Os 15 anos daqueles 15 minutos

Retrospectiva 2009 – o lado B da notícia

A final da Copa de 1994 ficou marcada pelo 0 a 0. Brasil e Itália jogaram durante 120 minutos sob o forte sol de Los Angeles, nos EUA, tentaram, correram, criaram (pouco, é verdade), mas a bola não balançou a rede. Outro fato marcante foram os 15 minutos de fama de Viola, que entrou no intervalo da prorrogação e quase se consagrou com um gol, que poderia ser o do tetra brasileiro. Relembramos aquele personagem, que continua irreverente.

Brasileiros – Você acha que, se fizesse o gol, o gol do título, mudaria muito o rumo da sua carreira dali pra frente?
Cara, o futuro a Deus pertence. No futebol, são frações de segundos que você tem de pensar para tocar ou para chutar. Eu acho que aquilo que foi posto ali era para acontecer, já tava escrito, não adianta a gente tentar mudar a história, porque a história de cada um de nós, seres humanos, já tá traçada.

Paulo Sérgio Rosa, o folclórico, irreverente e querido Viola. Neste 17 de julho, aniversário de 15 anos do tetra, ele falou ao site da Brasileiros sobre aqueles 15 minutos históricos que viveu, na tarde ensolarada de Los Angeles, nos Estados Unidos.

Quase 95 mil pessoas lotavam o estádio Rose Bowl. Pela primeira vez a terra do Tio Sam enchia um estádio para ver o futebol jogado com os pés. Dois tricampeões em campo. Brasil e Itália decidiriam quem sairia do estádio para a história. Apenas um teria a glória do tetra.

De um lado, o já conhecido futebol físico e eficiente da Itália, com lampejos de genialidade do melhor jogador do mundo na época, Roberto Baggio. Do outro o Brasil, que chegou desacreditado pela campanha sofrida nas eliminatórias, mas que, amparado na dupla Romário e Bebeto e no sistema defensivo consistente, cresceu muito durante a Copa.

O Brasil estava há 24 anos sem um título e vinha de uma Copa de 90 muito fraca, na qual foi derrotado pela Argentina ainda nas oitavas-de-final.

“Eu não fiz parte do grupo de 90, mas a gente escuta nos bastidores que, apesar de ser um bom time, tinha muita vaidade no grupo, era cada um por si e Deus por todos. Agora, a seleção de 94 não, ali era uma verdadeira família. Não teve egoísmo, não teve vaidade. Onde comia um, comiam todos, onde ganhava um, ganhavam todos. Por isso, fomos campeões”, contou Viola.

No dia da grande final de 1994, o centroavante, quarto reserva de Parreira (além da dupla Romário e Bebeto, Muller era o reserva imediato do ataque, que ainda tinha o menino Ronaldo como opção), lembra que o grupo tinha total confiança no título. Apesar de a partida contra a Itália ter durado intermináveis 120 minutos e ter sido decidida apenas nas cobranças por pênaltis, ele conta que a mais difícil da Copa foi nas quartas-de-final, contra a Holanda. “Na hora que a gente chegou à final, tinha a certeza que, de uma forma ou outra, a gente tinha que trazer a taça para o Brasil“.

O jogo foi tenso do início ao fim. Por mais que o Brasil atacasse, a bola teimava em não entrar. Se não era a trave salvando de maneira espetacular o goleiro Pagliuca, após chute forte de Mauro Silva, era o baixinho Romário perdendo gols que ele normalmente faria de olhos fechados. A Itália assustou em poucos momentos. Porém, um tal de Paolo Rossi nos ensinou a nunca subestimar a Azurra.

Os 90 minutos se acabaram e nada. O Brasil inteiro estava literalmente parado. Nesse momento da partida, ainda mais por sua importância, as pernas dos protagonistas daquela tarde começavam a pesar e a técnica estava ficando de lado. Sairia vencedor quem mostrasse mais garra e coração. Foi então que o defensivo Parreira resolveu ousar: sacou o meia Zinho e colocou Viola em campo, deixando o Brasil com três atacantes.

“O Parreira me pediu para jogar do lado esquerdo do campo, bloqueando a descida do lateral. Eu estava treinando bem, bem fisicamente e capacitado para fazer aquela função, ou seja, marcar e jogar. Só que eu preferi, cara, jogar e fazer com que o lateral se preocupasse comigo. Eram 15 minutos finais e não tinha que só marcar. Eu queria jogar!”, recorda Viola, revelando a desobediência sadia às ordens de Parreira.

Numa das desobediências, Viola quase se consagra. Recebe bola na direita do ataque, na intermediária italiana, parte para cima, leva três jogadores com sua canhota e clareia para bater no gol. Mas, ele foi desobediente somente com Parreira. No último instante, tocou para Romário, que foi travado pela zaga italiana em tentativa de chute.

“O gol não era para ter saído. Estava escrito que era para terminar como terminou, 0 a 0, ir para os pênaltis, o Baggio errar, o Baresi também e o Brasil ser tetracampeão”, conta Viola, resolvido por não ter sido o herói maior do título, honrado e feliz por ter feito parte do grupo campeão

Para terminar o curto papo de lembranças e histórias daquele dia, ele brincou sobre o vídeo que fez este ano, com a “provocação” para desconcentrar Baggio na hora do pênalti. Sob contrato, Viola não pode falar muito sobre o filme, mas tirou onda. “Foi uma coisa legal que eu falei, cara”.

O irreverente Paulo Sérgio Rosa foi um dos personagens daquele feliz 17 de julho de 1994. Está na história, como todo o grupo campeão do mundo de futebol.


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