Obama para exportação: temos tudo, menos o Obama

Passei a quinta-feira participando do seminário “O Efeito Obama”, organizado pela Graduate School of Political Management da The George Washington University, com patrocínio do Grupo Santander Brasil, que termina hoje, no Hotel Renaissance, em São Paulo.

Entre outros, fizeram palestras e participaram dos debates Ben Self, criador da rede na internet para arrecadar fundos e atrair voluntários, e o estrategista Jason Ralston, responsável pela publicidade da campanha de Obama.

Os craques americanos não só falaram das suas vitoriosas experiências que ajudaram a levar o improvável Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos, mas também se interessaram em saber o que vem sendo feito por seus colegas no Brasil na área do marketing político.

Durante o almoço, Rogério Schmitt, coordenador de pesquisas e estudos da CLP (Centro de Liderança Pública) fez um breve e sábio resumo de tudo o que ouviu. Nós já dispomos das mesmas ferramentas dos americanos em tecnologia, internet e infra-estrutura de campanha, somos muito criativos, temos tudo para fazer igual a eles. Só falta um detalhe: não temos um Obama concorrendo nas eleições de 2010.

Em outras palavras, não temos uma grande novidade para ser trabalhada, um produto original que cativou o eleitorado pela sua simpatia, entre outras virtudes e características de Obama.

Pelos nomes até aqui apresentados ao distinto público para concorrer em 2010, não há nenhum exemplo de grande simpatia, nem de originalidade na campanha presidencial brasileira. Ao contrário: as pessoas até brincam que as eleições do ano que vem podem virar um concurso de Miss Simpatia às avessas.

Sem desmerecer os méritos dos profissionais americanos e suas estratégias que ajudaram Obama a chegar lá, a verdade que é aqui falta o contraponto, um personagem que foi também muito importante para a vitória do primeiro presidente negro dos Estados Unidos: George Bush, o repúblicano que estava saindo, e foi um grande cabo eleitoral do candidato democrata.

Aqui, temos exatamente o contrário: o único nome novo no elenco é o da ministra Dilma Roussef, que nunca disputou uma eleição, mas é a candidata da continuidade do governo Lula, um presidente que chega ao final do mandato no auge da popularidade, o oposto de Bush. De outro lado, o candidato da oposição, José Serra, é um velho conhecido dos eleitores brasileiros de outros carnavais.

Num encontro promovido para exaltar a importância dos marqueteiros nas campanhas eleitorais, com a maciça presença de assessores de possíveis candidatos em 2010, a grande estrela do debate foi a crescente importância da internet, mas estranhamente ficou de fora um fator que costuma ser decisivo em campanhas eleitorais: a situação econômica do país no momento em que a população vai às urnas.

Discutiu-se muito também até onde Lula consegue transformar sua popularidade em votos para Dilma – Jason Ralston, por exemplo, não acredita nisso – mas só no final da mesa de que participei – “A Comunicação e as Eleições no Brasil em 2010″ -, ao lado dos marqueteiros políticos Antônio Lavareda, Luiz Gonzales e Marcelo Simões, levantei esta questão da economia.

Nos tempos de Bill Clinton, vocês devem se lembrar da frase “é a economia, estúpido”, celebrizada exatamente para falar da importância do bolso e do estômago dos eleitores na hora de votar.

Com o quadro de candidatos da eleição presidencial de 2010 a meu ver ainda indefinido, tanto do lado do governo como da oposição, a menos de um ano da abertura das urnas eletrônicas, quaisquer que sejam os nomes nelas incluídos, mais do que ferramentas de marketing político ou maravilhosas estratégias, acho que a eleição será decidida quando o eleitor responder a uma pergunta bem simples: minha vida melhorou ou piorou nos últimos oito anos em relação ao período anterior?

Nós já tivemos um personagem com as características de Obama nas eleições de 2002, com repeteco em 2006. Mas, agora, pela primeira vez nas eleições presidenciais diretas pós-ditadura, o nome de Lula não estará nas urnas eletrônicas. Vinte anos e cinco eleições depois, porém, as discussões em seminários como este de que participei ontem ainda se dão em torno de Lula e qual será o seu papel em 2010.


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