Iniciada em Fortaleza, no último dia 29 de novembro, a quarta edição do Festival Choro Jazz teve início com três dias de apresentações no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, trazendo shows de Tarcísio Sardinha, Moacir Bedê, Maurício Carrilho, Toninho Carrasqueira, Alexandre Penezzi e Alexandre Ribeiro. Depois de um hiato de três dias, o festival retomou as atividades, anteontem, 04.12, na idílica praia de Jericoacoara, no município Jijoca de Jericoacoara, a cerca de 300km da capital cearense.
Idealizado pelo produtor cultural Capucho, o Choro Jazz foi realizado pela primeira vez em 2009 e além de trazer feras da música instrumental e da MPB (que misturam outros gêneros, além do choro e do jazz), o festival também realiza anualmente dezenas de oficinas formando músicos locais. E foi justamente com uma apresentação da Bandão Choro Jazz, big band com 14 músicos, formados pelas oficinas, que o festival teve início na noite de terça feira. Homenageado pelo grupo de jovens músicos, que escreveram um arranjo para o tema Vestido Longo, de sua autoria, o multiinstrumentista Arismar do Espírito Santo subiu ao palco e dividiu guitarra com o prodígio Giuliano Eriston, de 17 anos. Aluno da oficina desde os 13, Eriston despertou um evidente fascínio, não só para o público que acompanhou entusiasmado a apresentação da big band, mas também para músicos tarimbados como o próprio Arismar, que viu o grupo ganhar forma no decorrer dos últimos anos, visto que ele colabora regularmente com as oficinas. “A formação foi aumentando, ganhou vários instrumentos e coube até violino com pandeiro. O show foi emocionante. A gente percebe que um pouquinho da nossa música passou e ficou por aqui. O Giuliano me convidou pra dar uma canja e foi uma coisa mágica. Ele é um guitarrista impressionante, vi ele nascer como guitarrista. Aliás, todos eles são excelentes músicos. E não podia ser diferente, pois esse é um lugar iluminado. Quando tudo acaba ainda fica um calor, o calor da música.”
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E esse mesmo calor fez-se presente na atração seguinte, a despeito de não tratar-se de uma big band, municiada de dezenas de instrumentos e de cadência percussiva. A magia veio do par de violões do Duo Assad, que tocou temas de Ernesto Nazareth, Heitor Villa-Lobos e impôs um silêncio reverente da plateia, tocada pelo virtuosismo barroco dos irmãos Sérgio e Odair. Fechando a primeira noite em Jericoacoara, o violonista Cainã Cavalcanti e o bandolinista Carlinhos Patriolino, virtuoses da música instrumental cearense, impregnaram a Praça Principal de Jericoacoara com muito choro.
A segunda noite foi aberta com o compositor carioca Cristovão Bastos e o alagoano João Lyra. Bastos empunhou piano elétrico e cantou temas de sua autoria. Ao violão, Lyra interpretou criações suas como o choro Curinguinha, composto em homenagem a Canhoto da Paraíba, gigante do violão brasileiro, morto em 2008. A dupla ainda apresentou temas conhecidos do grande público, como o clássico Noites Cariocas, de Jacob do Bandolim, Todo Sentimento, parceria de Bastos com Chico Buarque e Round Midnight, standard do pianista Thelonius Monk, vertido em choro, de cadência lenta, nas mãos do carioca e do alagoano.
Encerrando o segundo dia de shows, o compositor Guinga subiu ao palco com o clarinetista italiano Gabrielle Mirabassi e trouxe também outros dois convidados, o percussionista carioca Oscar Bolão e a cantora Mônica Salmaso – com quem Guinga, à exemplo do italiano, tem parceria estreita em sua carreira. “É uma joia tocar aqui, sobretudo por conviver com o grande talento dos músicos brasileiros. Ainda não sou brasileiro, mas estou tentando”, disse Gabrielle. Emocionado, após o final do show, o italiano viu surgir das mãos de Guinga uma charge, feita minutos antes por Paulo Caruso, durante a apresentação, onde ele sobrevoa Guinga, como se o clarinete o fizesse levitar como um anjo.
Satisfeito com a apresentação, Guinga revelou que, em cima do palco, ouvindo apenas o retorno, estava inseguro com a qualidade do som que chegava até a plateia. Talvez por isso, esteve introspectivo e calado nos três primeiros temas divididos com o italiano. Mas o que se ouvia da plateia era um encontro inspirado e o balanço foi mais que positivo, para o compositor. “O show foi maravilhoso. Quando anunciaram o nome do Gabrielle, pensei ‘parece que ele está mais famoso do que eu no meu próprio País’ e, lógico, estou brincando, pois a gente aprende que o coração das pessoas é o que fala mais alto, não tem esse negócio de pátria, cada um faz a música da sua terra, mas isso não impede que uma pessoa se apaixone pela música do outro. O Gabrielle se apaixonou pela música brasileira e para mim é uma honra vir com ele aqui defender minha música, da mesma forma que é uma honra tocar com o Bolão, um cara que merece que o Brasil o conheça melhor, pois ele é uma autoridade da percussão, principalmente, para a música carioca. A Mônica também é uma pessoa que sempre defendeu minha obra e fico feliz em tê-los aqui. Estou com 62 anos e o que eu espero é que Deus me dê muita saúde para eu continuar fazendo isso.”
Os shows prosseguem, hoje, às 21h, com apresentações dos gaúchos do Tambo do Bando e o violeiro Almir Sater. Às 17h, na Praça Principal de Jericoacoara o cartunista Paulo Caruso, ministrará uma oficina de quadrinhos. Paulo completa, hoje, 63 anos ou “31 e meio, a outra metade é do meu irmão”, como brincou, referindo-se ao também cartunista Chico Caruso. Paulo veio a Jericoacoara a convite do festival, para fazer a cobertura “chargística” dos acontecimentos. Amante do jazz, ele é também apresentador do programa A Cara do Jazz, veiculado semanalmente, as quartas-feiras, às 21h, na rádio Eldorado. O cartunista doou várias obras que estão sendo expostas e colocadas a venda, e terão a renda doada às oficinas do Choro Jazz. A celebração dos 63 anos do cartunista será em grande estilo. Os shows prosseguem até domingo, 09.12.
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