O Tricolor cantou de Ganso

O são-paulino gosta de repetir, os outros dão risada, não entendem, talvez nunca irão entender… Mas o fato é que o São Paulo tem uma história especial com a Libertadores. Na noite de quarta-feira, 17 de abril, quem cantou de galo no Morumbi foi o Tricolor Paulista, que com os 2 a 0 contra o Atlético Mineiro e a ajudinha hermana do Arsenal, que bateu o The Strongest por 2 a 1, passou para as oitavas-de-final da competição de forma heroica.

Alí, naquele gramado do Cícero Pompeu de Toledo, o São Paulo levantou três vezes a taça da Libertadores. Uma desclassificação na primeira fase, o que seria a pior campanha da história do clube brasileiro que mais vezes disputou o torneio continental, não era cogitável para a torcida, que comprou algo em torno de 50 mil ingressos para o jogo decisivo. A festa estava preparada!

A descrença da crônica esportiva, que durante toda a semana teimou em desclassificar o São Paulo, e a gozação dos adversários, fez com que a torcida protagonizasse espetáculo poucas vezes visto no Morumbi: setor azul, vermelho, amarelo e laranja se uniram no mesmo coro, do começo ao fim. Nem o placar zerado ao término do primeiro tempo, que tiraria o time paulista da competição, fez com que a famosa turma do amendoim começasse a se manifestar. Ontem, o dia não era para isso.

No segundo tempo o São Paulo foi para o tudo ou nada e, mais uma vez, brilhou a estrela do “fominha” Rogério Ceni. 10 minutos de segundo tempo, penalti bem marcado em cima de Aloísio. Aos 40 anos de idade, Ceni não pensou duas vezes ao atravessar o campo inteiro e pegar a bola. Nesse momento, nenhum outro jogador nunca cogitou questiona-lo. Ele, por merecimento, é dono do time.

Vale a pena aqui fazer uma pequena pausa do jogo e começar um novo paragrafo, Rogério Ceni merece. Considerando antipático por alguns, chato por outros, ele nunca fez nenhuma questão de tentar mudar sua imagem. Ele não se importa, só quer ganhar. Completamente workaholic, o goleiro passou mais da metade de sua vida no São Paulo. O então garoto ficou de 1990 até 1996 esquentando o banco de reservas. Em 1996 pegou o lugar de Zetti, que foi para o Santos, e não largou mais. De lá para cá, são mais de 1000 jogos, 111 gols, muito menos cabelos, mas a mesma dedicação, sendo sempre o primeiro a chegar no treino e o último a sair. Em sua última temporada pelo clube de coração, a história seria muito injusta se, por uma fatalidade, o colocasse como vilão (se é que isso é possível) da desclassificação.

Naquele momento de silêncio total no estádio, Ceni parecia ser a única pessoa tranquila entre as mais de 50 mil pessoas que estavam no Morumbi. O juiz apita, Victor para o lado,bola para o outro, é gol do São Paulo!

Os donos da casa continuavam, empurrados pela torcida, controlando o jogo. Destaque para o meia Paulo Henrique Ganso, que coordenou totalmente jogo, acelerando quando necessário, tirando o pé se desafogar era preciso… Elegância e inteligência, esse sim é o Ganso! Aos 36 ele começou a jogada que sacramentou a classificação. Dominou, girou tirando da marcação e enfiou bola milimétrica para Osvaldo, que avançou, entrou na área e só rolou de lado para Ademílson, que chegou para dar o tapa sem goleiro. “Pode dar a batuta para ele. Hoje ele jogou pra caramba!”, caramba não foi exatamente a palavra que Rogério Ceni usou, mas de resto, foi isso que o capitão falou sobre seu camisa 8 após os 90 minutos.

O São Paulo passou para as oitavas de final da Libertadores com a pior campanha entre todos os classificados. Na próxima fase, pega exatamente o Atlético Mineiro, dono da melhor campanha. A torcida Tricolor, de uns anos pra cá, adotou o personagem Jason, da série de terror Sexta-Feira 13, como seu mascote. Por que? Ele toma tiro, ele pega fogo, ele é atropelado ele é afogado… Mas o Jason nunca morre!


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