O planeta tem salvação?

Um dos assuntos mais comentados do momento, até pela situação atual que nosso planeta atravessa, é a sustentabilidade. Apesar de muito citada, são poucos os que conseguem definir com clareza o complexo conceito que envolve essa ideia.
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Foi exatamente para iluminar a cabeça dos interessados que foi realizado nos dias 6 e 7 de maio no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, o II Fórum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade, uma maratona de debates e palestras que discutiram a sustentabilidade e a importância da comunicação na difusão de suas ideias. O encontro contou com a presença de profissionais das mais diferentes áreas de atuação, mas com um único objetivo: alertar a todos dos males que estamos causando ao planeta e, consequentemente, uns aos outros.

O evento, que abriu as portas gratuitamente para universitários, contou com o extrovertido Wellington Nogueira (da ONG “Doutores da Alegria”) como mestre-de-cerimônias, ou, como ele mesmo se intitulou, “mestre sem cerimônias”. A abertura oficial do evento foi feita pela Monja Coen, que fez um discurso sobre a Carta da Terra, uma declaração elaborada visando o bem-estar humano, agora e nas próximas gerações. A Carta da Terra foi a inspiração inicial para a criação do Fórum Internacional da Sustentabilidade, que teve a primeira edição em 2008.

A primeira mesa de palestrantes do Fórum teve como mediadora Mona Dorf. A jornalista apresentou a mesa, que tinha como foco principal o tema “Respeitar e Cuidar da Comunidade da Vida”, e logo em seguida chamou o primeiro palestrante, o intelectual colombiano Bernardo Toro. O estudioso ressaltou que é preciso mudar a nossa atitude para com os outros.

“Precisamos aprender a cuidar, a fazer trocas justas, e a respeitar. É preciso aprender a conversar”, falou Toro. A filósofa Danah Zohar, visivelmente emocionada, começou seu discurso falando sobre as possibilidades que a crise pode nos trazer. “O desafio é o que nos faz crescer, sem ele nos transformamos em preguiçosos, gordos e estúpidos. A crise nos obriga a agir.” A filósofa também chamou a atenção para um ponto interessante. Ela disse que não somos todos iguais, porém, é preciso celebrar isso. “Celebre a diferença entre as pessoas, é através dela que podemos ensinar e aprender.” Ainda tomada pela emoção, Danah terminou repetindo o final do discurso de seu compatriota, Barack Obama: “Yes we can”.

O escritor Ferréz, nascido e criado no Capão Redondo, bairro da capital paulista, onde também desenvolve vários projetos sociais, evidenciou um dos maiores problemas na luta pela sustentabilidade. “Estou com poucos amigos aqui, pois os outros não quiseram acordar às 6 da manhã para debater sustentabilidade.” Flávio Oliveira, gerente de Projetos Sociais da TV Globo, Danilo Miranda, diretor-geral do Sesc, e o presidente da BrasilPrev, Tarcísio Godoy, também fizeram parte da mesa.

A segunda mesa de debates, com o título “Justiça Social e Econômica”, foi muito mais técnica e voltada para a economia. Sentados lado a lado estavam alguns dos economistas mais respeitados do Brasil e do mundo, como o Prêmio Nobel de Economia em 2006, Edmund Phelps, e o brasileiro Luiz Gonzaga Belluzzo. Além dos dois, a mesa contou com a mediação de Merval Pereira, da TV Globo, o consultor sênior da Vale, Cláudio Frischtak, e Florestan Fernandes Jr., da TV Brasil.

Como não podia ser diferente, a conversa girou em torno da economia e como pode ajudar na busca pela sustentabilidade. Phelps sugeriu que o antiquado sistema bancário deveria ser modificado. Já Belluzzo usou parte de seu tempo para enaltecer a mudança que significa Barack Obama. No fim da mesa, a comunicação voltou a ser a pauta. “Sem comunicação não há desenvolvimento humano”, afirmou Florestan Fernandes Jr.. O mediador Merval Pereira encerrou a mesa apontando um dos grandes problemas que causaram a crise geral em nosso planeta. “É justo que os países mais pobres queiram chegar em um padrão de consumo de primeiro mundo, porém, se isso ocorresse, já estaríamos perdidos há muito tempo. O certo é se chegar a um meio termo”, concluiu.

Dessa maneira se encerrou o primeiro dia, com a certeza de que todos ali já estavam começando a desvendar o “mistério” da sustentabilidade.

O segundo dia já começou apontando um grave problema. A MTV apresentou um documentário que mostra a relação dos jovens com a sustentabilidade. A falha é de ambos os lados: os jovens erram pelo desinteresse e as autoridades pela falta de informação, algo que despertaria o interesse com o tema sustentabilidade.

Na sequencia, o que se viu foi uma palestra de alto nível educativo. A mesa “Democracia, Não Violência e Paz” contou com vários nomes de respeito, como o ex-primeiro-ministro da Irlanda do Norte e Prêmio Nobel da Paz de 1998, David Trimble, o professor e filósofo Mario Sergio Cortella, a filósofa Terezinha Rios, o representante da Unesco, Vincent Defourny e André Lázaro, representando o ministro da Educação Fernando Haddad, que não pôde estar presente. O mediador foi Ricardo Kotscho, diretor-adjunto da Brasileiros e colunista do portal iG.

O ex-ministro irlandês falou um pouco dos problemas de terrorismo que enfrentou em seu país e, em poucas palavras, traçou o perfil de um terrorista. “O terrorrista é uma pessoa que não consegue alcançar seus objetivos sem o uso de violência”, disse ele, reforçando a ideia de que é preciso haver uma comunicação. André Lázaro apontou para um interessante dado na questão da educação. “As crianças estão começando a chegar às escolas e faculdades, diferente do que acontecia com seus pais e avós.” Mario Sergio Cortella falou em seguida e citou o educador Paulo Freire, que costumava dizer não existir nada impossível, mais sim algo “inédito possível”. Cortella também falou sobre a desigualdade social. “Qualidade para poucos não é qualidade, é privilégio.” Terezinha Rios e Vicent Defourny falaram em seguida antes de Ricardo Kotscho assumir e dizer: “Essa mesa aumentou nossa taxa de conhecimento, esperança e amor a vida.”

A última mesa, a mais globalizada, com certeza conseguiu transmitir a necessidade de integração total para se conseguir atingir um objetivo. Tendo como tema a “Integridade Ecológica”, o mediador André Trigueiro, da Globo News, logo passou a palavra para Mohan Munasinghe, do Sri Lanka, Prêmio Nobel da Paz de 2007. Munasinghe, em apresentação quase que inteira feita por meio de slides, tentava arriscar um português e mostrar para todos ali presentes que a integração é possível. A senadora Marina Silva, em uma apresentação muito enérgica, ressaltou as belezas naturais que temos em nosso País e afirmou que não podemos e não vamos perder isso. Marina Silva foi ovacionada por todos os presentes, que de pé a aplaudiram por um bom tempo. Washington Novaes apresentou dados preocupantes sobre a atual situação de nosso País. A ex-diretora da Vale, Olinta Cardoso, que foi a última a falar e teve seu tempo muito encurtado em função de atrasos, não precisou de muito tempo para, em uma frase, sintetizar o sentimento dos dois dias de Fórum: “Só a consciência individual com o sentido coletivo irá fazer a diferença.”

Dois dias, mais de 20 horas de palestras, política, economia, antropologia, ecologia, justiça, paz, violência, desigualdade social… Afinal, o que é sustentabilidade e como é possível alcançá-la? O conceito engloba muito mais do que se imagina. É praticamente um estilo de viver a vida, que envolve antes de tudo o respeito pela diferença e a integração com essa diferença, como se ela fosse igual. Para se alcançar a sustentabilidade, muitos obstáculos, como o preconceito e a desigualdade social, precisariam ser batidos. A sustentabilidade é algo difícil de ser debatido. Tem de ser praticada. É preciso criar a consciência de que a diferença só pode ser feita coletivamente. Uma única cabeça com uma boa ideia não será capaz de salvar o planeta.


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