Os altos e baixos de Ganso

Foto Divulgação

Em 2005, um garoto franzino que atuava nas categorias de base do Paysandu, clube de Belém do Pará, chamou a atenção do meia Giovanni, um dos grandes ídolos da história do Santos Futebol Clube. O toque refinado e a visão de jogo do jovem, então com 15 anos de idade, encantaram o veterano jogador, que rapidamente costurou um acordo com a diretoria do Santos e levou Paulo Henrique Ganso ao litoral paulista por R$ 900 mil.

Não demorou para que Ganso começasse a conquistar seu espaço nas categorias de base do Santos. Em 2008, o atleta vestiu a camisa 10 do clube na Copa São Paulo de Futebol Júnior, principal competição esportiva sub-19 do Brasil. A campanha do Santos ficou aquém do esperado e a equipe foi eliminada pelo Internacional nas quartas-de-final, mas começava a despertar entre os olheiros e especialistas a esperança de que aquele jovem de semblante sério e futebol inteligente se tornasse um dos grandes craques do país. Sempre atento aos talentos nacionais, o jornal esportivo italiano La Gazetta dello Sport colocou Ganso entre as principais revelações da “Copinha”, apelido pelo qual o torneio ficou conhecido no Brasil.

As boas atuações na base renderam ao meia suas primeiras chances no profissional. Contudo, o jovem paraense, ainda tímido, precisou de alguns jogos para se firmar entre os profissionais. Com algumas atuações pouco inspiradas no Campeonato Paulista e no Campeonato Brasileiro, Ganso precisou esperar até o seguinte para finalmente começar a brilhar com a camisa santista. No ano seguinte, marcou seu primeiro gol como profissional contra o Guarani, em partida válido pelo Paulistão daquele ano.

Ainda conhecido como “Paulo Henrique Lima”, Ganso conduziu a bola pela intermediária e acertou um belo chute de fora da área para selar a vitória santista. A jogada se tornaria usual na carreira do meia, que a partir dali passaria a ser presença constante na equipe titular do Santos. Ao lado do amigo Neymar, Ganso se destacou no Campeonato Brasileiro de 2009, e a dupla iniciou a parceria que seria a receita de sucesso para os diversos títulos que o Santos conquistaria dali em diante.

Mas foi mesmo em 2010 que a dupla Ganso e Neymar selaram seu nome na história do time de Pelé. Com um time jovem e extremamente talentoso, a equipe foi campeão do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil daquele ano. Goleadas, dribles e jogadas espetaculares se tornaram fato comum nos jogos do Santos. Com a aproximação da Copa do Mundo e as impressionantes atuações da dupla, o então treinador da seleção brasileira Dunga recebeu uma enorme pressão para convocar os dois jogadores. De forte gênio, Dunga não se abalou com os pedidos do povo, e os dois jogadores não foram levados para a África do Sul.

O fracasso da seleção em solo africano culminou na saída do técnico Dunga e na contratação de Mano Menezes, que havia se destacado no Grêmio e no Corinthians. Com uma proposta de renovação, o treinador deu chance aos garotos santistas logo em sua primeira convocação, e Ganso não decepcionou. Atuando como titular no amistoso contra os EUA, Ganso teve boa atuação e despontou como possível camisa 10 que conduziria a nova fase da seleção.

A sorte, no entanto, daria o primeiro golpe contra a carreira do atleta. Em partida contra o Grêmio, o meia sofreu uma ruptura do ligamento cruzado de seu joelho esquerdo. A lesão afastou o meia dos campos por seis meses e iniciou um período sombrio para Ganso. Com o retorno em 2011, o meia se destacou como uma das armas do Santos para tentar conquistar o tricampeonato da Libertadores da América. Contudo, uma nova lesão impediu com que o jogador atuasse durante as fases mais agudas da competição. Mesmo de fora, Ganso acompanhou o time praiano avançar até às semi-finais. O meia conseguiu se recuperar a tempo de disputar a segunda partida da decisão contra o Peñarol, e contribuiu para o título ao dar passe para Neymar marcar o primeiro gol santista. A vitória por 2 a 1 selaria o título.

No mesmo ano, boatos de que o atleta poderia ser negociado com o Corinthians começaram a surgir. A informação foi desmentida tanto pelo estafe do jogador quanto pelo Santos, mas as notícias de uma possível insatisfação entre clube e jogador passaram a ser freqüentes nos noticiários esportivos. A situação passou a se tornar insustentável já em 2012. Sem conseguir alcançar uma sequência de jogos  e prejudicado por diversas lesões, o atleta viu seu companheiro e amigo Neymar ser cada vez mais valorizado na equipe. Em contrapartida, os litígios envolvendo a DIS – então dona de 55% de seu passe – e o Santos passaram a prejudicar ainda mais o futebol do craque, e os primeiros indícios de que o jogador poderia atuar pelo rival São Paulo começaram a surgir na mídia. Em baixa no Santos e na seleção – onde perdeu a vaga de titular durante a Olimpíada de Londres – Ganso passou a ver com bons olhos uma transferência para o rival paulista.

Não demorou para que o Tricolor concretizasse a primeira oferta oficial pelo meia. Outras três se seguiram, e a cada dia novos fatos e boatos surgiam na negociação. Propostas de renovação, interesse do Grêmio, divergências entre Santos e DIS foram algumas das situações que permearam os 32 dias de negociação entre São Paulo, DIS e Santos. Após muita especulação, prevaleceu a vontade do jogador em atuar no clube do Morumbi.

Depois de uma reunião na capital paulista, representantes dos clubes, da DIS e o próprio jogador se reunirão na Vila Belmiro, em Santos, onde foi assinado o distrato de Ganso com o Santos e o contrato do atleta com o São Paulo por cinco anos. Pela negociação, o Santos recebeu R$ 23,9 milhões, mais 5% de porcentagem em uma possível venda futura. O São Paulo investiu cerca de R$ 16 milhões, e agora tem 32% do passe do jogador. Já a DIS, que injetou mais R$ 7 milhões no negócio, aumentou sua porcentagem para 68%.

O fim da novela trouxe alegria aos torcedores do São Paulo, que desde o começo se empolgaram com a possibilidade de ter o camisa 10 – que agora vestirá a 8 – em seu time. Resta ao craque agora justificar seu investimento e provar que sim, ainda é capaz de ser o atleta que encantou o Brasil com seu toque de bola refinado e sua visão de jogo privilegiada.



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