A história das relíquias de Buddha Shakyamuni remonta a 2552 anos atrás. Logo após a cremação do corpo de Buddha, elas foram distribuídas entre os reinos da Índia, e, mais tarde, espalhadas pelos diversos países budistas da Ásia. As relíquias que chegaram ao Brasil no dia 14 de novembro, trazidas por Lama Gangchen Rinpoche, e que estão expostas à visitação pública no Centro de Dharma da Paz – local de desenvolvimento e aprimoramento dos ensinamentos budistas, em São Paulo -, foram preservadas no Sri Lanka durante os últimos 2000 anos.
A vinda delas foi especialmente programada para trazer boas energias nessa época de crise econômica mundial e é também uma forma de promover a paz no mundo ao possibilitar a transformação das mentes das pessoas.
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Quando os corpos de grandes mestres espirituais são cremados, surgem cristais parecidos com pérolas entre as cinzas. No Tibete, o nome dado a esses cristais é “Ringsel”, que significa “preservar-se ou continuar existindo por muito tempo”. Esses “Ringsel” são considerados especiais por guardarem a essência das qualidades do mestre para as futuras gerações. E quando encontradas em meio aos restos mortais de um mestre indicam sua elevada realização e poder espiritual em vida.
Lama Gangchen, que traz esse tesouro ao Brasil, começou a freqüentar o País na década de 1980. Foi em uma de suas visitas que conheceu Michel, um menino de 5 anos, filho de um casal que assistia a seus ensinamentos. Lama Gangchen reconheceu e identificou o garoto como a reencarnação de uma linhagem de lamas tibetanos, mais precisamente de Guelong Wanguiela Lobsang Chöpel. Aos 12 anos, Michel tornou-se monge e passou a viver em um monastério no Sul da Índia. Em 1994 foi entronizado como Lama Michel. O nome Michel significa “homem de cristal” ou “aquele que ilumina o caminho para os outros”. Ele foi a primeira e única criança brasileira a receber o título de Lama (mestre, em tibetano), um alto sacerdote da religião budista. Junto com Lama Gangchen, orienta o Centro de Dharma da Paz e outros centros e grupos no Brasil.
O nosso Lama
Brasileiros entrevistou com exclusividade, por telefone, o Lama Michel Rinpoche, que segundo o budismo é a reencarnação de Guelong Wanguiela Lobsang Chöpel, que foi mestre e assistente de Lama Gangchen.
Brasileiros – Como você analisa a crise econômica mundial?
LAMA MICHEL RINPOCHE – Não entendo nada de economia mas tenho uma visão budista e espiritual. De acordo com a lei da impermanência, todos os fenômenos no Universo seguem um constante movimento de expansão e contração. Dessa forma tudo que é acumulado, mais cedo ou mais tarde, também diminui e acaba. Não existe nenhuma situação na qual algo só cresce. São três tipos de sofrimento com relação aos bens materiais: o de acumular bens materiais, o de manter os bens que foram acumulados e o de fazer crescer aquilo que já foi acumulado. No mundo contemporâneo foi criado um sistema econômico no qual todo o bem-estar do ser humano está baseado na situação econômica de cada um. Todos desejam ser felizes e não se satisfazem com a felicidade que possuem. Como ninguém está completamente satisfeito, projeta a sua felicidade no crescimento econômico e nunca aceita uma perda como algo natural da própria natureza da economia. A razão principal da crise é a grande ilusão em que vive a humanidade, de que a felicidade vem apenas do desenvolvimento material – é o que eu chamo de utopia materialista. A crise é fruto da atitude egoísta do ser humano. Foi esquecida a interdependência entre as pessoas. Enquanto acharmos que uma pequena parte do mundo pode viver bem e o resto da humanidade em condições de pobreza, não há meios de sustentar essa situação. Para mudar esse cenário é preciso transformar a base dos valores, caso contrário, serão feitas adaptações e pequenas mudanças que de nada vão adiantar. Esta é uma grande oportunidade para se rever os paradigmas e parâmetros da sociedade moderna e espero que seja bem usada.
Brasileiros – Qual a importância das relíquias de Buddha?
L.M.R. – Buddha Shakyamuni foi alguém como nós, num corpo de carne e osso como o nosso, que conseguiu transformar a sua existência, eliminando as causas do sofrimento e, por sua vez, o próprio sofrimento. As relíquias provam que Buddha não foi uma invenção. E elas emitem bênçãos que são a energia pura de transformação transmitida por uma mente iluminada como a dele. Existem três tipos de bênçãos: um ser que abençoa outro ser, um ser que abençoa um local e um local que abençoa um ser. Buddha abençoou com sua mente iluminada seres e lugares e qualquer célula do seu corpo mantém essa energia iluminada de bênção. Assim, as relíquias têm um grande poder de transformação – a bênção não pode fazer nada por nós, mas funciona como um empurrão interno, desperta energias internas que podemos usar para uma transformação positiva. Essas relíquias abençoam as pessoas e os lugares por onde passam, criando uma força de transformação na cidade e no País.
Brasileiros – Qual é a sua visão sobre o Brasil?
L.M.R. – Acredito no Brasil e no seu potencial, não só no futuro, mas já no presente. Os brasileiros são pessoas de mente muito aberta, têm afinidade espiritual. E do ponto de vista ambiental é um dos países mais ricos do mundo. O Brasil, para melhorar e desenvolver-se, precisa estimular o que o brasileiro possui de melhor do ponto de vista cultural, espiritual e material. E isso deve ser reconhecido no momento atual, pois senão essa preciosidade não vai ser usada de forma correta. Para que a sociedade cresça como um todo, é necessário dar prioridade ao bem comum e não aos interesses individuais. Temos um grande potencial humano e material, mas como devemos usar isso? De forma altruísta, dando prioridade ao Brasil. Em geral não reconhecemos ou damos pouco valor aos nossos recursos, usando-os de maneira errada. Devemos investir no cultivo desses bens.
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