Os 30 anos de PT vistos cá de fora

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ESTÁ CIRCULANDO EM MEU NOME UM E-MAIL COM O TÍTULO “CONVITE ESPECIAL”. NÃO ABRAM! É VIRUS! RECEBI ESTE E-MAIL HOJE DE MANHÃ EM NOME DE RICARDO GIRALDEZ (UM FOTÓGRAFO MEU AMIGO) E NÃO CONSEGUI ABRIR O ANEXO. EM SEGUIDA, VÁRIOS AMIGOS RECEBERAM O MESMO TEXTO COMO SE FOSSE MEU.

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RICARDO KOTSCHO

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Veja (a revista não pública mais números)

José Roberto Arruda na prisão

Peso sob controle

Inchaço da máquina estatal federal

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Vi pela televisão as belas e emblemáticas imagens da aclamação de Dilma Roussef como candidata a presidente da República, ao final do IV Congresso do PT que comemorou neste sábado os 30 anos do partido, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília.

Alguns amigos e leitores estranharam que eu não estivesse lá, mas a razão é simples: porque não fui convidado. Esqueceram de mim Nem por isso deixei de me emocionar e ficar muito feliz como as mais de duas mil pessoas que lá estavam vendo aquelas cenas da chuva de estrelas caindo sobre Dilma, entre Lula, Marisa e Zé Alencar, um retrato bonito de fôrça e unidade partidária.

Cá de fora, senti-me da mesma forma participante desta história que acompanhei por dentro e de perto, desde antes da criação do PT, embora nunca tivesse me filiado ao partido.

Em 1978, ao voltar de uma temporada como correspondente do Jornal do Brasil na Europa, ainda na juventude dos 30 anos, dei a sorte de cair direto no ABC, a região conflagrada próxima a São Paulo, onde um movimento de metalúrgicos liderado por um tal de Lula, que eu ainda não conhecia pessoalmente, se levantara contra a ditadura militar na defesa dos seus direitos e se transformou no centro de resistência democrática.

Escalado por Mino Carta, o bravo criador e comandante da primeira fase da revista IstoÉ, tornei-me uma espécie de correspondente de guerra no ABC, de onde escrevia quase toda semana sobre assembléias, greves, intervenções, conflitos de rua, negociações e os novos personagens que brotavam daquele movimento.

Naquela época, Lula, que ainda não havia incorporado o apelido ao nome Luiz Inácio da Silva, nem usava barba, não podia nem ouvir falar em partido político. Seu mundo se resumia à luta dos trabalhadores por melhores salários e ele queria distância, tanto da velha esquerda manietada pela ditadura, como dos intelectuais que a cada dia mais se assanhavam com o que acontecia de novo naquele reduto de fábricas e peões.

Logo nos tornaríamos amigos, cada um respeitando o papel do outro, o que me permitiu ter acesso a fontes e informações que foram muito importantes no meu trabalho como repórter, sem nunca brigar com os fatos.

Em menos de dois anos, porém, sua figura e o movimento que comandava já haviam conquistado tal projeção nacional que não cabiam mais na velha sede do sindicato da rua João Basso, no centro de São Bernardo do Campo, perto do bar do Gordo, onde se servia um caprichado caldo de mocotó.

Com a anistia, a volta dos exilados, a crescente força da Igreja progressista nas comunidades de base, a movimentação pela criação de novos partidos em lugar dos dois consentidos pela ditadura – Arena e MDB – e o renascimento do movimento sindical em todo o país, na esteira do ABC, o que Lula por princípio não queria acabou acontecendo: em 1980, surgia o Partido dos Trabalhadores, quase como o desaguadouro natural de todas as lutas pelo fim do regime militar e a volta da democracia.

Em torno de Lula, disputavam espaço no comando do novo partido lideranças sindicais e da academia, da esquerda ortodoxa e da que estava deixando a clandestinidade, e membros da Igreja progressista, formando um barulhento saco de gatos que não estava previsto nos manuais da política brasileira.

Para se ter uma idéia, num dos primeiros encontros do novo partido para definir seu programa e a direção, ainda em 1980, na Câmara Municipal de São Paulo, os debates estavam tão acalorados que um velho colega de jornal veio me alertar: “Você que é amigo do Lula avisa ele que, se não derem um jeito nisso, a turma do sindicato vai perder o comando do partido para esses malucos”.

Levei a preocupação do colega ao Lula e ele riu, respondendo de bate pronto: “E você quer que eu faça o que? Chame a polícia?”.

Nos 30 anos seguintes, Lula nunca teve que chamar a polícia para acalmar seus companheiros mais radicais, que se organizaram em tendências minoritárias dentro do partido. Até hoje, muitos deles defendem as mesmas propostas daquele tempo, como aconteceu ainda agora no Congresso de Brasília, assustando alguns setores da imprensa que ainda não entenderam o que é o PT. Faz parte do jogo, diria seu criador, dando de ombros, e seguindo em frente.

O fato é que os mesmos movimentos sindicais e populares que deram origem ao partido estão lá até hoje e formam sua sólida base social, algo único na estrutura partidária brasileira, que diferencia o PT dos demais.

Só na boa conversa, sabendo como e aonde queria chegar, Lula foi levando o barco até fazer o partido entender, em 2002, que, sozinho, sem fazer alianças, sem se abrir para o conjunto da sociedade, o PT jamais chegaria lá. Eleito e reeleito presidente da República, do alto dos 80% de aprovação do seu governo, que mudou a cara e a alma do país, agora ele comanda o processo da sua sucessão, desde a indicação da candidata até a política de alianças.

Acho que nem ele, nos seus sonhos mais delirantes, entre uma greve e outra no ABC dos anos 1970, ao longo das intermináveis negociações com os patrões ou nos dias que passou na cadeia do DOPS, poderia imaginar que, três décadas depois, um operário como ele, sertanejo de Caetés, iria dormir mais uma vez no Palacio da Alvorada, depois da festa de lançamento de uma mulher à Presidência da República, tendo ao lado um dos maiores empresários do país, os três aplaudidos por todo o PT.

Quem estiver interessado em saber mais sobre como tudo isso foi possível acontecer, desde o começo, recomendo a leitura do livro “Do Golpe ao Planalto – Uma Vida de Repórter”, da Companhia das Letras, de minha modesta autoria, lançado em 2006.

Só posso dizer que valeu a pena ter vivido este tempo e ajudado a tornar realidade sonhos que pareciam impossíveis.

Bom domingo a todos.

Em tempo: alguns leitores me escrevem perguntando o que acho de toda esta discussão sobre uma dicotomia entre “lulismo” e “petismo”. Acho uma grande bobagem, como se fosse possível separar um ente do outro, criador e criatura. Por isso, é que nem toquei neste assunto no meu post.

“Lulismo” e “petismo” estão umbilicalmente ligados, um não vive sem o outro, apesar das eternas disputas internas e dos eventuais desencontros. Ou alguém poderia imaginar o Lula no PSDB do Álvaro Dias, no DEM de Rodrigo Maia ou no PPS de Roberto Freire?

O que os grandes sábios ainda não entenderam é que programa de partido é programa de partido, programa de governo é programa de candidato e governo é governo, tem que governo para todos, ora pois, pois. Será que é tão difícil entender a diferença?


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