Obama lá: quem podia acreditar há 20 anos?

Não, caros amigos do Balaio, não estou em Washington, nem é preciso estar lá para sentir que hoje vai ser um belo dia – desses de se guardar na lembrança para não esquecer nunca mais.

Vou apenas almoçar com o Washington Olivetto, mas para todos aqueles que ainda acreditam que o homem pode mudar a história, escrever seu destino com as próprias mãos e ter esperanças de viver num mundo melhor, mais justo e fraterno, esta terça-feira, 20 de janeiro de 2009, é um dia histórico.

Não, caros amigos do Balaio, esta não é uma notícia de rotina nem um dia como os outros, como agora parece nas manchetes.

A posse do primeiro presidente negro na nação mais poderosa do mundo é um marco carregado de tanto simbolismo que mexe com as expectativas do mundo todo. Eu ainda acredito que símbolos e sonhos podem mover o mundo, mais do que números e mercados, guerras e dogmas.

Há apenas vinte anos, por exemplo, quem acreditava que um jovem negro chamado Barack Hussein Obama chegaria lá?

Quem poderia imaginar que aquele recém graduado em Ciências Políticas pela Universidade de Columbia, nascido no Havaí, filho de um queniano, tomaria posse hoje, às 10 horas (13h00 no horário de Brasília), diante de mais de dois milhões de pessoas em Washington, como 44º presidente dos Estados Unidos, depois de exercer apenas um mandato como senador?

Obama acreditava – quer dizer, talvez ele, não sei. Quantos mais achavam que este sonho seria possível? “Yes, we can”, foi seu lema de campanha, e milhões acreditaram e o seguiram pelas primárias contra a favorita Hillary Clinton e, depois, no embate final com John McCain.

“Vocês vieram por acreditar no que esse país pode ser e vão nos ajudar a chegar lá”, disse ele, ao mesmo tempo otimista e humilde, para a multidão reunida domingo no Memorial Lincoln, já em meio à maratona de festas da posse mais concorrida da história americana.

Obama, sempre sorridente e confiante, não parecia preocupado com o triste e falido espólio do antigo império americano deixado por George W. Bush, em meio a duas guerras e à mais grave crise econômica desde a Segunda Guerra Mundial, um desafio assim resumido na manchete da revista satírica “The Onion”.

NEGRO RECEBE O PIOR EMPREGO DA NAÇÃO

Em 1989, faz apenas vinte anos, é bom lembrar que o presidente da república dos Estados Unidos era o pai deste George W. que está saindo pela porta dos fundos, com o mais baixo índice de popularidade de todos os tempos: míseros 22%.

No mesmo ano, o Brasil elegia Fernando Collor de Mello na primeira eleição direta após a longa ditadura militar. O mundo mudou muito, e para melhor, de lá para cá, apesar dos Collor, dos Bush pai e filho, de todas as guerras e crises sem fim.

Pois é, agora, apenas duas décadas depois, 80% da população brasileira apóia o governo do homem que Collor derrotou, o operário nordestino Luiz Inácio Lula da Silva, já na metade do seu segundo mandato. E 79% dos americanos, segundo as pesquisas, declararam-se otimistas na véspera da posse do negro Barak Obama.

Para chegar lá, os dois venceram obstáculos históricos, do racismo ao preconceito, daqueles velhos esquemas dos donos do poder que o meu amigo Cláudio Lembo chama genericamente de elite branca, uma gente antiga, rançosa e reacionária, que simplesmente não se conforma com as mudanças do mundo.

Nada como um dia após o outro (com uma noite no meio, é claro, que ninguém é de ferro). Mais uma vez, a esperança venceu o medo, renovando as esperanças globais.

Amanhã há de ser outro dia, como já anunciava o poeta. Obama é esta cara nova para um novo dia para um mundo novo. Eu acredito.


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