Meus caros, já disse por aqui que a humanidade ainda vai me matar de vergonha, frase emprestada de Mário Mendes, e, mais uma vez, vejo razões para acreditar nisso. Em meio à luta acirrada do movimento gay americano para derrubar a famigerada lei don’t ask, don’t tell, que nada mais é que a virtual proibição da entrada e participação dos homossexuais nas forças armadas americanas, o próprio Pentágono inicia uma pesquisa destinada às esposas (e maridos) de militares em serviço, indagando se eles permitiriam a permanência de seus colaterais em serviço, caso a lei seja derrubada. Isso ocorre ao mesmo tempo que campanhas fortes e milionárias são veiculadas na mídia, exigindo que Obama cumpra sua promessa de campanha e lute pela derrubada da lei, e, também, ao mesmo tempo em que se obtém a vitória no julgamento da Califórnia, apenas temporariamente suspenso. Trata-se da dinâmica da ação e reação, a população americana é mais dividida do que parece, e a distância entre os dois polos é mais longa do que se imagina. Não é um fenômeno apenas americano, o Brasil é igual, o tema levanta paixões em todo o mundo, e não exatamente das mais civilizadas. Trata-se do velho dogma: homossexuais e héteros não podem dividir os mesmos espaços, pois somos selvagens, e atacaríamos o sexo oposto. Vinda de um órgão como o Pentágono, a pesquisa só prova uma coisa: Obama está perdido no tiroteio, não tem coragem de peitar sua frágil bancada no Congresso, e quer ganhar tempo e argumentos que justifiquem seu silêncio, nem sequer o apoio de Nancy Pelosi e Colin Powell são capazes de encorajá-lo.
Ainda assim, me surpreende a impermeabilidade dos opositores a qualquer exemplo vindo de fora, das experiências incrivelmente positivas dos exércitos britânico e israelense, só para voltar a dois exemplos que já citei aqui – deve haver outros. Até mesmo o exemplo de Gareth Thomas, o super jogador de rúgbi que se assumiu, e que continua a dividir os vestiários com os colegas de time, e nada de insólito aconteceu, naquele universo brutalmente masculino. Não é Obama, com sua complicadíssima agenda política, mendigando os votos de republicanos, que vai entrar na briga como herói da vitória, que ninguém se iluda quanto a isso. Abraços do Cavalcanti.
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