Mais habituado a escrever sobre as pequenas tragédias e alegrias cotidianas, fico meio perdido diante de uma catástrofe com a violência e a magnitude desta que aconteceu no Japão.
Por isso, raramente trato destes assuntos das manchetes universais aqui no Balaio. Que posso escrever, além de tudo o que já foi dito, mostrado e publicado em todas as plataformas da mídia mundial?
Mudei de idéia ao encontrar nesta manhã de domingo, aqui mesmo na capa do iG, a inacreditável história do sobrevivente Hiromitsu Shinkawa, de 60 anos, encontrado em alto-mar, dois dias após o terremoto e o tsunami que varreram do mapa parte da costa nordeste do Japão.
Agarrado ao que restou do telhado da sua casa, cercado por todos os lados pelos escombros da cidade de Minamisona boiando no mar, Shinkawa suportou os rigores das águas geladas do inverno japonês e foi salvo por um destroier da Marinha. Levado a um hospital, passa bem.
O mais incrível neste resgate é que ele ouviu o alerta do tsunami, correu para um lugar seguro, mas resolveu voltar para pegar algo que deixou na casa.
Pois é, o sexagenário deu sopa ao azar, como se costuma dizer, acabou sendo levado pelas águas e, 48 horas depois, apareceu vivo em alto-mar. Como explicar o que aconteceu com ele?
No mesmo espaço de tempo em que Shinkawa estava perdido em alto-mar, os leitores do Balaio travaram um debate interminável, com quase 800 comentários, sobre meu texto anterior comentando o novo livro de Bento 61 em que o Papa nega o caráter revolucionário da obra de Jesus Cristo.
O livro foi só o pretexto para uma feroz discussão entre os católicos mais conservadores, que acreditam cegamente no Papa, os seguidores de outras religiões e aqueles sem fé nenhuma, que não crêem em absolutamente nada.
Nestas horas de mistérios que não conseguimos entender, como a terrível tragédia do Japão, costumam aparecer duas respostas.
“Foi o destino, só pode ser coisa do destino Ainda não tinha chegado a hora dele”, dizem os céticos, agnósticos ou ateus, os que não acreditam numa força superior a determinar o que vai acontecer com as nossas vidas.
“Foi Deus, só pode ser coisa de Deus”, resumem de bate pronto os que têm fé, seguem uma religião e colocam seus destinos nas mãos Dele.
Que resposta nos daria Hiromitsu Shinkawa?
Como esta discussão nunca vai terminar, alguém arrisca outra alternativa?
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