Montevideanos
Mario Benedetti
Tradução de Ercilio Tranjan e Nilce Tranjan
Mundaréu, 268 páginas
Primeiro livro em prosa do autor uruguaio, publicado em 1959, quando ele tinha 39 anos e era um jornalista conhecido e poeta de um livro só. Escritos em linguagem simples e direta, os 19 contos trazem personagens comuns de Montevidéu, à qual chamava de “cidade de todos os ventos”.
TRECHO
“Muitas noites realizara em sonhos o que ia fazer agora: apertar o botão da campainha na velha casa de Millán. Sempre acordava rancoroso, aborrecido consigo mesmo por essa fraqueza do subconsciente (…)”
O autor
Benedetti (1920-2009) é possivelmente o principal escritor uruguaio do século XX, ao lado de Juan Carlos Onetti. Autor de A Trégua e Gracias por el Fuego, lançou cerca de 80 títulos, traduzidos para ao menos 20 idiomas.
Meshugá
Jacques Fux
José Olympio, 196 páginas
Meshugá é o louco judeu, e é dele que trata o livro, um misto de romance, ensaio e biografia. Ao analisar o espírito judaico e suas neuroses, a hipocondria, o humor autoderrisório, as mães invasivas e a genialidade, Fux recorre a personagens como Freud, Woody Allen e Bobby Fisher.
TRECHO
“Fliess, correspondente de Freud, charlatão, médico e louco, fez algumas proposições interessantes. Segundo o otorrinolaringologista, cuja tara era o nariz, havia uma estreita relação entre as vias nasais e a genitália (…)”
O autor
Mineiro, Fux é doutor e pós-doutor em Literatura Comparada. Venceu o Prêmio São Paulo de Literatura, com o romance Antiterapias. Também escreveu um elogiado ensaio sobre literatura e matemática.
Homens Imprudentemente Poéticos
Valter Hugo Mãe
Biblioteca Azul, 192 páginas
Situado numa aldeia ao sopé do Monte Fuji, próximo da chamada Floresta dos Suicidas, no Japão profundo e milenar, o sétimo romance de VHM mostra dois vizinhos que se detestam, um artesão e um oleiro, mas que conseguem relativizar a discórdia quando um deles está prestes a morrer.
TRECHO
“Nos seus pesadelos, Itaro decapitava os inimigos com seu sabre a refulgir no ar. Apartava as cabeças dos corpos, via-as sobrando pelo chão como moedas grandes, em sangue. Um dinheiro que lhe pagava o ânimo do orgulho.”
O autor
Um dos escritores portugueses mais populares no Brasil, VHM, 45 anos, é também poeta, cantor, letrista, artista plástico e editor. Recebeu os prêmios José Saramago, em 2007, e Portugal Telecom, em 2012.
O Marechal de Costas
José Luiz Passos
Alfaguara, 200 páginas
Numa combinação de ficção e história, passado e presente, o autor costura as trajetórias do marechal Floriano Peixoto, segundo presidente brasileiro, e de uma cozinheira que pode ser sua descendente e que acompanha as manifestações de 2013 até o impeachment de Dilma Rousseff.
TRECHO
“Ele se apalpa nos cós das calças e se acha molhado. Olha os pés, vê no chão a penumbra da árvore. Sente que é o senhor das indecisões, sente o intestino lasso. Sente que não pode voltar sem acidentar a farda, sem as piadas dos primos (…)”
O autor
Professor titular de Literaturas Brasileira e Portuguesa na Universidade da
Califórnia, em Los Angeles, Passos venceu o Portugal Telecom em 2013 com seu romance O Sonâmbulo Amador.
Nietzsche
Heinrich Mann
Tradução de Maria Aparecida Barbosa e Werner Heidermann
Três Estrelas, 96 páginas
Ensaio sobre o pensador alemão, escrito em 1939 para a revista Mass und Wert, que era editada na Suíça por Thomas Mann e tinha Walter Benjamin entre seus colaboradores. Síntese da filosofia de Nietzsche, o texto também é um libelo contra a apropriação de sua obra pelo nazismo.
TRECHO
“Seu pensamento quase obtém o sentido de um ato físico de amor, o que pouco lembra a filosofia. Assemelha-se, isso sim, à realização de uma obra de arte – a qualquer custo, seja ela falsa, seja autêntica.”
O autor
Irmão mais velho do famoso Thomas, Heinrich (1871-1950) foi um aguerrido opositor a fascistas e nazistas e também romancista de sucesso: seu O Anjo Azul, de 1905, virou filme com Marlene Dietrich no papel central.
Parque Cultural
Serguei Dovlátov
Tradução de Yulia Mikaelyan
Kalinka, 168 páginas
Novela de 1983 baseada na experiência do autor como guia no local em que vivia o poeta Púchkin, transformado em museu. O escritor fracassado Boris Alikhánov, alter ego de Dovlátov, narra suas desventuras com a esposa, os colegas, a bebida e a KGB, sempre com tiradas espirituosas.
TRECHO
“Enfim, não gosto de contempladores cheios de entusiasmo. E não confio muito em seus enlevos. Acho que o amor por bétulas triunfa à custa do amor pelo ser humano. E se desenvolve como um substituto do patriotismo…”
O autor
Um estilista fabuloso, como o definiu o amigo (e Nobel de Literatura) Joseph Brodsky, Dovlátov (1941-1990) quase não foi publicado na então URSS. Dissidente, foi para os EUA em 1978, onde lançou 12 livros.
Viva!
Patrick Deville
Tradução de Marília Scalzo
Editora 34, 208 páginas
Romance “sem ficção”, cruza várias biografias de artistas, revolucionários e escritores no México dos anos 1930, focando principalmente em Leon Trótsky e Malcolm Lowry (autor de À Sombra do Vulcão). Nos papéis secundários estão Frida Khalo, Diego Rivera, Graham Greene e outros.
TRECHO
“ (…) devolve-se ao proscrito Trótski a pequena pistola automática confiscada no embarque três semanas antes. Aquele que comandou um dos exércitos mais poderosos do mundo guarda num dos bolsos todo o poder de fogo que lhe resta.”
O autor
Formado em Letras e Filosofia, o francês Deville viajou pelo mundo como adido e professor. Parte de um ciclo sobre o destino de utopias em vários países, Viva!, de 2014, é seu 12º romance.
O Labirinto da Saudade
Eduardo Lourenço
Tinta da China Brasil, 240 páginas
Clássico da filosofia ensaística, escrito no período que se seguiu à Revolução dos Cravos e publicado em 1978. O fim da longeva ditadura de Salazar e a consequente esperança numa democracia regeneradora inspiraram esta “Psicanálise mítica do destino português” (subtítulo do livro).
TRECHO
“A mistura fascinante de fanfarronice e humildade, de imprevidência moura e confiança sebastianista, de ‘inconsciência alegre’ e negro presságio, que constitui o
fundo do carácter português,
está ligada a esse acto
sem história (…).”
O autor
Nascido em1923, recebeu inúmeros prêmios, como o Camões, em 1996. Doutor Honoris Causa pelas universidades de Rio de Janeiro, Lisboa, Coimbra e Bolonha, integra o Conselho de Estado português.
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