Melodrama nordestino
O brasiliense Breno Silveira parece ter criado uma espécie de fórmula cinematográfica que consiste em mesclar narrativas de densidade emocional com o que há de mais popular na música brasileira. Entre os bons resultados dessa equação estão 2 Filhos de Francisco (2005) e À Beira do Caminho, que até há pouco esteve em cartaz. Depois de explorar o cancioneiro de Zezé di Camargo e Luciano e Roberto Carlos, agora o cineasta mergulha no universo do rei do baião com Gonzaga – de Pai para Filho, que abriu a mais recente edição do Festival do Rio.
Mais uma vez pautado pelo roteiro de Patrícia Andrade, Silveira criou uma fita estruturada em dois planos: no primeiro, uma cinebiografia tradicional, a tortuosa trajetória do compositor de Asa Branca, da infância pobre em Exu, no interior de Pernambuco, até o sucesso entre os anos 1940 e 1960; no segundo, sua relação com o filho Gonzaguinha, com quem nunca se deu. Ambicioso – ao todo custou mais de R$ 12 milhões e se tornará série da Rede Globo – o filme pode arrancar lágrimas da plateia, já que traz soluções assumidamente melodramáticas.
Cinquentão enxuto
Bond, James Bond retorna este mês aos cinemas, comemorando meio século de vida, quase a idade do bonitão Daniel Craig, que desde Casino Royale (2006) encarna o personagem já interpretado por Sean Connery, Roger Moore, Pierce Brosnan e outros. Quem assina a direção de Operação Skyfall – que poderá ser visto pelos brasileiros a partir do dia 26 de outubro, três dias depois da estreia mundial em Londres e uma semana antes do público norte-americano – é Sam Mendes (do premiado Beleza Americana), que promete mais cenas dramáticas e menos ação, na tentativa de faturar algumas indicações ao Oscar. Engrossam o elenco Ralph Fiennes e Javier Bardem.
Em comemoração aos seus 50 anos, o espião ainda ganhou um boxe comemorativo com nada menos que 22 discos blu-ray e é objeto do documentário Everything or Nothing: The Untold Story of 007, ainda sem previsão de lançamento por aqui. Para quem acha que Bond está em vias de se aposentar, engana-se: o herói criado por Ian Fleming em 1953 (mas só levado às telas em 1962) ainda é sinônimo de longevidade e, sobretudo, sucesso de bilheteria. Para os próximos anos, mais dois títulos da cinessérie já foram anunciados.
Doce ou travessura?
Ao contrário dos recentes Valente e O Gato do Rabino, a animação Hotel Transilvânia consegue agradar a todas as plateias, dos menores aos pais, com uma fórmula divertida e ousada. Sobram piadas até para a saga Crepúsculo, queridinha dos adolescentes.
Originalíssima, a trama apresenta Drácula como um pai superprotetor, que ergueu o hotel do título longe dos humanos para receber seus amigos – Frankenstein, o Homem Invisível, o Corcunda, entre outros monstros – e proteger sua filha adolescente, Mavis. Seus planos fracassam quando irrompe no remoto castelo um jovem humano, por quem ela se apaixona. Atração à parte, a hilária versão brasileira pode surpreender mesmo por quem detesta ir ao cinema assistir a cópias dubladas. Um programa sob medida para passar com a família.
Bilhete premiado
Como transformar um best seller de autoajuda em uma comédia? Pergunte ao diretor Roberto Santucci (De Pernas pro Ar) que, neste mês de outubro, lança Até que a Sorte nos Separe, inspirado em Casais Inteligentes Enriquecem Juntos (Editora Gente), de Gustavo Cerbasi. A ideia parece promissora, mas resulta em uma narrativa previsível, e só não fracassa por conta do protagonista Leandro Hassum. O humorista interpreta Faustino, ganhador de um prêmio da loteria. Algum tempo (e muitos quilos) depois, ele está de novo com a conta no negativo, e pior, com o nome sujo na praça. Para complicar ainda mais a situação, recebe a notícia de que sua mulher (Danielle Winits) está grávida e, temendo por sua saúde, esconde a verdade dela a todo custo.
Começa, então, uma comédia que recicla clichês e faz paródias de filmes como O Poderoso Chefão (1972) e Flash Dance (1983). Diversão ligeira que, felizmente, dispensa discursos pedagógicos e moralistas de como poupar ou gastar dinheiro.
Brisa mexicana
O vencedor de três prêmios Oscar, Oliver Stone, desde o começo da década de 1990 vem pesando a mão em produções excessivas, a exemplo da fracassada cinebiografia de Alexandre Magno, realizada em 2004. Com sua mais recente fita, Selvagens, que chega aos cinemas brasileiros neste mês, o resultado não é muito diferente.
Na história, dois amigos (Taylor Kitsch, de John Carter – Entre Dois Mundos, e Aaron Taylor-Johnson, de Albert Nobbs) dividem a plantação de algumas das melhores folhas de maconha do mundo e também o coração da bela Ophelia (Blake Lively). Interessado na droga, um grupo de traficantes mexicanos, liderados por Elena (Salma Hayek) e Lado (Benicio Del Toro), depois de uma negociação fracassada, decide sequestrar a garota em troca da fidelidade dos dois rapazes.
Mesmo com um manjado roteiro em mãos, Stone apresenta um bom filme – talvez seu melhor desde Assassinos por Natureza (1994), com quem Selvagens tem algum parentesco – com estética kitsch e bem cuidada. Se o longa é tecnicamente perfeito, do uso da luz à competente montagem, passando pelo afiado (e sarado) elenco, é o tratamento, um misto de comédia, ação e violência que torna a diversão cheia de altos e baixos. Ainda assim, o melhor filme de Oliver Stone em tempos.
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