Os dois lados do Muro de Berlim, trinta anos atrás

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Balaio

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Trânsito paulistano: 102

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Folha

Marcha para Jesus: 73

Minissaia na faculdade: 52

Aposentados: 44

Veja

Apocalipse: 67

Manual da civilidade: 35

Michael Jackson: 31

***

Nesta segunda-feira, dia 9, o mundo comemora os vinte anos da queda do Muro de Berlim, símbolo da Guerra Fria. Quando estive lá pela primeira vez, em 1978, parecia que aquela pavorosa divisória de cimento entre Berlim Ocidental e Berlim Oriental, erguida em 1961, seria para sempre. Já fazia parte da triste paisagem do mundo dividido.

Era correspondente do Jornal do Brasil na então Alemanha Ocidental e morava em Bonn, a bucólica cidade universitária e administrativa que se tornara a capital do país quando o país foi dividido no pós-guerra. Na minha ignorância, só quando fui a Berlim fazer uma reportagem descobri que a cidade não ficava na fronteira entre os dois países, mas bem no meio da República Federal da Alemanha.

Fui de trem, umas seis ou mais horas de viagem, para entrevistar o exilado Luiz Travassos, um dos líderes do movimento estudantil no Brasil e último presidente da UNE antes de a entidade ser posta fora de combate pelos militares.

A entrevista com Travassos, que morreria em acidente de automóvel pouco tempo depois de voltar ao Brasil com a Anistia, fazia parte de uma série de reportagens com os líderes do movimento estudantil de 1968, dez anos depois da célebre rebelião dos jovens que começou em Paris e varreu o mundo, marcando a minha geração.

Era Semana Santa e aproveitei a viagem de trem para escrever outra reportagem que não estava na pauta (era comum naquele tempo a gente viajar para ir atrás de um determinado assunto e voltar com duas ou três matérias). “O trem da Semana Santa” foi uma das reportagens que mais gostei de escrever, porque me permitiu mostrar os dois mundos em que se dividia a Alemanha, baseando-me em histórias da vida real, como conto no meu livro de memórias “Do Golpe ao Planalto – Uma Vida de Repórter” (Companhia das Letras, 2006).

Um trecho da reportagem em que narro minha conversa na cabine do trem com algumas velhinhas muito espirituosas:

Onze da manhã de Quinta-feira Santa em Berlim. A primavera começou oficialmente ontem, como anunciaram as rádios e televisões, mas ainda há neve nas ruas. Chove, e faz um frio de outono na antiga Capital do Reich, onde o sol há muito não aparece. Não fosse por isso, a plataforma 12 da principal estação ferroviária de Berlim Ocidental – a do Jardim Zoológico – faria lembrar qualquer desses entrepostos de retirantes do Nordeste brasileiro.

Crianças chorando, a agonia das pessoas em busca de um lugar nos dezesseis vagões do trem lotado, malas perdidas, sacolas em todas as mãos, aleijados tentando abrir portas com as muletas – o D-345 mais parece um pau-de-arara eletrificado, em que não faltam cachorros e passarinhos. Mas sai exatamente dentro do horário previsto()

Ah, a televisão. As mulheres lembram da época em que a polícia da Alemanha Oriental quebrava todas as antenas que estavam voltadas para o lado ocidental. Depois, para impedir que se sintonizasse a televisão colorida da Alemanha Ocidental, implantaram o sistema francês, que exigia um transformador, cuja importação era proibida. Proliferaram então as “vovós contrabandistas”. Elas contam:

– As vovós (do lado oriental) nunca viajaram tanto como agora. É que com elas o controle da alfândega é menos rigoroso. Minha sogra era uma artista. Ficava tremendo o tempo todo, tinha ataques, a polícia só faltava carregar as malas para ela, não revistavam nada

Uma das poucas vantagens de ficar velho na profissão é esta: a cada evento que lembra fatos de 20, 30, 40 anos atrás, tenho uma história para contar porque estive lá e vi de perto. Neste caso das “vovós contrabandistas”, que ajudavam a sintonizar o lado oriental com o ocidental, não poderia existir nada mais emblemático do que esta preocupação do governo comunista em impedir que as pessoas vissem as imagens vindas do outro lado do muro, com a oferta de produtos e serviços que não podiam encontrar em seu país.

Ainda esta semana, contei a vocês os fatos de 9 de novembro de 1979, um ano depois de eu ter voltado ao Brasil, quando Carlos Mariguella, o líder da Ação Libertadora Nacional, foi morto numa emboscada pelo delegado Sergio Paranhos Fleury, na alameda Casa Branca, perto de onde moro hoje. Eu também estava lá nesta noite, há 40 anos, como repórter do Estadão, e voltei lá na quarta-feira, durante uma homenagem a ele prestada, para escrever um texto sobre sua viúva, Clara Charf, publicada aqui no blog.

Como me acusam alguns leitores, acho que estou mesmo ficando velho. Tudo está fazendo muito tempo

Minha opinião

De Caetano Veloso falando sobre Lula ao dar seu apoio à candidata Marina Silva:

“Marina Silva é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem”.

Minha opinião sobre Caetano Veloso:

Já foi um bom compositor, é um cantor mediano e nunca deixou de ser um analfabeto político – uma mistura de Rui Barbosa em compota com ACM em conserva, que se acha o gênio da raça. Prefiro Maria Bethania.


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