Os mitos femininos do zodíaco

A divindade mais importante depois do Sol, a Lua, era cultuada como esposa do Sol, ou como sua irmã gêmea. Corresponde a Artemis, na Grécia, ou Diana, em Roma, deusas da castidade e da pureza, mas também da fertilidade. Como deusa da caça, Diana governava os bosques, os animais selvagens, a vegetação, os regatos e as grutas. Era também protetora das mulheres que estavam para dar à luz. No seu templo em Éfeso, uma das sete maravilhas do mundo antigo, a deusa era representada com atributos de exuberante fecundidade, ostentando múltiplos seios, o que lhe valia o nome “Multimama”.

A Lua representa no mapa astrológico a mãe, o princípio feminino, negativo, passivo, Yin. O inconsciente, os sentimentos, a intuição, a imaginação, a capacidade de dedicação e entrega, as emoções, as respostas instintivas, a reflexão, a alma, a família, as massas, a popularidade, a riqueza de sentimentos e de afeição, a memória, o instinto maternal. Mas também as flutuações, a instabilidade, as fantasias exageradas, a insegurança, as manifestações infantis, caprichosas e volúveis e a preguiça.Personificações da Lua seriam a mãe, a esposa, a irmã mais velha, a mulher de modo geral. Mas não é a mãe, em sentido objetivo, que é descrita pela Lua no horóscopo, mas o ponto de vista do indivíduo sobre a mãe. Os sentimentos do indivíduo, suas reações instintivas, seu próprio lado feminino são resultados diretos da forma como se percebe o princípio maternal – esta é a imagem descrita pela Lua no horóscopo.

Nascida das espumas do mar, Vênus era a deusa do amor e da beleza, sendo muito homenageada na Antiguidade. De suas várias ligações com deuses, semideuses, reis e simples mortais teve diversos filhos. O mais famoso dele é Cupido ou Eros, fruto de sua união com o deus Marte. Os gregos distinguiam três Vênus: a Urânia ou celeste, que favorecia as artes, a música e a beleza; a sensual, que inclinava à sedução e à busca dos prazeres; e a mais conservadora, que inspirava o amor casto e puro. As festas celebradas em sua homenagem eram das mais concorridas e, nessas ocasiões, ofertavam-se flores, frutos, perfumes e pequenos presentes.

Vênus dá a capacidade para fazer contato com o meio exterior e com as pessoas, pelo calor e pela intensidade de sentimentos, a busca pela proximidade física, a harmonia e o equilíbrio entre tendências opostas. As qualidades venusianas são simpatia, fidelidade, gentileza, dedicação, cortesia, senso estético, serenidade e senso de harmonia. Mas também a indecisão, a ociosidade, o esbanjamento, a superficialidade, o exibicionismo, a leviandade e a gula. Personificações de Vênus são a esposa, a amante, a atriz, a cantora, a bailarina, o poeta, o galã, a namorada, a corista, a prostituta. Pessoas que lidem com beleza, arte, comidas e bebidas, prazeres e diversões, roupas, flores, perfumes, cosméticos. No mapa astrológico, o poder receptivo e emocional da Lua produz a forma de expressar nossos sentimentos por meio de relacionamentos e da harmonia em Vênus.

Mas existe outro mito feminino, Lilith, que representa o lado instintivo do arquétipo feminino, que tem sido objeto de temor na sociedade patriarcal e que as mulheres e homens de hoje precisam voltar a se relacionar para viverem mais plenamente a expressão do feminino.

Lilith é o irresistível demônio feminino da noite, associada à serpente, ao cão, ao asno e à coruja, cujas origens ocultam-se em um tempo anterior ao próprio tempo. Embora existam muitos mitos acerca de seus primórdios nas mitologias sumeriana, babilônica, assíria, cananeia, hebraica, árabe e teutônica, ela aparece sempre como um força contrária, um fator de equilíbrio, uma contraposição à bondade e à masculinidade de Deus, porém de igual tamanho. Nas escrituras hebraicas, podemos encontrá-la como uma mulher feita de pó negro e excrementos, portanto, condenada a ser inferior ao homem. Ela foi a primeira mulher de Adão, feita em igualdade de condições com o primeiro homem e expulsa do Paraíso por tentar fazer valer essa igualdade. Lilith é um aspecto instintivo e terreno do feminino, a personificação vivificante dos desejos sexuais. Essa natureza satânica é, por assim dizer, uma advertência do que a cultura rabínica e patriarcal nos faz com relação àquela que perturbou o sono de Adão: Lilith, feita de sangue (menstruação) e saliva (desejo) é expressão de fatalidade, pois a igualdade entre os sexos e o respeito pela plena expressão do feminino tornam-se uma ameaça.

O mito de Lilith foi excluído da versão bíblica da Igreja e a explicação parece estar no fato de as forças da sexualidade, do nascimento, da magia da vida, do reger do ciclo de vida e da morte serem em princípio governadas pela deusa. Com o advento do patriarcado, o poder de vida e morte passou a ser exercido pelo deus masculino, enquanto a sexualidade e a magia foram separadas da procriação e da maternidade. Neste sentido, Deus é Uno, mas a Deusa tornou-se duas.

No fundo, Lilith já fora criada como um demônio, tendo gerado, juntamente com Adão, outros seres iguais a ela, que se vingam contra a humanidade. Destinada a ser a mãe de todos os que vivem e saída da costela de Adão, Eva não era tão poderosa ou primordial quanto Lilith. Encarnando o feminino negativo, Lilith é personificada pela bruxa, na Idade Média, contra a qual o homem moveu uma das mais sangrentas perseguições de toda a sua história. Dizem que ela significa a outra ou o outro num triângulo amoroso.

Lilith, no mapa astrológico, representa nosso lado de frustração, o ponto fraco, mas também é o nosso ponto de mutação, de transformação. Enquanto homens e mulheres continuarem reprimindo a liberdade e a igualdade entre os sexos, ela se manifestará como personificação dos aspectos negligenciados e rejeitados da grande deusa.


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