O preço da propina: R$ 18 milhões para juízes, políticos e jornalistas

Sem muito alarde, depois de semanas dedicando os espaços nobres do noticiário à discussão sobre os métodos adotados pelos investigadores, hoje os jornais publicam o preço da propina paga à suposta rede de corrupção que protegia o banqueiro Daniel Dantas nas atividades criminosas de que é acusado: R$ 18 milhões.

Pelos bilhões envolvidos nestas atividades, sei que esta quantia é troco de táxi, mas pode explicar muita coisa estranha na cobertura do caso. Quem fez esta constatação não fui eu, mas o bravo colega Luciano Mendes Costa, em seu comentário no programa de rádio do Observatório da Imprensa.

A revelação da quantia investida para conquistar os corações e as mentes de juízes, políticos e jornalistas, publicada pelo jornal “O Globo”, foi feita pelo delegado Carlos Eduardo Pelegrini Magro, um dos responsáveis pelo inquérito que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas, durante reunião de três horas com a cúpula da Polícia Federal, no dia 14 de julho.

Para o delegado Magro, que diz ter apreendido na operação bilhetes e informações digitalizadas num laptop, detalhando o esquema de propina, as críticas à investigação são “uma reação do crime organizado”. Sobre os jornalistas, segundo ele, consta no organograma: “A gente contrata o Magabeira para chegar aos meios de comunicação”.

Na mesma linha, Amaury Portugal, presidente do sindicato dos delegados da PF paulista, disse durante a abertura do congresso nacional da categoria, em São Paulo, que o crime organizado se infiltrou em todos os poderes.

“A Polícia Federal é um dos alvos disso. Nós, que conhecemos a instituição, sabemos que o que está colocado na imprensa não procede”, afirmou Portugal à “Folha”, a respeito das suspeitas de que houve grampo ilegal contra o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.

A reação dos delegados da Polícia Federal se deu na mesma segunda-feira em que os advogados de Dantas sofriam três derrotas na Justiça: o juiz De Sanctis foi mantido no caso pelo TRF e, além disso, foram negados dois habeas corpus que pretendiam anular a ação penal e os inquéritos policiais.

Parece que os advogados do banqueiro tentam controlar todo o processo, vetando juízes, anulando inquéritos, escolhendo políticos mais simpáticos à causa ou até indicando quais jornalistas devem ou não fazer a cobertura do caso. Podem até não conseguir, mas estão no papel deles de tentar. Resta saber como cada um cumprirá seu papel nesta história.


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