O riso diário do Macaco Simão

Setenta e nove edições atrás, quando a Brasileiros ainda era um bebê, o jornalista José Simão estampou a capa da publicação, em reportagem de Camilo Vannuchi. Na ocasião, o autointitulado “Esculhambador Geral da República” havia acabado de lançar a compilação José Simão no País da Piada Pronta.

Reprodução.
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Lançado em 2007 pela extinta Editora do Bispo, de Xico Sá e Pinky Wainer, o livro reúne: o melhor das duas primeiras décadas da coluna diária assinada por Simão no jornal Folha de S. Paulo; um dicionário “lulês-português”, resultante das chacotas feitas por ele com a prosódia coloquial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; e uma compilação de verbetes do “tucanês”, compostos do significado dos hermetismos proferidos por pessedebistas, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tratado pelo colunista como “Boca de Sovaco” e Geraldo Alckmin, que ganhou dele a alcunha de “Picolé de Xuxu”.

Assim, sem poupar nada e ninguém, há 27 anos “Macaco Simão” é presença diária na Folha de S. Paulo. Ao subverter o propósito inicial de sua coluna – falar tão somente das atrações da TV –, ele criou uma fórmula longeva de humor, politicamente incorreta e inteligente. E, assim, segue trilhando com total liberdade esse caminho pavimentado com sacadas hilárias e inesgotáveis, que nos fazem rir do absurdo de nosso próprio cotidiano.

Recentemente, quando soube que, com a seca histórica enfrentada em São Paulo, restou a Geraldo Alckmin recorrer ao reservatório final do sistema Cantareira, Simão, que já havia dito que no tucanês o fenômeno da seca é chamado de “estresse hídrico”, foi implacável com o governador paulista e cravou “Alckmin tomou Viagra: tá usando o volume morto!”. No começo de maio último, quando o Corinthians inaugurou seu tão sonhado estádio com uma derrota para o Figueirense, lanterna do Campeonato Brasileiro, Simão não teve o menor receio de provocar o “bando de loucos”: “O Itaquerão virou Figueirão! Aliás, o Arena Corinthians parece mais uma impressora. Devia se chamar ‘Arena HP’”. Dias depois, um caminhão com duas toneladas de maconha, vindo de Chapadão do Sul (MS), foi encontrado na sede da torcida Gaviões da Fiel. Simão, é claro, sugeriu um novo nome para o estádio “Arena Chapadão” e ainda saiu com essa: “Sabe o que um corintiano gritou quando viu as duas toneladas de maconha? ‘Carai… haja seda, mano!’ Rarará!

A presidenta Dilma Rousseff, lógico, também não passa incólume ao veneno do Macaco. Nas frequentes intrigas de poder com os aliados do PMDB, ele costuma dizer que ela está com “TPMDB” e atribui à legenda a sigla “Partido que Manda na Dilma e no Brasil”. O presidente do STF Joaquim Barbosa, chamado por ele de BRABOsa, foi também alvo preferencial do Macaco, nos últimos anos. Com o anúncio de que ele irá se aposentar, no final deste mês, em sua coluna Buemba! Buemba!, que vai ao ar, às 9h40, de segunda a sexta, na rádio Band News FM, Simão insinuou um suposto alívio para os petistas: “O Batman pendurou a capa! Já deve estar rolando churrasco na Papuda! Lesmandowski” (trocadilho infame com o sobrenome do ministro do STF Ricardo Lewandowski, que vai substituir Barbosa), deve estar inconsolável: “Quem, agora, vai me mandar calar a boca?!”. Além de alfinetar as intrigas entre os dois magistrados, Simão ainda tirou onda com o notório autoritarismo do Presidente do STF: “BRABosa não está se aposentando, ele está proibindo-se de trabalhar”.

Tema diário na pauta dos jornais e no cotidiano dos brasileiros, a Copa do Mundo de Futebol de 2014 também é combustível para o humor incendiário do paulistano. Tratada de “Copa das Copas” pelo Governo Federal, ela ganhou, nas palavras de Simão, o epíteto de “Cópula das Cópulas”. A onda de protestos contra o torneio no País e a FIFA também foi questionada por ele: “Os protestos deveriam ter sido feitos quando o Brasil foi eleito sede da Copa. Ou seja, na Copa do Mundo no Brasil, até os protestos estão atrasados!”.

A corrida presidencial de 2014, naturalmente, também é campo fértil para seu escracho sem limites. Assim que houve a confirmação da chapa Eduardo Campos/Marina Silva, chamada por ele de “Marina Tartaruga Sem Casco”, Simão provocou: “A Marina parece o Vasco: faz um barulho danado pra acabar como vice na final!”. Aécio Neves, lógico, também entrou no páreo. No carnaval deste ano, quando o agora pré-candidato do PSDB à Presidência da República foi vaiado em Maceió, Simão zombou da suposta fama de conquistador de Aécio: “Piada pronta, direto de Maceió: ‘Aécio Neves vaiado no Pinto da Madrugada’. Gente, quando o Pinto da Madrugada vaia o Aécio é porque a balada não é mais a mesma! O pinto vaiou o garanhão!”. Dias depois, ainda no Carnaval, o tucano foi novamente hostilizado por foliões. A deixa para Simão arrematar: “Aécio foi vaiado em Maceió e em Salvador: isso é o que eu chamo de Carnavaia!”.  

Com o acirramento da disputa eleitoral, é hora de redobrar o estoque de colírio alucinógeno ficar de olho no Macaco Simão e nos fatos que serão notícia no “País da Piada Pronta”, afinal: “Nós sofre, mas nóis goza!”. I


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