AbrilA cidade de São Paulo recebeu duas exposições importantes no mundo das Artes Plásticas. Mr. America mostrou a essência de Andy Warhol, ou seja, a visão do american way of life de um dos artistas mais importantes do século XX. Já Hélio Oiticica – Museu É O Mundo apresentou um artista ainda meio “maldito” no Brasil, conhecido somente pela ligação com o Tropicalismo e seus parangolés. Depois, Oiticica ainda ganhou espaço na 29ª Bienal de São Paulo, de setembro a dezembro, na capital paulista.
Reacionários da pureza e retocados acionistas, pretensiosos surfistas da última onda, da próxima hora, todos, artistas, protoprodutores e público formam filas, dobram ruas, lotam salas das duas maiores exposições já dedicadas em São Paulo a Andy Warhol, Mr. America (Estação Pinacoteca, até 23 de maio) e Hélio Oiticica – Museu É O Mundo (Itaú Cultural e pontos diversos da cidade, até 23 de maio).As duas exposições, que por um acaso são realizadas paralelamente, espelham São Paulo. Porém, a metrópole, como é da característica de seus cidadãos mais crentes na mesquinharia cotidiana do que na atenção ao próprio sentido, a exemplo do famoso vampiro da Transilvânia, não se reflete no objeto de reflexão. Sim, passistas e passantes, a cidade de São Paulo é hoje, definitivamente, uma “tábula rasa”, um “prato sincrônico”, onde os interessados poderão compreender, sem desvios de pretensa aglomeração forçada e que insiste em relacionar projetos e processos a partir do eixo temporal, por meio de uma visada comparativa o que significa para o desenvolvimento de linguagem, de arte, o sr. Warhol e o sr. Oiticica no único contexto que existe, o da escala universal.É necessário para uma aproximação o fator comum, que reaja, que una pontos e revele o organismo, que comprove a razão fundamental das espécimes observadas. E, como o tempo é curto, informo que o percurso de análise será somente o das duas exposições. Um programa comum de produção, de atuação, de princípios, a primeira vista entre AW e HO pode parecer óbvio mesmo aos olhos do leigo. Há, entre os dois, um princípio do ofício do designer, da linguagem que designa, que intenta o redesígnio da vida ordinária, tocando em uma perspectiva coletiva cada indivíduo particularmente.E AW foi mesmo formado em design. Todo seu programa é calcado em um método industrial, de padronização, de produção em série. O mesmo fascínio pela quantidade que possibilitou o grande desenvolvimento da teoria da informação, da “América Livre”, do american way of life etc. é solo no qual Warhol retirou todos os nutrientes para a metalinguagem que realizava e que, como em um insight, formulou em suas obras. AW identificou o que era mais precioso daquele momento ultraideológico, dessa cultura civilizatória do visual e restabeleceu do lixo, o luxo, o glamour do vazio das estrelas cadentes. Warhol é o Raymond Loewy da arte americana. É um styling, talvez o maior participante de uma contradição fundamental: na busca pela saturação da arte como arte, produto desimportante, trata da aparência, de meras variações formais de um produto vendável, enfim, do eidos, isto é, da “forma que se vê” e que é bela, e que por isso, só existe por padrões, convenções. Essa arte-empresarial como ele chamava é, em última análise, uma perseguição da essência… Mas, sim, o assunto é cash!HO como artista plástico é um autêntico designer. Desinteressou-se por toda sua obra pré-1960 de construção ainda não assumidamente espacial. Renegou por completo a pintura, objetivou-se. Seu método: experimentar o experimental. Como ideologia, o princípio da liberdade, a liberdade de um antropófago que atomizou no próprio corpo a radical intenção arte-vida, única reverberação revolucionária de 17, com o assombro da bossa nova, da poesia concreta, da arquitetura e arte moderna. Fez-se bomba. Hélio, no país do sem-caratismo, de um fascismo velado, clamou contra a alienação do ridículo propenso imperialismo cultural que o Brasil se inclinava. Um país cuja única tradição, todos sabem, é de ser permanentemente “o país do futuro”. E graças a Deus!”Consumir o consumo” como propunha HO poderia ser outro ponto de contato. Mas, no seu sonho americano de Alice, AW fez fábula, tornou-se o La Fontaine da América pós-Segunda Guerra. Warhol é o limite da arte icônica de caráter ultraideológico sob a égide do Capital. Hélio é bomba, programado parangolé de novos campos e espaços. Não almeja a beleza, mas a viva vaia.
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