Ninguém mais duvida da ousadia da empresa JBS-Friboi, que assumiu a liderança absoluta no mercado mundial de carnes, após adquirir as norte-americanas Swift Foods e Pilgrim’s Pride, e anunciar a incorporação do Bertin, seu maior concorrente direto no Brasil. Porém, hoje o maior grupo privado do País, com 125 mil funcionários e um faturamento superior a R$ 60 bilhões anuais, também quer surpreender na esfera social, o que explica o lançamento, em meados de setembro, de um projeto que promete se tornar centro de excelência na área educacional: a Escola Germinare, uma instituição voltada para jovens de 10 a 17 anos, totalmente gratuita – além de não cobrar mensalidades, oferecerá uniformes e alimentação – e que funcionará diariamente em período integral, das 7h15 às 17 horas.
Instalada na própria sede da companhia, na Marginal do Tietê, próxima à ponte da Anhanguera, em São Paulo, a Germinare vai ter tudo aquilo que um colégio de alto padrão – com mensalidades de, no mínimo, R$ 1.500 por estudante – tem para oferecer a seus alunos. Apenas para erguer o prédio da escola e equipar as salas de aula, o grupo JBS-Friboi desembolsará cerca de R$ 7 milhões, sem contar com os gastos com o quadro de funcionários, ainda não quantificados pela empresa. Já em fase de construção, o projeto arquitetônico da escola é assinado por Paulo Sophia, um dos principais especialistas brasileiros em edificações educacionais, e será divido em dois ambientes – um reservado para a área acadêmica e o outro direcionado para atividades culturais e a prática de esportes.
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No interior do prédio, os estudantes terão à disposição salas de aula equipadas com computadores e lousa eletrônica (onde tudo que for anotado pela professora pode ser armazenado em um pen-drive), biblioteca informatizada (para que seja possível consultar de casa os livros do catálogo) e laboratórios de informática, ciências, física, química e biologia, além de ginásio poliesportivo, piscina semiolímpica, sala de artes, auditório e refeitório.
Com inscrições abertas no dia 28 de setembro, a Germinare funcionará a partir do ano letivo de 2010, inicialmente oferecendo vagas para 180 alunos, de 6o e 7o anos do Ensino Fundamental. “Nos anos seguintes, abriremos outras vagas e, até 2015, nossa intenção é abrigar entre 800 e 1.000 alunos, ampliando também para o Ensino Médio”, diz Vivianne Mendonça Batista Silveira, dirigente do Instituto JBS, entidade criada recentemente para consolidar os investimentos do grupo nas áreas sociais e de sustentabilidade. “A escola de São Paulo é um projeto-piloto e temos como meta abrir, no futuro próximo, mais instituições como esta em outras localidades do País”, afirma Vivianne.
A escola nasce com a intenção de preparar não só alunos capazes de estudar nas melhores universidades do País, mas que também estejam prontos para lidar com os principais desafios do competitivo mercado de trabalho. “Seguindo o conceito da própria JBS-Friboi, a Germinare pretende formar verdadeiros líderes, que possam desenvolver as habilidades necessárias para o bom desempenho profissional, sem esquecer de priorizar os valores de cidadania, como a ética e o respeito humano”, afirma Myriam Tricate, responsável pelo plano pedagógico da escola. “Queremos ser reconhecidos como uma escola que ensinará ao aluno o que realmente será necessário para a sua vida adulta, dentro e fora do ambiente de trabalho”, acrescenta.
Para isso, o currículo escolar da Germinare terá aulas intensivas de inglês (quatro por semana) durante o Ensino Fundamental e, a partir do Ensino Médio, as turmas também aprenderão espanhol. Os estudantes ainda terão aulas de empreendedorismo, que vão simular as situações vividas nas companhias. “Nossos alunos aprenderão a desenvolver projetos e tocar o próprio negócio. Também levaremos os estudantes para dentro do ambiente das empresas, para que eles possam conhecer de perto o modo como elas trabalham”, diz Myriam. A escola, continua a pedagoga, oferecerá uma atenção especial para as atividades culturais e esportivas. “Teremos, por exemplo, aulas de teatro e de música e muitas atividades ligadas ao esporte, na piscina ou em nossa quadra”, afirma.
Segundo o diretor pedagógico da escola, Úmile Calasso Sobrinho, engana-se quem pensa que o projeto Germinare, por ser gratuito e oferecer aulas em tempo integral, terá alguma característica assistencialista. “Aqui não será um local para se usar como creche, em que os pais colocam os filhos apenas para ter tempo disponível para fazer outras coisas”, diz Sobrinho. “Os pais terão de conscientizar seus filhos que será preciso agarrar com todas as forças essa oportunidade única proporcionada pela Germinare”, enfatiza.
Após o encerramento do período de inscrição, previsto para o fim de outubro, os responsáveis pela Germinare iniciarão a fase de seleção dos 180 alunos que irão fazer parte da primeira etapa do projeto. Myriam diz que o processo de escolha dos estudantes avaliará principalmente conceitos subjetivos do candidato, como seu comportamento perante os profissionais contratados para avaliar o perfil dos alunos. “Teremos testes de conhecimento também, mas eles terão um peso bem menor no nosso critério de escolha”, afirma a pedagoga. “A ideia é buscar alunos que tenham brilho nos olhos, que demonstrem que são capazes de acompanhar o nosso ritmo de ensino”, esclarece.
Além da Escola Germinare, o Instituto JBS divulgou, também em setembro, a criação da empresa Florestal Brasil, que tem como sócios os fundos de pensão Petros (dos funcionários da Petrobras) e Funcef (da Caixa Econômica Federal), além da MCL Empreendimentos. A companhia de reflorestamento entra no mercado de plantio de árvores com capital de R$ 1,1 bilhão e tem sob responsabilidade uma área de 335 mil hectares em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Família de empreendedores
Em setembro, numa só tacada, a JBS-Friboi anunciou a compra, por US$ 2,8 bilhões, da Pilgrim’s Pride, uma das líderes no mercado de aves nos Estados Unidos, e fusão com o rival Bertin, um negócio avaliado em R$ 5,2 bilhões. Com as novas aquisições, a empresa, que já era considerada a maior produtora mundial de carne bovina, tornou-se líder global em proteína animal – incluindo frango e suíno – e ultrapassou a norte-americana Tyson Foods. Agora, o grupo brasileiro possui, em todo o mundo, uma capacidade de processamento diário de 90,4 mil bovinos, 48,5 mil suínos, 7,2 milhões de aves, além de negócios nas áreas de lácteos, couro e higiene e limpeza.
A atual guinada do grupo brasileiro ganha ainda mais destaque quando se conhece o histórico da companhia, que surgiu timidamente nos anos 1950, como um pequeno açougue em Anápolis, interior de Goiás, aberto por José Batista Sobrinho (o que explica as iniciais “JBS”), o Zé Mineiro – pai de Joesley Mendonça Batista, o presidente-executivo da empresa e um dos maiores responsáveis pela expansão do grupo nas últimas décadas. Grande entusiasta e incentivador do projeto Germinare, Joesley, que não tem diploma de ensino superior e aprendeu a falar inglês há apenas cinco anos, é a personificação do slogan da escola: Planta que vinga é a que ousa romper a semente.
Instituto JBS
www.escolagerminare.org.br
(11) 3623-6000
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