Michael Jackson não inventou o Moonwalking. Os movimentos de andar para trás já vinham sendo mostrados nos palcos americanos desde os anos 20, como apontou corretamente o colunista da Folha, Ruy Castro. Existe um vídeo do cantor Cab Calloway executando os movimentos em 1938. Jackson apenas deu novo nome à coisa. Ao pé da letra, o moonwalk pioneiro e verdadeiro foi feito por Neil Armstrong. O astronauta americano foi o primeiro homem a pisar na Lua. Neste dia 20 de julho, são comemorados 40 anos deste evento.
A data também marca minha estreia no espaço. Foi quando meu pai me levou ao Rio, num Electra da Ponte-Aérea, para comemorar a proeza que Armstrong realizaria na Lua. Aterramos, apropriadamente, no aeroporto Santos Dumont – que, para mim, foi o inventor do chamado “mais pesado do que o ar”. Começaria naquela ocasião minha paixão pelos voos, que só terminaria quando as companhias aéreas passaram a tratar a freguesia como gado embarcado.
Papai era um entusiasta da exploração espacial. Lembrou, nos dias que antecederam a alunagem, das aulas de física no curso Científico, quando seu professor profetizou que o homem jamais chegaria à Lua, pois a tripulação morreria de velhice, antes disso. O Dr. Osmar ligou, em 1969, para o ex-mestre e ambos conversaram animadamente sobre o vaticínio errado e os portentos que estavam por vir. Vimos Armstrong moonwalking numa televisão, com transmissão em preto-e-branco, num bar da Cinelândia. Fomos dormir naquela noite no Hotel OK, no centro velho carioca, depois de termos passado horas olhando o céu em Copacabana. Voltamos para São Paulo, no dia seguinte, de ônibus. Apropriadamente, da empresa Cometa.
Cerca de 30 anos depois disso, fui cobrir o lançamento do Ônibus Espacial no Kennedy Space Center, na Flórida. A nave levava a bordo um experimento científico brasileiro. Depois da decolagem, meu grupo andou pelo Centro e, no meio desta visita, demos de cara com Neil Armostrong. Em carne e osso. Minha primeira reação foi olhar seu pé esquerdo – aquele que deixou a marca pioneira na poeira da Lua. O astronauta estendeu a mão que ficou flutuando no ar um bom tempo, diante do babaca à sua frente, que estava hipnotizado pelo sapato Gucci (tamanho 41 bico largo). Só depois deste momento constrangedor é que a mão foi agarrada e encarei sua face. Exibia o riso automático de quem está acostumado à posição de ícone. Os olhos azuis como a Terra, que ele viu lá de longe. Gaguejei umas perguntas inócuas, que sequer renderam grande coisa quando impressas. Naquele momento não era o repórter quem indagava, mas o garoto viajando pela Via Dutra no Cometa.
Mais compostura tive no encontro com “Buzz” Audrin, o segundo moonwalker, e que na verdade andou pela superfície lunar como um coelho de desenho animado: aos pulinhos. Batemos um grande papo em Taos, no Novo México, onde o astronauta participava de uma conferência tipo New Age: com astrólogos (ele é estudioso, amador dos vaticínios das constelações), bruxos, massagistas, leitores de Tarô, ufólogos e outros ativistas místicos. Afirmamos nossas convicções sobre a existência de vida fora da Terra. Olhamos as estrelas, que ali no deserto parecem estar ao alcance das mãos. Tomamos chá. Não de peyote, que nos foi oferecido, mas um Mate gelado mesmo. Afinal, quem já andou na Lua não precisa viajar com drogas. E, para mim, a experiência era psicodélica demais para merecer reforços.
Michael Jackson tinha 10 para 11 anos, quando Neil e “Buzz” andaram na Lua. O guri já era um astro e disse que viu a alunagem pela televisão, como eu. Aposto que ficou tão impressionado quanto o adolescente brasileiro no Rio. Corre o boato de que suas cinzas serão lançadas no espaço sideral. Parece apropriado. Talvez a urna vá parar no Mar da Tranquilidade, bem pertinho da pegada de Armstrong que ainda está impressa no solo.
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