O som vem primeiro, o lápis e o papel, depois! Assim, podemos definir a visão desse músico, compositor, arranjador, meu amigo e irmão de som, Itiberê Zwarg, 59 anos, paulista de Itanhaém e carioca de coração, há 32 anos no grupo de Hermeto Pascoal e há dez anos à frente desse projeto inovador: a “Itiberê Orquestra Família”. Ele explica que o nome da orquestra se refere a algo maior que a família de sangue, mesmo que por coincidência tenha dois filhos participando – Mariana (flauta, voz e percussão) e Ajurinã (bateria, percussão, gaita e sax soprano). Refere-se à Família do Som, à Família Musical. Tudo começou na escola Pro-arte de Música, com quinze jovens que conheciam seu trabalho como músico. Nas aulas, Itiberê compunha na hora com o pessoal, ao vivo e a cores. O trabalho era direcionado para o músico que ali estava e não para seu instrumento, mas exigia o máximo de cada aluno. A orquestra chegou a ter 32 figuras. Esse método intuitivo, em que a escrita vem depois e o som está sempre à frente, serve de estímulo à memória musical. Conforme ia compondo, pedia aos integrantes que guardassem o som na memória.
“Quando estamos compondo, sempre pensamos na frente. Se esquecíamos alguma nota, em algum momento, tínhamos de trocá-la. Então, outra música surgia e seguíamos por outros caminhos”, explica Itiberê. Após a criação, a escrita com notas e cifras, e eis que surge uma música pronta para ser tocada repetidas vezes. Todos que chegam à orquestra estão começando, querendo tocar, tocar e tocar, ávidos em aprender. O trabalho é diferenciado, conta com o tempo e o momento de cada um. Itiberê lembra que o Brasil está repleto de músicos muito bons, muitos ainda no início, mas extremamente musicais e “intuitivos até a alma”. Se encontrarem um campo para a expressão, voam….
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Para ele, música é estímulo e oportunidade. Com a perspectiva de ampliar esse trabalho, Itiberê tem realizado oficinas itinerantes. Já esteve em Cuiabá, Itajaí, Belo Horizonte, Bogotá (Colômbia) e em Santa Fé (Argentina), onde a oficina foi com a Orquestra Família completa, interagindo com a orquestra de lá. Hoje, a orquestra está em sua terceira formação e já gravou três trabalhos. O primeiro CD duplo, Pedra do Espia (Jam Music, 2001), tinha uma formação inusitada: piano, 4 baixos elétricos, 4 baterias, 3 cordas dedilhadas, 4 flautas, 3 clarinetes, sax tenor, 2 sax alto, sax soprano, trompete, 2 violinos, 2 violoncelos, 2 contrabaixos acústicos, voz e Itiberê em vários instrumentos. O segundo CD, também duplo (Maritaca, 2005), tem músicas de Hermeto Pascoal. São 27 das 365 músicas do livro Calendário do Som (Editora Senac). Uma para cada dia do aniversário dos então 27 integrantes da orquestra. O terceiro CD, Contrastes, será lançado em setembro. Cada CD foi feito em uma fase da orquestra, com formação e número de músicos diferentes.
Hoje, os ensaios da orquestra acontecem no Centro Cultural Laurinda Santos Lobo, em Santa Tereza, espaço cedido pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Em contrapartida, a orquestra oferece por mês dois ensaios abertos à comunidade. Itiberê sempre olhou a orquestra como uma engrenagem viva, sonora e criativa, como uma oportunidade social incrível de troca. Como diz: “Olhar somente o papel (partitura) é fácil, mas impede, muitas vezes, de sentirmos o pulsar do todo, ouvirmos o outro e percebermos quem é ele e quem sou eu”.
*Arismar do Espírito Santo, nome consagrado no meio musical, é um músico completo pela fluência com que toca contrabaixo, guitarra, violão, piano, bateria, compõe e elabora arranjos.
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