O último poema

Com a 7ª edição da Flip chegando ao fim, muitas pessoas já deixaram a cidade histórica. Alguns, exaustos, que não conseguiram passagem de volta ou carona – mesmo que fossem colocados à disposição inúmeros ônibus – vão ter que pagar mais uma noite de pousada. [nggallery id=14619] Segundo seus organizadores – Mauro Munhoz, diretor-geral; Flávio Moura, diretor de programação, e Cristina Maseda, coordenadora geral da Flipinha e da FlipZona -, que neste domingo (5) apresentaram os saldos da Festa, o resultado atingiu as expectativas, com destaque para passagens memoráveis como as do biólogo Richard Dawkins ou do escritor António Lobo Antunes, sem falar na maior conquista da organização: diminuir o número de visitantes que invadem Paraty nos cinco dias de Flip – pode parecer um paradoxo, mas esse é o principal objetivo e o maior desafio da administração. A Flip começou como um evento que pretendia transformar Paraty em uma referência em turismo cultural, e tornou-se vítima de seu próprio sucesso devido ao crescimento exponencial que obteve. Hoje, o objetivo é fazer a Festa crescer em projetos enraizados em Paraty, como a Flipinha e a FlipZona, e oxigenar o número já saturado de turistas, o qual fez com que a aura mais intimista do evento se dissipasse no decorrer das edições – o maior exemplo é o frenesi causado por Chico Buarque na sexta-feira.LEIA TAMBÉM:
Era uma vez…
O amigo do rei
Manhã de Flip bem-humorada
Vida de escritor
Sermões de Richard Dawkins
O velho e a literatura
Flores de plástico e amores expressos
Um divã para a China
A comédia da vida privada
A voz e o dono da voz
Cinema comercial
Escutando Alex Ross
Dicotomias
Weekend à francesa
O (re)contador de histórias
Que homem é aquele que faz sombra no mar?A Flipinha obteve um crescimento de 30% em relação à edição do ano passado, e a FlipZona foi uma boa surpresa: já em sua primeira edição, o site recebeu mais acessos que o site da própria Flip.A matemática da literatura35.200 ingressos vendidos34 autores participantes (19 brasileiros e 15 estrangeiros, de sete países)13 mediadores8 editoras649 pessoas envolvidas na organização25.000 visitantes (no ano passado, foram 30.000)R$ 3.700.000 foi o custo da Flip (30% provenientes da Lei Rouanet)R$ 1.300.000 foi o custo de outros projetos sociais, urbanísticos e educacionais relacionados à FlipR$ 920.000 foi o dinheiro derivado de outras parcerias da FlipR$ 5.000.000 é o valor estimado que circula na cidade nos cinco dias de FlipMesa derradeiraA tradicional mesa Livro de cabeceira, que finaliza a Flip todos os anos, foi composta nesta edição pelos brasileiros Tatiana Salem Levy e Rodrigo Lacerda, pelo mexicano Mario Bellatin, a francesa Sophie Calle, o afegão Atiq Rahimi, a irlandesa Anne Enright e o norte-americano James Salter. O diretor de programação e mestre de cerimônias Flávio Moura começou a mesa agradecendo aos diversos parceiros da Flip, e depois passou a palavra para Tatiana, que leu um trecho de Escrever, de Marguerite Duras. Em seguida, Rodrigo Lacerda leu uma passagem intensa de Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro, e contou que havia mudado sua leitura pela manhã, após ver o português António Lobo Antunes no debate de sábado. Já Bellatin leu Prosas apátridas, de Julio Ramón Ribeyro, seguido por Sophie Calle, que escolheu alguns parágrafos de O convidado surpresa, de seu ex-namorado, o escritor Grégoire Bouillier, que participou de conversa com a artista plástica no sábado. “Grégoire me deixou e, lendo este livro que ele me dedicou, espero finalmente colocar uma pedra nessa história”, confessou ela, que leu rapidamente, como se quisesse mesmo finalizar aquilo de uma vez por todas.Atiq Rahimi leu alguns poemas curtos, quase haicais, de mulheres afegãs, os quais o inspiraram para escrever seu último livro, Syngué sabour: pedra-de-paciência. Anne Enright separou as últimas páginas de Dublinenses, de seu conterrâneo James Joyce, e James Salter finalizou com elegância ao ler um fragmento de The enormous room, de E. E. Cummings. Sob chuva, o público deixou a tenda dos autores, com livros novos debaixo dos braços, de volta pra vida real.


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