Ondas de 3 metros, canoas paradas

SÃO SEBASTIÃO – Daqui de onde escrevo, na varanda da minha casa, a meio caminho entre o mar e a montanha, dá para ouvir o barulho das ondas estourando na praia. O sábado amanheceu muito bonito, sem nenhuma nuvem no céu, as barracas todas montadas, ambulância, guarda municipal, as canoas esperando pelos competidores.

O povo foi chegando a pé, de ônibus e de carro, vindo de várias partes, estava tudo montado para o 18º Torneio Aleluia de Canoagem (ver o texto de ontem).

Mas quem sabe do mar, como os pescadores concorrentes, que chegaram de muitas praias e cidades vizinhas, percebeu logo que não havia a menor condição para a corrida de canoas – a grande atração da festa anual no Toque Toque Pequeno, antiga aldeia de pescadores neste pedaço encantado do litoral norte paulista.

Uma ressaca brava, com ondas de três metros de altura, fizeram a Defesa Civil hastear a bandeira vermelha, quer dizer, ninguém poderia entrar no mar. As velhas canoas ficaram paradas na praia, mas a festa foi bonita assim mesmo.

Sem se abalar, a incansável organizadora do evento, minha amiga Cristiane Lara de Oliveira, filha do Dico e da Lara, antigos moradores desta aldeia, encontrou logo uma solução para que ninguém ficasse triste: as cestas básicas e os 100 reais que os vencedores receberiam como premio foram sorteados entre todos os inscritos.

E as pessoas que vieram de longe para assistir à corrida também não perderam a viagem. Às nove da manhã, como previsto, Dico e sua equipe acenderam o fogo da churrasqueira em que seriam assados os 300 quilos de peixe doados para a festa, distribuidos de graça para todo mundo que apareceu, assim como os 1.000 cachorros quentes e os refrigerantes. Só a cerveja foi cobrada, a um real a lata.

A ressaca foi tão forte que tomou a faixa de areia e invadiu o local da festa em que foram montadas as barracas de comes, bebes e artesanato, e levou mesas e cadeiras do Barracuda, o meu bar-escritório na praia, de onde assisti a este belo, mas assustador espetáculo do mar mais bravo que já tinha visto.

Com crise ou sem crise, com ressaca ou sem ressaca, com corrida ou sem corrida de canoas, o povo aprendeu que o mais importante é não perder a alegria para fazer festa, seja como for.

Ainda aproveitei para comprar um belo caderno destes para fazer reportagem sem gravador, com capa de folha de bananeira, feita pela artesã Carmem, uma gentil senhora que me escreveu esta dedicatória:

“Ao senhor Ricardo, feito com carinho para uso carinhoso, Carmem L. Prado”.

Antes de ir embora, encontrei o velho amigo Dinho Leme, o antigo e novo baterista dos Mutantes, uma das melhores figuras que conheci na vida. Tomamos uma cerveja juntos e assim ganhei mais um dia honestamente. Não posso reclamar da vida


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