“O que é que é isso aqui?”

Mais de 30 anos separam as duas imagens desta página. A foto menor, a da capa da IstoÉ, foi publicada em 1978, quando a luta era para derrubar uma ditadura que, instalada desde 1964, começava a dar sinais de fraqueza. Estudantes, intelectuais, jornalistas, operários mobilizavam-se para reimplantar a democracia. Na IstoÉ, inventada e dirigida por Mino Carta, a matéria de capa daquela edição de fevereiro, assinada por Bernardo Lerer, apresentava Luiz Inácio da Silva, o líder daqueles operários, o presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Foi a primeira vez que Lula apareceu na capa de uma revista. A foto, eu diria, modestamente, mas prefiro, orgulhosamente, é de minha autoria. Fotógrafo na IstoÉ, convivi bastante com o personagem até 1980. Muito me impressionou seu poder de negociação e de liderança – o que nele hoje é óbvio -, mas também suas outras qualidades, entre elas um senso de humor resistente às maiores intempéries.

A outra foto dessa página, feita agora em novembro, mostra que, se mudou a cor dos cabelos e do bigode – há muito tempo já transformado em barba – o humor do personagem continua afiado.

Sentado em sua mesa de trabalho, a bordo do Embraer E-190, com o ministro Luiz Dulci e os repórteres da Brasileiros, Lula fala com o atendente: “Ô Mendes vê alguma coisa pra comer.” Vem a resposta respeitosa: “Pois não, senhor Presidente, temos omelete”. Lula faz uma careta brincalhona e diz: “Deixa eu ver a cara dele”. E comenta com o resto da mesa: “Agora tem de ser exigente. Tenho pouco mais de 30 dias como presidente. Daqui pra frente, começa a diminuir a temperatura do café. A coisa só piora”. Risos na mesa, Mendes retorna com o omelete. Lula experimenta, olha para o garfo, olha para o Mendes e diz: “Ô Mendes, o que é que é isso aqui?”

A resposta, um pouco esbaforida: “Presidente, é o omelete”. Lula rebate: “Mas esse omelete é de quê? É de isopor?”. Mendes, que não disfarça a admiração pelo chefe, diz: “Não, senhor presidente, é omelete de ovos”.

Lula não perdoa e manda: “Ô Mendes, isso aqui parece mais é algum subproduto de petróleo!”.

Risos gerais na cabine do E-190, até do Mendes, um pouco da cor do omelete.


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