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Há exatos 100 anos, no dia 3 de julho, nascia o cantor e compositor Wilson Batista de Oliveira, conhecido como Wilson Batista, um dos mais produtivos e polêmicos artistas da era de ouro do rádio, entre as décadas de 1930 e 1940. Wilson ficou conhecido por sua polêmica relação com Noel Rosa, que gerou perto de uma dezena de sambas inesquecíveis de ambos os lados, como Lenço no pescoço, Mocinho da Vila, Conversa Fiada, Frankenstein da Vila (por causa do queixo defeituoso de Noel), todos compostos por Wilson, e Feitiço da Vila, Palpite Infeliz e Rapaz Folgado, de Noel, em resposta às provocações desse típico malandro do morro.
No meio das provocações, Wilson e Noel ficaram amigos e a aparente briga acabou. Wilson tinha fama de valente e brigão, mas levou o embate “na esportiva”. O saldo não podia ser melhor, o disco Polêmica, lançado quase vinte anos depois da morte de Noel, em 1956, pelos cantores Roberto Paiva e Francisco Egídio. Luiz Américo Lisboa Junior lembra que, de fato, as desavenças entre Wilson e Noel restringiam-se apenas ao campo musical, não afetou as relações de amizade entre os artistas. Segundo ele, a disputa musical começou no ano de 1933 quando Sílvio Caldas gravou Lenço no Pescoço, de Wilson, que fazia a apologia à malandragem. A composição fez sucesso. “Só quem não gostou muito foi Noel Rosa, pois achava que ela fazia uma defesa muito veemente da vadiagem e resolveu então compor outro samba em que refutava Wilson Batista conclamando as pessoas a trabalhar e deixar a malandragem.” Surgiu, então, Rapaz Folgado, gravado por Aracy de Almeida. E vieram outras, de ambos os lados.
Discussões à parte, Wilson foi bem mais que um desafiante famoso ou compositor breve. Ao lado de Noel, Assis Valente e Geraldo Pereira, tornou-se um dos grandes sambistas da boêmia carioca. Wilson teve uma vida intensa no momento em que a indústria musical se profissionalizava e expandia, arrastada pelo nascimento do rádio comercial. Negro e de origem pobre, viu na música um caminho para sair da miséria. Conseguiu que um samba seu, Na Estrada da Vida, fosse lançado em 1929 por Araci Cortes e gravado mais tarde por Luís Barbosa. Passou a atuar como locutor e ritmista na Orquestra de Romeu Malagueta e no começo da década de 1930 teve o seu samba, Desacato (em parceria com Paulo Vieira e Murilo Caldas) gravado por três grandes intérpretes da época, Francisco Alves, Castro Barbosa e Murilo Caldas.
Até morrer, quatro dias depois de completar 55 anos, Wilson continuou trocando o dia pela noite e compondo grandes sambas, como Mania da Falecida e Oh, Seu Oscar, ambos com Ataulfo Alves; o clássico Acertei no Milhar, delicioso samba de breque feito em parceria com Geraldo Pereira e gravado por Moreira da Silva; Emília, com Haroldo Lobo; Pedreiro Valdemar, Balzaquiana, com o cartunista (e compositor) Antônio Nássara. Seu último sucesso do carnaval carioca foi Cara Boa, marchinha composta em parceria com Jorge de Castro e Alberto Jesus, gravada por César de Alencar.
BATE-BOCA MUSICAL
Em 1956, a Odeon reuniu as gravações que marcaram o duelo rimado entre Wilson Batista e Noel Rosa, com nove canções interpretadas por Roberto Paiva e Francisco Egydio:
01 – Lenço no pescoço
(Wilson Batista)
Roberto Paiva
02 – Rapaz folgado
(Noel Rosa)
Francisco Egydio
03 – Mocinho da Vila
(Wilson Batista)
Roberto Paiva
04 – Palpite infeliz
(Noel Rosa)
Francisco Egydio
05 – Frankstein da Vila
(Wilson Batista)
Roberto Paiva
06 – Feitiço da Vila
(Noel Rosa e Vadico)
Francisco Egydio
07 – Conversa fiada
(Wilson Batista)
Roberto Paiva
08 – João ninguém
(Noel Rosa)
Francisco Egydio
09 – Terra de cego
(Wilson Batista)
Roberto Paiva
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