Caubóis de rodeio: valentões que domam touros e sucumbem à rotina, que desafiam a morte nas arenas, mas se quebram na rotina da vida, frágeis como criancinhas assustadas, apegados a rezas e a superstições, sempre perseguindo um horizonte de muitos quilômetros e muitas promessas que, no entanto, acaba por se revelar miúdo, tedioso, frustrante, um rodeio atrás do outro, trilha pontuada de perigos e de ilusões.
Mesmo os campeões são indefesos, tal qual aquele gladiador de voz macia e mão áspera que, de volta à casa, se agarra ao colo materno como quem horas antes havia se agarrado à sela do animal selvagem. Nas horas de pânico, o homenzarrão pega o travesseiro e se muda para a cama da mãe.
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A câmera feminina de Tatiana Lohmann viaja em Solidão & Fé (melhor filme na Mostra de Cinema de Tiradentes 2011), por esse universo de virilidade comercialmente explícito e de sensibilidade à flor da pele. É um documentário de 82 minutos, que encontra no contraponto sua estrutura melódica, soberbo retrato de uma travessia por festas e sertões, como diz Tatiana, “tentando decifrar o masculino, encontra violência e doçura”. O tempo todo, a diretora-roteirista busca coerência nos enigmas com que depara. Capitula: “Tem aspectos em um homem que uma mulher não entende, só contempla”.
Rio Verde, Goiás, Novo Horizonte, São Paulo e Barretos – este, em sua monumentalidade de rodeio à moda do Texas. O documentário reflete e também, claro, documenta, como na cena vertiginosa de cavaleiros andantes ofegantes, candidatos a heróis, curvados não diante da sina dos miúras ensandecidos, mas de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida.
Rodeios despertam a ânsia de julgamentos morais, mas Tatiana Lohmann escapa da armadilha. O filme dela é uma plenitude de imagens e palavras. Em Solidão & Fé (em circuito de cinemas de arte do Brasil afora) até o silêncio fala.
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