, na verdade, jogava do lado dos egípcios: ele é, afinal, o faraó rei das pirâmides. Deste modo, o chamado Galilee World Heritage Park, à beira do Mar da Galileia – ali mesmo onde Jesus caminhou sobre as águas – está dependendo de um milagre para ir para frente.

O fim do parque temático coloca empecilhos no grande esquema judaico-cristão. A coisa é meio complicada, mas pode ser resumida assim: para que o Messias – tanto judeu, quanto cristão – volte à Terra, será preciso reconstruir o Templo de Jerusalém. Como o velho santuário foi destruído e agora serve de base para a Mesquita da Rocha (um dos pontos mais sagrados do Islão), as obras para sua recuperação se mostram impraticáveis. O jeito foi reconstruir toda Jerusalém – em menor escala – com o templo necessário, clonado em proporções reais. O parque da Galileia serviria a este propósito. Quem sabe o “Salvador” seja tapeado e volte, na ilusão de que o parquinho de diversões é legítimo. De minha parte, acho que nem Madoff pensaria em trapaça tão vil.

A chegada do Messias também envolve o sacrifício de um novilho vermelho sem qualquer mancha, e que já foi geneticamente gerado, numa parceria entre um rabino e um pastor americano. Mas este é apenas um detalhe que confunde ainda mais o enredo da história. Só coloco aqui, porque acho superfofinho um bezerro vermelho.

Previa-se que o parque bíblico abriria suas portas em 2011 ou 2012. Já vai atrasar. E por isso devemos agradecer à crise econômica. Como o calendário Maia (vai por mim: você não quer saber detalhes sobre isso) acaba em 21 de dezembro de 2012, invocando cataclismas e destruições na Terra – segundo muitos estudiosos lunáticos -, o Apocalipse pode acontecer sem que a falsa Jerusalém esteja em pé. O que, pensando bem, seria mesmo apropriado. Deus, Todo-Poderoso, despejando sua ira na criatura mais salafrária que ele craneou.


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