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Desde que foi inaugurado, em 2006, o Museu da Língua Portuguesa dedicou sua área de mostras temporárias basicamente a nomes consagrados da literatura e da poesia – autores que deixaram obras produzidas ao longo de décadas e se tornaram mestres inquestionáveis, como Fernando Pessoa, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Oswald de Andrade, Clarice Lispector e Jorge Amado. Pode, portanto, soar estranha a escolha do novo homenageado do museu: o cantor e compositor Cazuza (1958-1990), nome da música popular relativamente recente, associado ao universo pop e do rock, à irreverência e rebeldia, que, em menos de dez anos de carreira, não deixou nenhum livro. Mas deixou canções.

A ideia do museu, segundo o arquiteto e cenógrafo Gringo Cardia, curador de CAZUZA Mostra sua Cara, foi justamente inovar, investigar o rico universo da língua portuguesa dentro da música popular e dar a ele o “lugar nobre” que merece. “A tradição oral no Brasil é muito mais forte do que a escrita”, diz Cardia. Nesse sentido, quem visita o museu não verá uma mostra estritamente biográfica nem uma exposição focada apenas no cantor. A primeira sala, por exemplo, apresenta a relação entre poesia e música no Brasil desde o início do século 20 – passando por chorinho, samba e bossa nova –, enquanto outra sessão analisa didaticamente como é construída e estruturada uma letra de música – entre versos, estrofes e refrões.

Para além de músico, o fato de Cazuza ter sido um jovem contestador, que continua a inspirar as novas gerações, foi também visto como oportunidade para intensificar o diálogo do museu com a juventude, especialmente neste momento em que os jovens se reafirmam como agentes políticos no País. “Cazuza lutava contra preconceitos da época, da sociedade, era underground. A luta dele foi procurar a liberdade de se expressar. A ideia da exposição é a de que é possível mudar o mundo pela palavra. Ou melhor, incentivar o jovem a acreditar que é possível”, afirma Cardia.

Característica das mostras do museu, CAZUZA Mostra sua Cara também é repleta de seções interativas e tecnológicas. Após passar por um corredor de luzes e espelhos ao som de músicas e falas do cantor, o visitante chega a uma sala cheia de telas, que exibem depoimentos de amigos e familiares do artista – entre eles, Ney Matogrosso, Lobão, Bebel Gilberto e Marina Lima. Há ainda uma espécie de linha do tempo com animações, que contextualiza a vida de Cazuza na história do Brasil; uma sala de karaokê, com as músicas Exagerado e Ideologia – “Uma sobre liberdade pessoal e outra sobre liberdade política” –; e um espaço onde se assiste a trechos de entrevistas dadas pelo cantor.

Ponto alto do trajeto, os banheiros foram transformados em espécies de clubes noturnos (com música, projeções e iluminação), proposta inspirada na música Down em Mim: “O banheiro é a igreja de todos os bêbados”. Por fim, na saída, o visitante tem a possibilidade de ser fotografado e, na imagem de seu rosto, ver estampada alguma frase de Cazuza. Entre as opções de versos estão “confia em mim”, “a burguesia fede” e “hoje eu acordei querendo encrenca”. Frases de um artista ao mesmo tempo sensível e violento, delicado e “doidão”, como diz Cardia. “Mas muitas vezes é o doidão que fala as grandes verdades”, conclui o curador.

Cazuza Foto: Cultura.Gov/Divulgação
CAZUZA Mostra sua Cara 
Museu da Língua Portuguesa, Praça da Luz, s/nº − Centro − São Paulo
Até 23 de fevereiro de 2014. De terça a domingo, das 10h às 18h
(nas últimas terças de cada mês, o horário de funcionamento é estendido até as 22h)


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