O que der na veneta

Prateleiras – As primeiras apostas da veneta: Altarriba e Kim, Moore e no próprio Campos

O que a Editora Veneta vai publicar? “O que nos der na veneta”, diz o fundador e diretor Rogério de Campos, 51 anos, que após quase duas décadas atuando na Conrad (da qual foi cofundador) alça outro voo no mercado editorial. A resposta, um tanto vaga, certamente não é falsa, mas a trajetória de Campos e uma rápida olhada nos primeiros títulos lançados pelo novo selo já dão pistas do direcionamento da editora.

Entre as primeiras publicações estão obras ligadas ao mundo dos quadrinhos, ao universo underground e, de modo geral, a uma visão crítica da sociedade. Os três livros lançados são uma reedição do fantasioso romance A Voz do Fogo (2003), do escritor e cartunista inglês Allan Moore; a primeira edição brasileira da premiada HQ espanhola A Arte de Voar (2009), de Antonio Altarriba e Kim; e o inédito O Livro dos Santos, do próprio Rogério de Campos. Em breve, devem sair uma nova edição de Do Inferno, de Moore, e Memórias de uma Beatnik, da americana Diane di Prima.

O papo com Campos – criador nos anos 1980 e 1990 de revistas, como Animal e General, e ex-vocalista da banda de rock Crime – esclarece um pouco mais sobre os rumos da Veneta. “O que me interessa mesmo é lançar coisas que não estão sendo publicadas no Brasil. Não estou interessado em seguir tendências, entrar nas ondas que estão sendo percorridas. Até porque, se eu for brigar com as grandes editoras, estarei morto. A estrutura do mercado é toda montada em função delas. Então, preciso ser subversivo até por uma necessidade de sobrevivência.”

Ciente desse quadro e já calejado na dinâmica do mercado de livros, ele diz, no entanto, não se preocupar demais com a concorrência. Tanto que, mesmo contando com a ajuda de uma “rede de amigos e parceiros”, decidiu investir por conta própria no novo negócio. “Quando fundamos a Conrad, ela também não era consagrada. É assim mesmo”, diz o editor, ao ser questionado se teme os riscos de começar uma empresa do zero, depois de deixar uma editora já estabelecida.

Começar do zero, com uma editora menor, na verdade, parece dar a Campos a liberdade que ele busca em sua profissão. “Essa é uma empresa sem o rabo preso com o consumidor.” Nesse ponto, ele deixa transparecer também um pouco de sua formação mais politizada e marxista. “Vou publicar coisas mais de esquerda, porque já tem muito cara publicando coisas de direita. A direita já está bem servida.” Ele até brinca, ao falar de um possível nicho de mercado: “Vou focar em coisas mais de esquerda por razões estritamente comerciais”.

Vale ressaltar que esse olhar político, no caso de Campos, está a milhas de distância de qualquer tipo de ortodoxia ideológica. O Livro dos Santos penetra no universo da religião não sob um ponto de vista crítico, mas informativo, divertido e inesperado. A publicação conta histórias de mais de 250 santos, reunidas por Campos ao longo dos anos. “Cada um vai ler de acordo com sua visão e fé, mas de fato são personagens muito significativos para o pensamento ocidental em geral”.

Com histórias de santos, quadrinhos ou romances, a Veneta começa a delinear seu caminho. “Na verdade, ainda não sei o que ela é. Estou publicando as coisas de que gosto.”


Comentários

Uma resposta para “O que der na veneta”

  1. […] mesa que debaterá o legado da lendária revista Animal, com a participação de Fabio Zimbres e Rogério de Campos. Isso sem contar oficinas, shows, exposições e, obviamente, a tradicional feira de […]

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