O ridículo de todos nós


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Bar-restaurante da tolerância
A Mostra está terminando e ainda faltava um filme que me pegasse de jeito, aquele encontro não marcado, não esperado. Não estou querendo dizer que alguns belos filmes a que assisti não tenham me impressionado, pelo contrário. Mas, faltava um filme que me arrebatasse e isso aconteceu no feriado de segunda-feira (2), quando, sem esperar nada, assisti a Soul Kitchen, do diretor Fatih Akin, na sala Unibanco Arteplex 1, em sessão lotada (tinha lista de espera de mais de 50 pessoas). Quem, infelizmente perdeu aquela sessão, não deixe de vê-lo, pois o diretor (alemão, de origem turca) nos brinda com um filme saboroso, leve, extremamente engraçado e humano. A história gira em torno de Zinos (interpretado pelo excelente ator Adam Bousdoukos, que por sinal ajudou o diretor na elaboração do roteiro), proprietário do bar-restaurante Soul Kitchen, que administra a toque de caixa. Sua namorada vai trabalhar em Xangai e ele precisa entregar o bar na mão de alguém. Entra o seu irmão, que vai sair da cadeia, e começa ajudando no bar. Mas, as coisas acabam tomando outros rumos, em uma sequência de atrapalhadas hilariantes, e o bar-restaurante começa a dar certo, depois da entrada de um cozinheiro. Não vou contar mais para não estragar as surpresas do filme, apenas dizer que o diretor coloca no mesmo ambiente turcos e gregos, históricos inimigos mortais. Ainda tem os alemães convivendo nesse caldeirão sócio-cultural. O filme acontece na cidade alemã de Hamburgo (onde nasceu o diretor), lugar de imigrantes de todos os lugares. Com mérito, o longa recebeu o Prêmio Especial do Júri do Festival de Veneza. Na ocasião, o diretor falou que “No nosso universo em Hamburgo, não há a diferença de comunidades que existe entre a Turquia e Grécia. É tão natural a aproximação entre nós, de diferentes origens, que só demos conta dessa união de nacionalidades quando começamos a rodar”, analisou Akin. Concluímos com isso que só em Hamburgo poderia acontecer uma história como essa. O filme é um belo exemplo das possibilidades de convivência entre pessoas, independente de que origem pertençam, e de como a tolerância pode transformar o mundo em um lugar mais humano de se viver.

Soul Kitchen, de Fatih Akin
Unibanco Arteplex 3. Dia 4, às 14h50
Consulte outros dias e horários no site oficial da Mostra, abaixo


Instantes da existência
O documentário Ponto de Virada – O Dia Que Mudou Sua Vida, de Frank Mora, fala, por meio de dez entrevistas com personalidades do esporte e da cultura, sobre em que instante as novas vidas se transformam, tomam outros rumos. O filme é simples e o diretor não procura inovar na feitura do documentário, apenas coloca a câmera em função do entrevistado e do que ele propõe levantar. Algumas entrevistas não têm força por não corroborarem com a questão central que o diretor coloca, comprometendo o resultado do filme como um todo.

Ponto de Virada – O Dia Que Mudou Sua Vida, de Frank Mora
Cine Tam – Sala 3. Dia 4, às 21h
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Outros olhares
O filme Yuki & Nina só saiu do jeito que saiu porque foi feito a quatro mãos e por dois diretores de nacionalidades distintas. O longa-metragem é dirigido pelo francês Hippolyte Girardot e pelo japonês Nobuhiro Suwa. As origens dos diretores são colocadas na história do casal do filme: o pai francês e a mãe japonesa. Eles estão se separando e a mulher vai voltar para o Japão, levando a filha do casal junto, a menina Yuki. Ela não quer deixar o país por causa de sua melhor amiga, Nina, e nem que seus pais se separem. Delicadamente, o filme coloca a questão da separação pelo ponto de vista de duas garotas que, juntas, vão tentar demover o casal da ideia. Mas, a missão é quase impossível e quando elas não têm mais o que fazer, se refugiam em uma floresta e a história toma outros rumos. Uma história sensível, mostrada de maneira preciosa pelos diretores.

Yuki & Nina, de Nobuhiro Suwa e Hippolyte Girardot
HSBC Belas Artes – Sala 2. Dia 5, às 15h50
Consulte outros dias e horários no site oficial da Mostra, abaixo


Está chegando a hora
Mais uma maratona da Mostra está acabando e na quinta-feira à noite vamos conhecer os filmes vencedores do festival e também os preferidos do público. A solenidade acontece na Cinemateca de São Paulo, às 19 horas. Nos últimos anos, o encerramento aconteceu no Auditório Ibirapuera, que comportava o público curioso que queria assistir o evento ao vivo. Resta saber se as duas salas de cinema da Cinemateca de São Paulo vão comportar o público, que certamente vai querer comparecer ao local.


Marco Ricca (ator e diretor)

Brasileiros – Você disse, na abertura da sessão hoje (estreia de Cabeça a Prêmio), que se aprofundou nos personagens. Mas acho que você deixa muita coisa em aberto, muito em função do não aprofundamento dos personagens…
Marco Ricca –
Quando digo aprofundar parece quase um desrespeito eu falar que estou aprofundando os personagens de uma obra literária de Marçal Aquino [autor do livro que se baseou o filme]. Os personagens já existem, estão lá, profundamente dentro da obra. Aprofundar é você qualificar as nuances desses personagens, você dar várias facetas. Inclusive, deixar coisas em aberto. Acho que é mais nesse sentido. O que a gente não tem [no filme] é esvaziamento dos personagens, e sim outras perspectivas. As histórias, muita delas, ficam em aberto.

Brasileiros – O teu filme é muito anticlímax, o que não é comum nesse gênero. Por que essa escolha?
Marco Ricca –
Acho que na verdade a vida é assim. A gente está acostumado a ver o ato do ser humano na sua radicalidade. A gente pega ele no corte jornalístico e super valoriza aquilo. Mas, na verdade, isso é um ato corriqueiro. Isso acontece todos os dias. Acho que o que mais importa, e por causa disso você talvez teve essa sensação, é o desencontro de seres humanos, as possibilidades da não comunicação, que dizer, o que um fala e outro não entende. Por causa de pequenas faltas de entendimento acontecem tragédias, que não sabemos onde vai dar. Na verdade, histórias como essa de amor entre pai e filha, que vão se desencontrando, é que geram uma grande tragédia.

Brasileiros – Você é um ator que fez muito cinema e esse é teu primeiro filme. A quem seu filme se filiou?
Marco Ricca –
Não consigo me ver em gênero nenhum. Eu fui atrás desses caras, desses personagens, e eles ditaram a estética do filme, eles ditaram tudo. O que acontecia ali, muita coisa que você vê na tela, foi o que aconteceu. Aquilo estava lá. Então, não é que tenha sido uma escolha de um gênero. Não sei nem a que gênero esse filme pertence, se é que pertence. Acho que ele é um filme humanista, espero que seja (risos).

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