Assim como é difícil falar mal do papa Francisco, não é fácil falar bem do cardeal Bergoglio.
No Brasil – em sua primeira viagem internacional como papa e substituto de Ratzinger, aquele que renunciou –, Francisco reverteu as mal-humoradas expectativas e conquistou gregos, troianos, brasileiros e argentinos.
Jornalistas portenhos do jornal Página 12 que aqui estiveram, classificaram o evento da Jornada Mundial da Juventude como “papamania” e o seu compatriota, nascido no bairro de Flores, em Buenos Aires, como “a estrela de um megaevento”.
Como membro do braço jesuíta da Igreja Católica, o Papa está cumprindo o que dele se espera na Igreja e em um terreno onde a Companhia de Jesus tem séculos de experiência. Fundada por Inacio de Loyola, ela foi criada para barrar o avanço da Reforma Protestante de Lutero, no século 16, que se rebelou, entre outras coisas, contra o excesso de luxo e de dogmas. Plus ça change…
E não por nada, em seu primeiro dia no Rio de Janeiro, o papa Francisco bateu forte no excesso de riqueza, dinheiro e poder. E, nos dias que se seguiram, falou com tranquilidade e consistência sobre alguns tabus que assombram o Vaticano, como pedofilia, homossexualismo, corrupção.
Os jesuítas foram os grandes guerreiros da Igreja. Eles lutaram, ocuparam, conquistaram. E para isso usaram de todas as armas de convencimento. Por aqui, em sua estreia internacional, o papa Francisco acrescentou carisma a este arsenal. Muito carisma.
Já como cardeal, o papa Francisco não tem do que se orgulhar. Durante a vergonhosa ditadura que matou 30 mil argentinos e promoveu uma diáspora que até hoje compromete o país onde foi feita a foto desta página, ele não demonstrou a coragem necessária para proteger das feras o seu rebanho. Como fez, por exemplo, o bispo Oscar Romero, morto pela ditadura em El Salvador quando celebrava uma missa e cujo retrato, coincidentemente, estava pintado em um muro da favela visitada por Sua Santidade no Rio de Janeiro. Também por coincidência, triste coincidência, enquanto o papa Francisco fazia sucesso no Rio, morria em Buenos Aires, no dia 25 de julho, León Ferrari, um dos maiores artistas argentinos, ganhador do Leão de Ouro, prêmio máximo da Bienal de Veneza, que teve um filho morto pelos militares, exilou-se no Brasil e, mais tarde, foi perseguido pelo cardeal Bergoglio. Uma exposição de Ferrari foi por ele taxada de blasfema. O cardeal disse que aquilo envergonhava Buenos Aires e ela, então, foi fechada depois de ter suas obras depredadas.
O papa Francisco tem o carisma de um Luiz Inácio Lula da Silva, mas ao cardeal Bergoglio faltou a coragem de um dom Paulo Evaristo Arns. Dom Paulo, em nenhum momento parou de lutar contra a tortura e os assassinatos promovidos pelos militares durante a ditadura brasileira.
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