Meus caros, eu já estava com o tema da violência na ponta da língua, no meu caso aquela gerada pela homofobia, quando tropecei no trailer do último filme de um de meus cineastas favoritos, Quentin Tarantino. A revista Época fez do filme sua matéria de capa, e o descreve como uma violenta elegia à vingança, “Um dos mais primitivos sentimentos da espécie humana”. O filme é uma ficção em que soldados judeus americanos saltam sobre a França ocupada pelos nazistas, e tentam amedrontar os exércitos de Hitler, mostrando como são cruéis. Ficção delirante, eu diria, mas está bombando nas bilheterias. Pelo trailer e pelo que li na internet, Tarantino busca o “orgasmo” da vingança. Não vi o filme e já acho que nem vou ver. A revista cita o Velho Testamento, dizendo que este “regula” a vingança quando diz: “Um olho por um olho, um dente por um dente”. Li a matéria até o fim, e não achei a maravilhosa frase de um dos maiores homens que viveram no século XX, Mohandas K. Gandhi, que disse: “Um olho por um olho e todos acabam cegos”. Gandhi derrotou o império britânico com a força moral de seus argumentos e de seus atos. Isso é história, não ficção. É a evolução da humanidade, que valeria ser lembrada depois de um século sangrento.
Acho que todos aplaudem só por ser de Tarantino, fica feio não gostar. Spielberg, que é judeu, falou muito melhor dos nazistas e do holocausto, e eu acho que nunca faria uma brincadeira de adolescente delinquente como este filme parece ser. Eu já estava me sentindo meio sozinho quando achei uma carta publicada pelo The New York Times, na qual um certo Richard Bernstein (judeu?) também se diz revoltado com o filme, que descreveu como “Apologia ao sadismo”. Ele lembra, com grande pertinência, as críticas ao Vice-presidente americano Dick Cheney, que autorizou a tortura de prisioneiros durante o infame governo Bush. Aplaudir atos brutais, baseando-se em sentimentos primitivos, é algo incabível nos dias de hoje. Foi exatamente o que fizeram, na sua época, os nazistas trucidados no filme. Quem tem razão, os soldados de Tarantino ou os nazistas? Nenhum deles, pois todos agem pelo primitivo e animalesco, e, portanto, são iguais.
Vingança é, fundamentalmente, uma reação – Gandhi foi brilhante ao criticar essa dinâmica de ação e reação, dando o exemplo da força moral como solução. E nós com isso? Violência é o fenômeno mais destrutivo da humanidade, e deve ser aplacada em todas as suas formas. Podemos tirar lições de Gandhi para combater o preconceito e a homofobia? Eu acho que sim, e amanhã voltarei ao tema.
E vocês, acham que vingança é uma manifestação de inteligência? Acham que tudo bem agir com base em um sentimento primitivo? Acham que, por ser de Tarantino, todos temos de aplaudir?
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