Operação França

Os Estados Unidos são o país das teorias conspiracionistas. Ideias de jerico e paranoias são unidas em teses das mais diversas. Uma das últimas foi a de que o presidente Obama é, na verdade, um “candidato da Mandchúria”. Ou seja: foi selecionado e doutrinado, plantado na sociedade americana, para, num futuro propício, ocupar a presidência e entregar o ouro para os bandidos. O golpe remete ao filme, com esse tema, que deu um Oscar a Frank Sinatra. Claro que parece muito improvável que inimigos de Tio Sam fossem escolher um mulato na esperança de que este fosse eleito a cargo executivo num país que, até recentemente, impedia os negros de votar. Num caso desses, o esquema deveria chamar-se “O candidato de Lisboa”.

Mas, por mais malucas que sejam as teorias que se espalham como pragas entre os americanos, quem vive no país acaba sempre sendo contaminado por cismas de conspirações. No meu caso a certeza de maracutaias secretas nada tem a ver com os Estados Unidos, mas sim com a França. Defendo a tese de que o serviço secreto francês envenenou a seleção brasileira na Copa de 1998. Antes que os francófilos comecem a gargalhar, deixem-me explicar. A prova mais contundente está materializada – com sobra de material – no artilheiro Ronaldo Fenômeno. Desde a fatídica véspera da decisão do caneco no estádio Saint-Denis, ninguém mais ouviu dizer que o jogador teve um episódio de convulsão. Quer me enganar que o homem sofreu um único ataque, justamente no dia anterior ao jogo com os donos da casa? Nem santo baixa em médium só uma vez.

O Ronaldão é apenas o exemplo que mais salta aos olhos – até por causa de seu físico. Mas todo o time do Brasil arrastou-se como um bando de zumbis naquele jogo em Paris. Estavam, claro, dopados. Eu cobri aquela Copa, estava no estádio, fiquei pasmo com a tonteira geral dos chamados canarinhos, que em termos aviários, estavam mais para dodôs. Em termos de futebol, a França era o Paraguai da Europa. Passou 114 minutos consecutivos sem fazer um único gol. Quando quebrou aquele jejum, foi através de uma jogada de um jogador de defesa. Aí, contra o Brasil, os caras fecham o primeiro tempo ganhando de dois a zero. Nem o Zidane acreditava que a fatura havia sido liquidada em tempo tão curto. Desceu as escadas para o vestiário dizendo “Dois a zero! Dois a zero!”.

O lateral Roberto Carlos não precisou de dopping: ele próprio já era uma droga. Mas o resto da turma… não sei não. O Rivaldo, que havia me dito dois dias antes que nem lhe passava pela cabeça perder aquele jogo, e me garantiu que levaria o caneco para passear em Pernambuco, caminhou pelo gramado como se estivesse com o caco cheio de Valium.

Agora me diga: tenho ou não toda a razão de estar cabreiro? Antes da final deste último Campeonato Paulista, não se soube que o Ronaldão tenha tido um treco. Faltou ao Santos uma equipe de sabotadores franceses.


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