Pouco menos de 28 anos separam a foto desta página daquela que abre a entrevista de capa na página 30. No dia 14 de abril de 1980, o jovem de barba que confere as horas no relógio era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e o jornalista que conversa com ele era repórter da revista IstoÉ. Na foto desta edição, a cena se repete com os mesmos personagens. O presidente do sindicato, Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente da República, recebe para entrevista o repórter Ricardo Kotscho, que agora, entre outros afazeres, é meu diretor adjunto aqui na revista Brasileiros. Kotscho, aliás, cujo humor rivaliza com sua competência como repórter, foi secretário de Imprensa de Lula de 2003 ao final de 2004 e hoje costuma dizer que mudou de chefe, trocou um presidente da República por um fotógrafo.
Como se pode ver na foto e na entrevista, feitas no dia seguinte ao rebaixamento do Corinthians à segunda divisão, o tempo não perdoou os raros cabelos de Kotscho. Não se pode dizer o mesmo de sua eficiência como repórter e sua entrevista com o presidente mostra bem isso. Corrupção, reforma tributária, reforma política, terceiro mandato, Fernando Henrique. Lula falou de tudo. Só não falou da perda da CPMF porque ela ainda não tinha acontecido. Nem do Corinthians, apesar da desgraça recém-ocorrida. Também não comentou – porque foram anunciados no mesmo momento da derrota no Senado – alguns bons números, como os 5,7% de crescimento do PIB no terceiro trimestre de 2007. Pelo mesmo motivo nada disse sobre o crescimento de 6% do consumo das famílias, responsável por 60% do PIB. Nem sobre as empresas investirem em ritmo quase três vezes superior ao da alta de consumo, o que afasta o perigo de alta da inflação por aumento da demanda. Também o Ibope anunciou os resultados da sua mais recente pesquisa só depois da conversa de Kotscho com Lula. E a avaliação positiva do governo subiu para 51% e a do presidente atingiu 65%. E tudo isso, apesar do futebol e da CPMF, justificam um entrevistado de bem com a vida.
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